PSOL, alianças eleitorais e a chamada frente ampla
O processo eleitoral que se avizinha parece estar revelando mais um passo no aprofundamento do pragmatismo eleitoral (sinônimo aqui de secundarização ou desconsideração dos princípios e programa político) no interior do PSOL. Coligações que apresentam sérios problemas políticos, ultrapassando a fronteira de classe, com a presença de elementos da direita, e mesmo de partidos que compuseram o arco bolsonarista nos últimos anos, passaram a ganhar uma nova proporção em termos de quantidade e qualidade.
É o que podemos observar em diversos estados, incluindo Pernambuco, onde o PSOL figura(va) em coligações com MDB, Republicanos, Podemos, União Brasil, Solidariedade, além dos partidos do chamado campo progressista. Nessa mesma direção, alianças como a do Cabo de Santo Agostinho, para a reeleição do prefeito Keko (PP, em aliança com PSDB, PSD, Avante e muitos outros), seriam encaminhadas pelas direções locais.
Na última semana, fomos surpreendidos pela presença de um de nossos dirigentes estaduais, João Arnaldo (Primavera Socialista), em ato de lançamento do candidato do PRD a prefeito de Salgueiro, ato no qual estiveram Raquel Lyra (PSDB) e outras figuras da direita em nosso estado, como o deputado Mendonça Filho (União Brasil). Foi descartada, contudo, a presença do PSOL nessa coligação, assim como na do Cabo de Santo Agostinho. Ainda assim, tais movimentações mostram uma disposição de dirigentes e de forças políticas internas no sentido da relativização das fronteiras programáticas e/ou de classe.
Consideramos que todos esses movimentos expressam um aprofundamento ou uma forte pressão do pragmatismo eleitoral sem princípios do PSOL em Pernambuco, além de revelarem uma amostra do que se reproduz em todo o Brasil. Tal pragmatismo sem princípios é resultado de uma política, e não de vontades meramente individuais. Em todas as coligações que mencionamos acima, o movimento que o PSOL adota é fundamentalmente o de seguir o petismo na celebração de alianças no escopo da chamada frente ampla. Essa política, embora seja seguida pelo conjunto do PSOL de Todas as Lutas, é proposta de forma mais engajada por duas organizações internas ao partido: Revolução Solidária e Primavera Socialista.
Contribui também para movimentações eleitorais dessa natureza, entre outras decisões, a federação com a Rede Sustentabilidade, cujo arco de relações políticas é muito mais elástico que o do PSOL. Seu único parlamentar federal em Pernambuco, o deputado Túlio Gadelha, integra o bloco de apoio à governadora Raquel Lyra (PSDB) e utilizou a sua influência e a influência da governadora para tentar minar a candidatura própria do PSOL em Recife. Esse exemplo deveria ser emblemático para todas e todos nós dos riscos à independência de classe que a federação PSOL-Rede significou para o nosso partido.
No último Congresso Estadual do PSOL Pernambuco, o 8º e que aconteceu em setembro de 2023, compusemos uma chapa de oposição a tal política, reunindo o Movimento Esquerda Socialista – MES, Liberdade Socialismo e Revolução – LSR, Rebelião Ecossocialista e Insurgência, hoje Reconstrução Democrática, além de diversos militantes independentes, e nos organizamos a partir de uma perspectiva de classe e independente para o PSOL. Essa chapa expressou a unidade dos setores identificados nacionalmente com o Bloco de Oposição ao PSOL de Todas as Lutas, além de incorporar companheiras(os) que pertenciam ao Campo Semente (especialmente a hoje Insurgência–RD), dissolvido quando parte do campo decidiu compor chapa com a Revolução Solidária.
Essa localização política nos deu tranquilidade para, sempre que foi necessário, realizar oposição à política eleitoral do campo majoritário. Foi assim que nos colocamos em todos os municípios em que estamos organizados, quando coligações dessa natureza foram propostas, e mesmo em outros municípios, quando alertados por camaradas de outras organizações e independentes. Entendemos que os erros cometidos por dirigentes do PSOL, como a presença de João Arnaldo em palanque com Raquel Lyra e Mendonça Filho, devem ser cobrados nas instâncias partidárias, mas que é preciso entendê-los como resultado de uma política com a qual seguiremos manifestando divergência. Nossa oposição política à linha do PSOL Popular (Revolução Solidária e Primavera Socialista) não se confunde com a exploração oportunista dos casos para agitação interna ou para personalizar problemas que são políticos.
Tudo isso tem a ver com a questão das alianças eleitorais e sua inserção no combate mais amplo ao bolsonarismo, à extrema direita e ao neofascismo no Brasil. Combate que deve conjugar ações institucionais e anti-institucionais, sem a secundarização, minimização ou apagamento das últimas. A diluição programática e a prática pragmática sem princípios que assombra o PSOL em tais alianças mais do que amplas não ajudam o partido a se tornar no curto, médio e longo prazos referência de ruptura ao sistema (palavra de ordem sequestrada pelo bolsonarismo) para as juventudes e para uma imensa camada de ativistas sociais. Para isso, o PSOL não precisa cair no antipetismo, ideologia reacionária e alimentadora da extrema-direita. Já temos exemplos exitosos, como a prática antissistêmica do mandato do deputado federal Glauber Braga, da linha que evita o oportunismo eleitoral, por um lado, e o sectarismo anti-eleitoral, por outro lado. São práticas assim que realizamos e que defendemos para o PSOL.