É preciso responder à altura!
Poucos dias depois da grande demonstração de força dos movimentos sociais e da esquerda em janeiro, durante a quinta edição do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, uma avalanche de reação parece ter desabado sobre aqueles que lutam pela democracia e pelos direitos dos oprimidos e explorados.
O mês de fevereiro foi marcado pelos assassinatos de lideranças rurais sem-terra, entre eles, da missionária Dorothy Stang, mas também do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho, além do terrível massacre na ocupação ‘Sonho Real’ em Goiânia.
Se somarmos isso ao avanço na aplicação das políticas neoliberais refletido na reforma universitária de Lula e Tarso Genro, na proposta de reforma sindical enviada ao Congresso, no anúncio de novos cortes no orçamento e na perspectiva de renovação do acordo com o FMI, então, aparentemente, fecha-se um cerco reacionário sobre todos nós que lutamos exatamente pelo oposto a tudo isso.
O que vai predominar em 2005, os avanços de janeiro ou o retrocesso de fevereiro? A resposta a essa pergunta só poderá ser dada pelos movimentos sociais organizados e a esquerda socialista que luta para construir uma alternativa para o país.
O potencial da resistência refletido no Fórum
Durante o Fórum quase 200 mil ativistas tomaram as ruas, participaram de reuniões, conferências e debateram alternativas ao modelo neoliberal falido. A marca do Fórum foi o crescimento do sentimento e das iniciativas de oposição ao próprio governo Lula, o mesmo que foi a estrela do evento anterior realizado em Porto Alegre logo após a posse.
Lula foi criticado, denunciado e até vaiado – em diferentes graus e níveis de intensidade – por milhares e milhares de jovens, trabalhadores, camponeses, indígenas, mulheres, homossexuais, negros e outros setores que ainda sofrem com a política neoliberal adotada pelo governo do PT.
A maioria das entidades que assumem posições de direção no Fórum continuou com sua postura moderada e, em boa parte, conivente com o governo. Porém, o ambiente entre os ativistas presentes em Porto Alegre era outro, muito mais crítico.
O período do Fórum também foi marcado pelo anúncio da dissidência ou da ruptura em relação ao PT por gente de peso. Também o Encontro Nacional do P-SOL reunindo mais de 1,5 mil militantes, mostrou que há espaço para uma alternativa de esquerda.
A própria presença do presidente Hugo Chávez da Venezuela, fazendo referências ao socialismo e à luta anti-imperialista, acabou sendo uma referência alternativa ao social-liberalismo de Lula. Isso, apesar de Chávez também se esforçar para preservar a imagem de Lula como aliado progressista (é verdade que ao lado de gente como Putin, Gadafi ou o regime iraniano!).
Lula está junto com a direita
O governo Lula e o PT tentam utilizar a “onda reacionária” de fevereiro, acrescentando outros fatos como a vitória de Severino Cavalcanti na eleição para presidente da Câmara Federal, para chantagear os trabalhadores mais conscientes e críticos: “se não for o PT, volta a direita, vocês estão vendo”. Esta é a mensagem que tentam passar e infelizmente encontram eco em declarações de dirigentes do MST e outros movimentos sociais.
A eleição de direitistas corruptos como Severino Cavalcanti na presidência da Câmara e Renan Calheiros no Senado é resultado direto do tipo de política adotada pelo governo Lula. O ‘toma lá dá cá’ tradicionalmente adotado pelos políticos burgueses corruptos foi aprofundado com o governo Lula. Até mesmo o candidato oficial do PT na Câmara, Luis Eduardo Greenhalgh, jogou no lixo todo escrúpulo e chafurdou na mesma lama das negociatas e acordos espúrios. Mas, no caso da Câmara, o tiro saiu pela culatra e o governo Lula acabou amargando uma vergonhosa derrota.
O governo Lula e o PT não são verdadeiras alternativas à direita no Brasil. Sua política neoliberal é a política da direita. Sua base de sustentação no Congresso continua se baseando em notórios partidos de direita como o PL, PTB, PP e PMDB. Outros tradicionais representantes das elites e do conservadorismo estão presentes diretamente no primeiro escalão do governo. A reforma ministerial planejada só vai fortalecer ainda mais a ala mais conservadora do governo.
Dos poucos considerados mais progressistas que estavam presentes no governo, uma parte já pulou fora, como o ex-presidente do BNDES Carlos Lessa. Outros ficam, porém. Adaptaram-se e abaixaram a cabeça em reverência à equipe econômica neoliberal.
Esse governo, portanto, é hegemonicamente marcado pelas políticas e por políticos conservadores. A disputa com o PSDB e PFL não é uma disputa de projetos alternativos.
Trata-se da disputa entre duas alas que tentam mostrar-se as mais eficientes na aplicação do mesmo projeto neoliberal. Representam a mesma classe e os mesmos interesses. E, com certeza, não são os nossos.
Organizar e unir as lutas
Apesar do governismo infestar a CUT, a UNE e outras entidades e movimentos sociais, os trabalhadores e a juventude deram claras demonstrações de sua disposição de luta. A avassaladora vaia recebida por Luis Marinho no estádio do Gigantinho em Porto Alegre durante o Fórum Social Mundial, mostra que o poder de freio às lutas da direção da CUT não é absoluto.
A tarefa dos movimentos sociais combativos e de todos os ativistas das lutas sindicais, estudantis, populares e de esquerda é organizar a resistência à truculência das elites e aos ataques deste governo. É preciso organizar uma grande campanha nacional pela punição dos assassinos de ativistas no Pará, Goiânia e Rio de Janeiro. Essa luta deve também denunciar a omissão do governo Lula e sua participação ativa no agravamento dos problemas sociais do país.
As campanhas salariais, as novas ocupações de terra, o combate às contra-reformas neoliberais nas universidades e na legislação sindical e trabalhista devem ser parte de um amplo movimento que unifique os trabalhadores da cidade e do campo, a juventude e todos os oprimidos numa grande luta por nossos direitos e por uma alternativa de esquerda para o país.