Entrevista com Guilherme Boulos do MTST: “2011 será um ano de luta pela reforma urbana”

O Ofensiva Socialista (OS) entrevista o companheiro Guilherme Boulos, da coordenação nacional do MTST, membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas e um dos principais impulsionadores da Resistência Urbana, frente que reúne movimentos sociais e populares de todas as regiões do país.

OS: Já se tornou tradição a organização das “jornadas de lutas dos movimentos populares” da qual o MTST participa. Neste ano qual será o tema da jornada e em quantos estados ocorrerão manifestações?

GB: O mote principal da mobilização dos movimentos urbanos nos próximos anos será os despejos relacionados às obras da Copa, Olimpíadas e do PAC. O cenário é catastrófico, são centenas de milhares de famílias que poderão ser despejadas nos grandes centros urbanos do país. Muitas sem qualquer alternativa de moradia, outras sendo jogadas nas periferias mais distantes. Além disso, a preparação para os eventos esportivos vem acompanhada, como foi na Copa da África, por exemplo, de uma brutal criminalização da pobreza e das lutas sociais, com tribunais especiais, leis de exceção e extermínio policial. Estes provavelmente serão os eixos das próximas mobilizações nacionais dos movimentos.

OS: Quais as perspectivas de conquistas com o governo de Dilma Rousseff?

GB: O governo Dilma começou com um recado claro aos movimentos que lutam por moradia e aos trabalhadores sem-teto. Do ajuste fiscal de 2011, o maior corte foi das verbas do programa MCMV (Minha Casa, Minha Vida). Sabemos dos limites estruturais deste programa, que foi formulado para o capital imobiliário e não prioriza as famílias que mais precisam – a faixa de renda até 3 salários mínimos tem somente 25% do total de recursos. Mas o MCMV se tornou a única política habitacional do Governo Federal e este corte representa praticamente a anulação do programa neste ano. Isto reforça para nós a necessidade de novas ocupações de terra, como forma de dar resposta à demanda dos trabalhadores sem-teto. Esperamos poder, com ocupações e lutas, pressionar o governo Dilma para atender a esta demanda.

OS: Em maio acontecerá o Encontro Nacional da Resistência Urbana, quais serão os temas e objetivos do encontro?

GB: Será o I Encontro Nacional da Resistência Urbana, em Brasília, de 6 a 8 de maio. Reuniremos 150 dirigentes de movimentos urbanos com atuação em 13 estados do país. O objetivo principal do Encontro será fortalecer a Resistência Urbana como ferramenta de mobilização e organização dos trabalhadores urbanos brasileiros, numa perspectiva combativa e socialista. Debateremos principalmente os avanços organizativos necessários a uma maior consolidação da Frente, que é algo imprescindível para enfrentar os desafios da conjuntura.

OS: A Resistência Urbana está organizada em quantos estados e quais movimentos sociais e populares que a compõem?

GB: A Resistência Urbana envolve movimentos com características diversas e com diferentes pautas de mobilização. Estamos presentes em todas as 5 regiões do país. Os movimentos que tem construído a Frente são: MCP (Ceará), Quilombo Urbano (Maranhão), Movimento das Famílias Sem-teto (Pernambuco), MLP (Pará), Terra Livre, Brigadas Populares (Minas Gerais), MSTB (Bahia), MUST (São Paulo), Círculo Palmarino (uma organização popular ligada ao PSOL no Paraná) e o MTST (que está em SP, RJ, MG, DF, AM, PA, RR e PE). 

OS: O MTST participou ativamente do processo de construção da CSP-Conlutas, como é feito este debate no interior da Resistência Urbana sobre participar ou não da CSP-Conlutas.

GB: O MTST hoje compõe a CSP-Conlutas, participando de todas as instâncias desta central, por avaliarmos que é uma organização que representa um importante setor combativo do movimento sindical brasileiro e por ter uma proposta nova de unificar no mesmo espaço de debate e ação movimento popular e sindical. No entanto, não é a central unitária do conjunto da esquerda sindical e popular que gostaríamos. No caso da Resistência Urbana, a opção é de não participar da CSP-Conlutas, nem de qualquer central enquanto organização. Cada movimento que compõe a Frente naturalmente pode definir suas alianças. Há companheiros na Resistência Urbana que tem proximidade maior com a Intersindical, outros com a CSP-Conlutas e ainda outros que não tem identidades maiores nem com uma nem com outra. Isto é expressão do caráter amplo e diversificado da Frente e o MTST avalia que deve ser assim.

OS: Quais são as perspectivas do MTST para o ano de 2011?

GB: Faremos também em maio o Encontro Nacional do MTST, onde pretenderemos unificar de modo mais consistente nossa intervenção nos estados onde temos atuação. Mas desde já é certo que jogaremos peso numa jornada nacional contra os despejos. Além disso deveremos fazer ocupações em pelo menos 6 estados ao longo do ano, fortalecendo a luta por moradia e não ficando na defensiva diante dos desmandos do capital imobiliário brasileiro. Será um ano de muitas lutas.