Grécia: Neonazistas são acusados pelo assassinato a sangue frio de Pavlos Fyssas, ativista de esquerda e rapper

A esquerda e a classe trabalhadora organizada precisam organizar uma poderosa frente antifascista

Na noite passada (18/09/13) a municipalidade de Keratsini, na grande Piraeus, a segunda maior cidade da Grécia e seu maior porto, foi inundada por dezenas de milhares de antifascistas de toda Piraeus e Atenas. A cidade, próxima a Atenas, possui uma forte tradição operária e uma história de lutas. Os antifascistas expressaram sua raiva com o assassinato a sangue frio de Pavlos Fyssas, um artista do rap e ativista antifascista.

Pavlos Fyssas era conhecido por suas corajosas canções antifascistas e ideias de esquerda. Ele foi atacado por facínoras da Aurora Dourada na frente de muitas testemunhas e quatro policiais (armados), que não fizeram nada para impedir o assassinato.

Um apoiador da Aurora Dourada foi detido pela polícia ontem e supostamente confessou o assassinato. Ele foi preso de imediato. Embora fatalmente ferido, Pavlos foi capaz de apontar seu atacante à polícia. Também havia muitas testemunhas oculares do ataque a faca, já que ele ocorreu em uma praça central.

Depois de admitir ter matado Pavlos Fyssas, o suspeito disse que era um membro da Aurora Dourada e que visitava os escritórios dessa organização na área muito regularmente, “cinco a dez vezes por mês”.

A polícia efetuou uma busca na casa do suspeito depois do assassinato e encontrou literatura e outros materiais desse partido. Foi relatado na mídia que sua esposa disse à polícia que imediatamente antes da prisão do suspeito, este havia lhe telefonado e pediu-lhe que tirasse todo o material da Aurora Dourada de casa e a levasse para a casa de um de seus parentes – que é líder da Aurora Dourada na área.

A mídia grega informou extensivamente que o suspeito era pago pela Aurora Dourada para atacar “preventivamente” os imigrantes e provocar choques de rua com ativistas de esquerda. Essa é uma prática comum da Aurora Dourada; eles pagam pessoas para participar de seus ataques quando necessário.

Pavlos Fyssas é o primeiro ativista grego a ser assassinato por apoiadores da Aurora Dourada. Até agora, ela concentrava seus ataques aos imigrantes, causando várias mortes. Mas desde o ano passado ela começou a aumentar seus ataques a ativistas da esquerda antifascista. Em 17 de setembro, a esquerda grega e o movimento antifascista teve sua primeira baixa.

Pavlos Fyssas era um rapper e músico, que escrevia e cantava contra o fascismo. Ele nasceu, cresceu e vivia em Keratsini, uma tradicional área operária da cidade de Piraeus. Ele assistia um jogo de futebol numa cafeteria no centro da cidade quando foi reconhecido por alguns bandidos da Aurora Dourada. Eles o provocaram por causa de suas músicas e começaram a enviar mensagens por seus celulares que, como os eventos provaram, eram para mobilizar a quadrilha assassina para esperar Pavlos quando ele saísse da cafeteria.

Pavlos e seus amigos, sentindo que o clima estava ficando “perigoso”, decidiram deixar o café, apenas para descobrir que cerca de 30 a 40 bandidos esperavam por eles do lado fora. Ele foi esfaqueado no coração, no que médicos descreveram como um ataque “profissional”.

Dois dias antes, de novo na área operária de Piraeus, a Aurora Dourada atacou um grupo de cerca de 30 membros do Partido Comunista que estavam panfletando. Estima-se que cerca de 50 facínoras atacaram os comunistas com porretes com pregos e 9 pessoas foram hospitalizadas. Entre os feridos estava o líder do sindicato dos metalúrgicos, que vive na área.

Era questão de tempo antes que membros e apoiadores da Aurora Dourada fossem implicados no assassinato de um ativista de esquerda. Era também questão de tempo antes que lançassem ataques desse tipo, tentando retomar a iniciativa, depois de terem tido alguns retrocessos no último período.

Depois da ascensão da Aurora Dourada nas eleições de maio e junho de 2012, comitês antifascistas se multiplicaram, e, em muitas ocasiões, seus bandidos foram expulsos de locais, suas manifestações foram canceladas graças a atos antifascistas. Em uma ocasião, imigrantes os botaram para correr. Em outra, em Chania, Grécia, o líder dos nazistas locais foi atirado ao mar pelos antifascistas.

Aurora Dourada tenta retomar a iniciativa

O recente ataque ao Partido Comunista pode ser explicado apenas como uma tentativa da Aurora Dourada de retomar a iniciativa. Se eles pudessem atacar 30 ativistas do PC e enviar nove deles para o hospital, quando o PC é geralmente reconhecido como a força mais organizada da esquerda, com muitos militantes determinados e abnegados, então os fascistas seriam os “donos das ruas”.

O que é trágico é que o Partido Comunista (KKE) não possuía uma verdadeira campanha antifascista, e assim o ataque contra ele não foi respondido por qualquer iniciativa antifascista séria do PC. Assim, o efeito desse ataque sobre o movimento foi o que os fascistas pretendiam: medo e desmoralização.

A verdade é que a Aurora Dourada só pôde ter essa mostra de força porque os partidos de esquerda de massas estão “dormindo” sobre a questão do fascismo. O KKE e o SYRIZA (coalizão da esquerda radical) subestimam o perigo do fascismo, como se a experiência dos anos 1930 nunca tivesse existido. O SYRIZA tomou alguns passos rumo a uma melhor compreensão dessa questão e desenvolveu algumas campanhas antifascistas. Mas isso está longe de ser suficiente e é principalmente sobre os ativistas locais que recai a decisão sobre ações antifascistas, e não como resultado de diretrizes claras da direção da SYRIZA.

Não há unidade na esquerda sobre a questão do fascismo, não apenas o Partido Comunista, mas até o ANTARSYA (aliança da esquerda anticapitalista) recusam-se a trabalhar juntos com outras forças, especialmente com o SYRIZA, sobre a questão do fascismo. Não há uma compreensão de que uma frente e campanhas antifascistas precisam se desenvolver por toda a esquerda e a classe trabalhadora organizada. Nem são tomadas importantes medidas práticas, como a criação de comitês de defesa – os fascistas estão treinando o uso de armas sob o disfarce de “empresas privadas”. E não pode haver nenhuma resposta à ameaça do fascismo a menos que a esquerda decida lutar não apenas contra as políticas da Troika e do governo grego, mas também contra o próprio sistema capitalista, que está na raiz do ressurgimento da ameaça fascista. Sobre isso, mais uma vez, os partidos de esquerda estão a quilômetros de distância do que é necessário.

Apesar da fraqueza dos partidos da esquerda “oficial” nessa questão, milhares de antifascistas estão organizando movimentos e comitês de luta, cidade após cidade, e desenvolvendo poderosas campanhas. Depois do assassinato de Pavlos, sua luta será mais determinada. Há boas razões para acreditar que a morte de Pavlos irá despertar muitos que podem não ter percebido quão mortalmente séria a situação geral da Grécia está se tornando. Esse é o melhor tributo à precoce perda de Pavlos: lutar contra o que ele combateu – a ascensão do perigo fascista – e lutar pelo que ele lutou – uma vida melhor sob uma alternativa ao capitalismo – uma sociedade socialista.

Pavlos perdeu sua vida lutando de pé; ele não se curvou aos fascistas, nem por um segundo. Segundo testemunhas oculares, as últimas palavras de Pavlos a seus inimigos foram “Querem lutar como homem, venham um por vez”. Mas os fascistas não iriam um de cada vez. Eles não possuem essa coragem, covardes como são.

Pavlos Fyssas continuará um lutador de nosso movimento. Ele estará em nossas bandeiras e palavras de ordem. Iremos garantir que ele não morreu em vão! 

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