Acampamento Chico Mendes: 1.300 famílias ocupam terreno em Taboão da Serra
No dia 30/09, cerca de 1.300 famílias, 4.800 pessoas, organizadas pelo MTST (Movimento Trabalhadores dos Sem Teto) ocuparam um terreno abandonado em Taboão da Serra.
A área localizada no Jardim Helena possui 80.000 m2 e pertence a uma cooperativa – Paulicoop – que faliu há mais de 12 anos, e possui uma dívida em impostos municipais que chega a R$ 500.000. Vale ressaltar que muitas famílias que estão acampadas faziam parte dessa cooperativa e perderam todo o seu dinheiro investido na obra.
Logo após a ocupação, o proprietário pediu reintegração de posse, e a juíza rapidamente acatou o pedido. O Movimento organizou inúmeras manifestações, entre elas, uma ocupação da Câmara Municipal, vigília em frente à Prefeitura da cidade e também entrou com recurso na Justiça para garantir a permanência na terra e abertura de negociações. A pressão do Movimento e a solidariedade de sindicatos, moradores, movimentos sociais, pressionaram para que houvesse uma prorrogação para desocupar a terra por mais 40 dias, até 1 de dezembro.
Foram feitas várias tentativas de negociação com o governo local, porém, nada avançava, foi quando decidiram acampar em frente à Prefeitura. A Prefeitura entrou na justiça com um Interdito Proibitório para que os Sem Teto desocupassem as ruas e calçadas próximas à prefeitura, numa medida totalmente antidemocrática, que mostra bem o caráter do prefeito Evilásio Farias (PSB).
Além disso, realizaram várias marchas, como por exemplo, ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual de São Paulo, onde foram recebidos. Porém, pela interferência do PT (Partido dos Trabalhadores) na figura de sua vice-prefeita, as negociações não avançaram. O mesmo aconteceu com os pareceres favoráveis do Ministério das Cidades que afirmou que só há dinheiro para indenização da área se houver acordo entre a Prefeitura e Estado.
Recentemente os Sem Teto obtiveram uma grande vitória ao conseguirem que a Câmara Municipal de Taboão da Serra, sob intensa pressão, aprovasse por unanimidade um requerimento para que a área ocupada seja transformada em ZEIS (Zona Especial de Interesse Social), e esse mesmo requerimento foi encaminhado ao Prefeito para análise junto ao Plano Diretor do município.
Com essa real possibilidade de negociação, conseguida na marra, o MTST vai entrar com outro recurso na tentativa de ampliar esse prazo já concedido.
É imprescindível para que o Movimento saia vitorioso nesta luta o apoio de sindicatos, partidos de esquerda, entidades estudantis, movimentos sociais.
Guilherme, Juarez e Helena, ativistas do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), falaram com o Socialismo Revolucionário sobre o acampamento Chico Mendes em Taboão da Serra.
A ocupação sofreu várias acusações, como por exemplo, de as famílias não serem de Taboão da Serra, que o movimento é patrocinado por políticos, que as crianças são usadas para fins escusos, entre outras, qual a versão de vocês?
– Na realidade foram recolhidos 1270 títulos de eleitor da cidade entre os acampados. Mesmo assim, não podemos restringir a luta dos trabalhadores, pois esta não tem fronteiras. Sobre o Movimento ser patrocinado por partidos políticos, também não é verdade, o MTST é autônomo, porém todos aqueles que desejam apoiar a luta, sem interesses particulares, serão bem vindos. Em relação às crianças, o Conselho Tutelar constatou, em visita ao acampamento, toda a preocupação da comunidade em garantir o bem-estar delas, como por exemplo, o acompanhamento pedagógico, atividades e clube de mães.
Quais as principais dificuldades enfrentadas?
– Na questão estrutural, há falta de remédios, alimentação, atendimento médico, saneamento e barracos de lona, que com as constantes chuvas ficam totalmente danificados. No âmbito político, há dificuldades na tentativa de uma solução negociada devido à intransigência do poder público, e também na real situação de despejo.
Quando surgiu o MTST?
– Em 1997, na Marcha Nacional do MST, observou-se a necessidade de liberar militantes comprometidos com a transformação da sociedade para criar um movimento urbano. Nossos objetivos são conquista de moradias, projeto de assentamento com área social, planejamento e reforma urbana.
Qual posicionamento em relação aos governos Alckmin e Lula?
– Somos contra. Nenhum deles possuem políticas sociais e principalmente em relação a projetos habitacionais que solucionem os problemas enfrentados pela classe trabalhadora.
Que avaliação o Movimento faz sobre o apoio do SR e do PSOL?
– Fundamental. Em relação ao SR, agradecemos o apoio de todos os militantes, as cartas enviadas pelos companheiros internacionalmente [vários parlamentares do CIO mandaram cartas para os órgãos públicos e para o MTST], que foram de extrema importância, tanto no âmbito político, mas também serviu de estímulo aos acampados, já que todo esse processo causa extremo desgaste.
– Já o PSOL, é o único partido que realmente vem apoiando a ocupação, tanto com a solidariedade dos parlamentares, e além disso, com o espaço cedido a nós para intervenções pelos militantes.