Unicamp: a luta por permanência
A política de permanência estudantil na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) passa hoje por um profundo debate. A necessidade de desenvolver políticas efetivas que proporcionem condições básicas para o andamento das atividades acadêmicas sempre foi pauta importante de nosso movimento. Parece, pois, que neste ano ela assumiu relevo.
No último dia 03 de março, após entrada da polícia dentro do PME (Programa de Moradia Estudantil) para cumprimento de reintegração de posse de um estudante que já não era “morador oficial” os estudantes decidiram ocupar o espaço da Administração do PME.
Nesta ocupação os estudantes refinaram as reivindicações históricas por permanência estudantil para os estudantes mais pobres e montaram um centro de debate político, agitação e propaganda.
A moradia estudantil da Unicamp é fruto de uma ocupação realizada no chamado “Ciclo Básico” da Universidade em 1987. A Reitoria de então se comprometeu a construir as 1,5 mil vagas (o que correspondia a 10% do contingente de estudantes da universidade) até o final de 1989.
Contudo, passados 24 anos do acordo, a promessa não foi cumprida, delegando aos estudantes uma moradia estudantil lotada com cerca de 950 vagas oficiais. Naquele tempo eram cerca de 15 mil estudantes em nossa universidade; hoje são mais de 33,6 mil, por isso o movimento hoje exige um aumento de vagas da moradia para cerca de 3,3 mil.
Junto a isso, há também a exigência da saída do coordenador executivo da Administração da Moradia, Luiz Antônio Viotto, que há muito não respeita os espaços de deliberação democrática do conselho deliberativo e também a garantia da não entrada da força policial no campus da Unicamp.
Na ocupação feita pela ação dos estudantes – esta que durou mais de 20 dias – foram feitos debates, panfletagens e aguda resistência frente à política intransigente da reitoria em não negociar as pautas dos estudantes. Além disso, no último dia 25/03, pela terceira vez em menos de um ano, tivemos a Polícia Militar, com a permissão da reitoria da Unicamp, reprimindo a reivindicação mais do que básica para a vida estudantil: o direito mínimo e democrático de permanecer na universidade.
Política estudantil e repressão
Tal fato acabou com a ocupação, reintegrou posse do espaço e imediatamente impôs ao movimento uma nova conjuntura de luta política: a repressão institucional realizada por meio dos chamados “processos internos”, que são comuns como formas de combate contra os estudantes e trabalhadores que lutam por uma universidade pública e de qualidade e que atenda aos interesses dos trabalhadores e do povo pobre.
Em nenhum momento houve disposição clara de negociação. Nesta gestão, o diálogo para com os interesses dos estudantes é marcado pela militarização do debate político, transformando-o em espaço de tensão, repressão e, portanto, ausência de democracia.
Foram convocados 5 estudantes para o chamado “processo administrativo interno” – no fundo um prelúdio ao processo de sindicância interna – que, sabemos nós, é uma forma de intimidação e punição ao movimento.
Tal repressão também lança seus tentáculos contra 9 trabalhadores que, ano passado, participaram ativamente do processo de greve e que correm o risco real de serem presos!
Construir a unidade na luta
A presente luta dos estudantes e trabalhadores possui três elementos fundamentais: a luta pela permanência estudantil, a isonomia salarial e o combate contra a repressão institucional contra os lutadores que encampam tais pautas. É preciso refletir politicamente sobre estas três condições.
Em primeiro lugar devemos ter em mente que estas questões estão profundamente ligadas por um modelo comum de ensino superior, a saber, aquele voltado aos interesses das elites burguesas. Isto significa que o gasto de dinheiro público com permanência estudantil e o bem estar do funcionalismo público não atende aos interesses das elites e por isso não é prioridade.
Por isso, nós da LSR (Liberdade, Socialismo e Revolução) do PSOL reivindicamos ampla unidade entre os setores de esquerda de nossa universidade em prol de uma luta conjunta realizada por trabalhadores e estudantes para barrar estes processos internos e avançar na luta por condições dignas de permanência estudantil e de trabalho. É preciso agudo esforço dos ativistas que se opõem a esta política repressiva contra nosso movimento.