Sobre os Black Bloc no Rio e a nova geração que entra na luta

É preciso tirar lições das lutas de junho: por um movimento amplo, democrático e unitário!

As grandes manifestações que vimos em junho, quando dois milhões de pessoas foram para as ruas denunciar a farsa do “Brasil grande”, foram o ponto alto de um processo de reorganização e retomado das lutas. Mas ainda é só o começo.

No último período, mesmo antes de junho, novos movimentos haviam surgido, como as diversas marchas (vadias, liberdade e da maconha), os black bloc, grupos performáticos e culturais, os fóruns de luta, assembleias populares, etc.

Todos são expressão da profunda insatisfação do povo e da juventude com as desigualdades do sistema capitalista. Mas, também refletem a dificuldade da esquerda organizada em construir alternativas amplas e unificadas de luta. Temos que tirar lições dessas novas formas de luta para avançarmos na luta anticapitalista.

Vivemos anos de ofensiva neoliberal, que por um lado privatizava e atacava nossos direitos e por outro impunha o capitalismo e as saídas individuais como as únicas formas possíveis de organização social e política. Com as jornadas de junho tivemos uma inflexão na luta de classes, pois depois de anos as lutas coletivas obtiveram conquistas e retomaram a possibilidade concreta de se construir espaços amplos de organização da juventude e dos trabalhadores.

A maré está virando!

Após a queda do muro de Berlim a esquerda foi desconstruída como uma alternativa para a maior parte da população. Em sua maioria os líderes populares foram cooptados pela institucionalidade. As organizações de esquerda se fragmentaram e na ausência de lutas de massas se lançaram em uma busca pela própria sobrevivência e autoconstrução.

Essa realidade já estava se modificando em escala internacional há algum tempo, com o desgaste do neoliberalismo, a profunda crise capitalista e as novas ondas de lutas. Vimos nos últimos anos explosões de movimentos de juventude pelo mundo, muitos deles reivindicando-se apartidários, como os “indignados” na Espanha, “occupy” (nos EUA), aglutinando muitos jovens que a esquerda organizada não conseguiu aglutinar.

Era uma questão de tempo até os efeitos da crise econômica e social, junto com o desgaste do lulismo, provocar explosões também no Brasil. Mas, da mesma maneira que vimos em outros países, devido à traição da velha esquerda representada pelo PT, CUT, UNE, esses novos movimentos passaram por fora das antigas estruturas de luta.

O caráter espontâneo e explosivo das lutas em que esses novos movimentos se inserem contribuem muito para mobilizar uma nova camada de jovens lutadores. Reconhecendo isso, precisamos sempre avaliar quais métodos ajudam a avançar na construção de um movimento mais amplo, e quais podem levar a um beco sem saída.

Organização democrática e coletiva

Os black blocs, por exemplo, apesar de não reivindicarem ser um movimento político, mas um método de atuação, tem aglutinado muitos jovens que não vislumbram outras alternativas de atuação e mudança social. Os black blocs atuam em primeiro lugar com o objetivo de denunciar o sistema atacando os seus símbolos, como temos visto em São Paulo e no Rio onde muitas agências bancárias e estabelecimentos comerciais são atacados.

Em um dos primeiros atos na casa do Cabral, quando a defesa do “Fora Cabral” ganhou maior repercussão, os jovens autonomistas e os que atuaram como black bloc construíram várias barricadas no início e no fim das ruas do entorno, impedindo que o caveirão e o carro de jato de água da polícia alcançassem os manifestantes. Isso enquanto cantavam: “não adianta me reprimir, esse governo vai cair”. Por isso ganharam muita simpatia do conjunto dos manifestantes.

Ações de autodefesa como as citadas acima são fundamentais para garantir a segurança do movimento, mas precisam ser construídas coletivamente. Mas, outros tipos de ações isoladas, como quebra-quebra e bombas caseiras, táticas adotadas pelos black blocs, podem deslegitimar os espaços coletivos de decisão, facilitando a ação de provocadores e de policiais infiltrados e colocando em risco os próprios manifestantes. A ausência de um programa claro anticapitalista e socialista é outra crítica que fazemos a estes companheiros.

Defendemos que a atuação coletiva, com deliberações acumuladas de forma radicalmente democrática nos espaços legítimos para isso, como Fóruns de luta, assembleias, movimentos, são mais eficazes, por ter um plano de ação e um objetivo mais amplo.

Ocupações como instrumento de denúncia

As várias ocupações de Câmaras que estão ocorrendo no momento são puxadas em sua maioria por autonomistas. A ocupação da Câmara do Rio de Janeiro que reivindica uma CPI dos transportes que não seja chapa branca, e da Câmara de Niterói, exigindo CPI dos Desabrigados vítimas dos desmoronamentos do morro do bumba, jogam um papel importante para criar repercussão pública sobre essas lutas.

Essas ações são importantes para denunciar as falcatruas do Estado e pautar nossas bandeiras de luta. Elas cumprem um papel, mas temos que ter claro que é o povo na rua que vai trazer transformações profundas e, por isso, as ocupações tem que dialogar com os movimentos mais amplos.

Fóruns democráticos de base

Uma das grandes vitórias desta explosão de lutas foi a construção de espaços amplos e democráticos de organização dos atos de forma coletiva, como as Assembleias Populares e o Fórum de lutas unificado.

O Fórum do Rio tem obtido muitos avanços, pois construiu comissões que sintetizam as experiências organizativas que tivemos desde junho, como a comissão de organização, mas também a de comunicação e segurança. Os núcleos de base permitem descentralizar as discussões e que mais pessoas possam participar ativamente na elaboração de propostas para serem encaminhadas para a assembleia geral, aonde ocorrem as trocas e as deliberações coletivas.

Precisamos construir uma unidade maior entre os lutadores e lutadoras de junho, construir um Encontro nacional dos movimentos de junho, para preparar um plano nacional de lutas que nos fortaleça para construirmos novas mobilizações unificadas que voltarão a ser explosivas durante a Copa do Mundo!

Unidade da esquerda – por um movimento de massas, democrático e classista!

Existe uma nova camada de lideranças, na maioria de jovens, que não viveram grandes lutas coletivas e estão criando agora suas formas de organização. Esses novos movimentos mostram que a luta coletiva nas ruas é possível, mas muitas vezes acabam não apontando um caminho para além disso, adotando métodos espontaneístas, sem um planejamento coletivo e sem uma tática e estratégia de poder. Por isso a tendência é que após um “boom” de crescimento, esses movimentos declinem e desapareçam.

O papel da esquerda revolucionaria organizada é, juntamente com esta juventude, aprender com os erros e resgatar os acertos históricos da classe trabalhadora. Temos que saber disputar os rumos destes movimentos, atos, ocupações através de um debate fraterno, ao mesmo tempo que construirmos uma direção conjunta, visando a derrubada deste sistema perverso.

Posturas sectárias em nada contribuem, assim como posturas acríticas não possibilitam uma nova síntese. Todos os grupos, inclusive os da esquerda organizada são passíveis de erro, porém diminuímos estas chances estudando as experiências históricas e internacionais. Todos saem enriquecidos de um debate democrático e fraterno.

Mais do que nunca precisamos reorganizar a esquerda revolucionaria, colocar os objetivos da luta de classes acima da autoconstrução dos grupos políticos. É hora de a esquerda vencer as diferenças e se lançar na construção de espaços amplos, encontros e movimentos que unifiquem toda a esquerda e essa nova juventude combativa, ombro a ombro. Vamos disputar os rumos deste movimento unidos e fortes, ou correr o risco de perder essa nova geração que entra em luta?

Unir as pautas da juventude e dos trabalhadores!

É fundamental juntar as lutas da juventude com as lutas dos trabalhadores para fortalecer ainda mais as nossas lutas. São os métodos da classe trabalhadora organizada, como as greves e piquetes, que irão atacar o coração do sistema: a produção e circulação de mercadorias, a fonte de riqueza do capital.

As bandeiras da juventude e das jornadas de junho são as mesmas da classe trabalhadora e de lutas que envolveram os trabalhadores organizados em julho. Exigimos qualidade de vida, aumento de salário e melhores condições de trabalho, serviços com maior qualidade para tod@s, saúde, educação e transporte públicos com “padrão Fifa”. A tarefa dos novos movimentos sociais é democratizar as instâncias de luta, construir os sindicatos de baixo para cima, organizando o jovem trabalhador “precarizado”, construindo um movimento unitário de trabalhadores, jovens e desempregados. A nossa luta está só começando e o sistema que se segure, pois vamos derrubar essas velhas estruturas! 

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