I Marcha da Maconha de Rio das Ostras reúne mil manifestantes contra o preconceito, a corrupção e a criminalização da pobreza

A I Marcha da Maconha na cidade de Rio das Ostras ocorreu no último dia 25 de junho de 2011, em meio ao Festival de Jazz e Blues, em Rio das Ostras. Aproveitando o momento do festival que atrai para a cidade milhares de turistas de todo o país, os ativistas antiproibicionistas realizaram um ato descontraído e pacífico com o objetivo de pautar o debate da legalização da maconha no Brasil.

Sendo organizada desde meados de 2010, a Marcha da Maconha é uma construção horizontal que reúne jovens, estudantes e trabalhadores de Rio das Ostras e arredores que enxergam que a proibição e a política de guerra às drogas, estabelecida para o mundo a partir da Casa Branca, no Governo Nixon e seguida pelos países pertencentes à ONU, não resultou em nenhum benefício para a sociedade. Ao contrário, após mais de 30 anos da guerra às drogas, o consumo, o tráfico, a violência e os riscos à saúde dos usuários de drogas só aumentaram.

Com a bandeira de denúncia contra o preconceito, a corrupção e a criminalização da pobreza, a Marcha da Maconha de Rio das Ostras, a menor entre as cerca de 20 cidades brasileiras a realizar a marcha nesse ano, levou seus participantes com seus cartazes de protesto da Lagoa de Iriri à Orla de Costazul ao som do bloco carnavalesco Planta na Mente.

O preconceito que a Marcha da Maconha de Rio das Ostras denuncia é aquele deferido aos usuários do cânhamo, uma erva que existe há milhares de anos e que é proibida há menos de um século. Sua proibição tem origem no Brasil na década de 20 no preconceito contra os negros e nos EUA contra os mexicanos imigrantes ilegais. Para os sanitaristas brasileiros, do início do século XX, como o Dr. Pernambuco, a maconha causava retardo mental, pois os negros eram seus preferenciais usuários e por isso seriam retardados. Esse preconceito hoje se mantém e se eleva à condição de criminalização da pobreza. Se de um lado, usuários de maconha são visto pela sociedade como pessoas incapazes intelectualmente, o que não corresponde à realidade haja vista o número de intelectuais e personalidades que já declararam serem usuárias, por outro é o que mais leva hoje à prisão jovens negros pobres. A maior parte dos traficantes presos no Estado do Rio foi preso traficando maconha, sem portar armas e sem estar envolvidos em crimes violentos. Há ainda os inúmeros casos de achaques policiais contra usuários, o que demonstra que a preocupação de muitos agentes não é combater o crime, mas lucrar com ele. Outros tantos casos de policiais que plantam drogas em pertences de pobres e negros para assim criminalizá-los ou no mínimo extorquí-los. Há ainda os casos de usuários pobres e negros presos com pouca quantidade de maconha, mas que são enquadrados como traficantes por um sistema policial e judiciário racista e corrupto, que joga jovens que não tiveram muita oportunidade na vida, massacrados pela desigualdade do sistema político e econômico (do capital) em que vivemos, nas fábricas de monstrificação humana, as cadeias brasileiras.

Outro preconceito a ser denunciado, de cunho moral, é o senso comum de uma sociedade que aceita e até incentiva um largo consumo, produção e comércio de álcool, açucares e medicamentos, mas que condena o uso recreativo de maconha. Em 2009, cientistas britânicos classificaram a maconha como uma droga menos nociva que o cigarro e o álcool, o que levou à demissão desses conselheiros científicos que trabalhavam para o governo britânico, mais uma mostra de que a proibição tem motivações políticas e não científicas.

Milhões dos cofres públicos estão sendo torrados numa guerra civil insana, que só interessa àqueles que querem desculpas prá massacrar os pobres e a juventude. Legalização pressupõe controle do Estado, controle é tudo o que o Estado não tem hoje sobre a produção, circulação e consumo de maconha e outras drogas. Controle sanitário, controle fiscal. O Estado pode determinar normas sanitárias de modo a preservar a saúde dos usuários, pode também usar os impostos arrecadados na prevenção, na informação, no tratamento, recuperação e na redução de danos aos usuários. E acabar com 80% do volume do tráfico de drogas sem dar um único tiro, sem encher mais as prisões, sem corromper mais seus policiais.

É esse debate, que certamente guarda muitos outros elementos que não se esgotam nesse texto, que o coletivo organizador da Marcha da Maconha de Rio das Ostras pretende levar à população da cidade e arredores. O sucesso da Marcha de Rio das Ostras foi tão grande que grupos de Búzios, Campos e Araruama já contatam o coletivo riostrense para ajudar a construir o movimento também nesses locais. O próximo passo do movimento em nível nacional é a realização de um Encontro de todas as Marchas da Maconha do Brasil no segundo semestre. Em nível local, vamos agora tentar levar o debate para as escolas, as comunidades, envolver cada vez mais especialistas, desmistificar, derrubar tabus, acabar com as cortinas de fumaça que envolvem o tema e que são muito mais nocivas à sociedade que qualquer marola cannábica.

 

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