Partindo da esquerda, todo passo para o centro é um passo para a direita 

Essa semana, Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo e agora ex-secretária das Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, aceitou um convite feito pelo Lula para voltar para o PT e ser candidata a vice-prefeita na chapa com Guilherme Boulos. Boulos por sua vez foi até a casa da Marta para selar o acordo. 

Para muita gente, incluindo o atual prefeito Ricardo Nunes para quem ela trabalhava, isso chegou como surpresa, mesmo que o nome da Marta já tivesse sido levantado desde do ano passado. Essa articulação, evidentemente, foi feita por Lula e uma cúpula, e muita gente até mesmo do PT e do PSOL soube apenas quando a notícia chegou na imprensa. Essa provável nomeação expõe mais questões sobre como vai ser a campanha do PSOL para prefeitura e a lógica de conciliação de classes.  

O argumento da frente amplíssima como única saída pragmática diante da necessidade de derrotar o bolsonarismo é defendido pela maioria do PSOL, especialmente da Revolução Solidária mas com apoio da Resistência e outros setores do Campo Semente. Na mesma hora, a campanha do Boulos tenta mostrar que o candidato será um prefeito “confiável” e “responsável” e tenta se aproximar do chamado Centro como uma forma de ganhar mais votos. 

O nome da Marta representa esses elementos quando levantam que ela tem “experiência de gestão” e que isso ajudaria a combater a crítica de que Boulos não tem. No mesmo sentido, o nome dela vem com o do marido, o empresário Márcio Toledo, de brinde. Provavelmente para mostrar à Faria Lima e à elite paulistana que eles não têm nada a se preocupar. 

A ideia parece tentar repetir as eleições de 2022 com Marta sendo o “novo Alckmin”.  O problema é que essa lógica da frente amplíssima ignora os perigos que inevitavelmente acompanham esta deriva para o “Centro”. Alguns lembram a Marta pelo Bilhete único ou os CEUs mas sua trajetória mais recente foi de apoiar o impeachment da Dilma, votar a favor da reforma trabalhista de Michel Temer, fazer campanha contra o Boulos em 2020 e aí assumir um cargo na gestão Nunes, o nome apoiado pelo Bolsonaro (Marta cita isso como a razão da sua saída da secretaria mesmo que o bolsonarismo de Nunes era evidente desde do primeiro momento que ele assumiu). 

Mas mais do que isso, essas movimentações, em vez de aumentar as chances do Boulos na verdade, só atrapalham. Na sua tentativa de parecer menos “radical” sua campanha se afasta do que tornou o nome dele atrativo para começar. Foi sua trajetória de luta, de enfrentar o sistema e lutar por moradia, de forma realmente radical, que energizou sua campanha em 2018 e em 2020 e mostrou para uma geração nova de trabalhadores e para as periferias que tinha uma verdadeira alternativa. 

Continuando nesse trajeto, a sua campanha parece cada vez mais como mais do mesmo e o nome da Marta como vice só confirmaria isso. Nunes não é Bolsonaro e mesmo com seu apoio, não é visto tão atrelado a ele pela a população em geral, algo que se esforça em manter dessa forma já que o município de São Paulo em sua maioria rejeitou Bolsonaro e Tarcísio nas eleições em 2022.

Quanto mais se tenta conciliar com as classes dominantes dentro do seu próprio sistema, mais há adaptação a esse sistema até que sermos totalmente assimilados. Esse é o perigo de continuar nessa linha e que já temos inúmeros exemplos na história onde tiramos essas lições. Nessa direção, mesmo que haja uma vitória eleitoral em números, o projeto fica para trás, descaracterizado entre negociações e esforços de conciliar com setores que possuem projetos inconciliáveis.  

Para derrotar Nunes não apenas em números de votos, mas seu projeto privatista, excludente, antipovo, é necessário que Boulos volte às suas raízes e realize uma campanha combativa para ganhar um mandato a serviço das lutas. É preciso uma vice que realmente represente os nossos interesses e esteja alinhada com um projeto para a maioria. E, principalmente, é necessário mobilizar a base, a juventude e trabalhadores para que sejam parte ativa na campanha, da construção do programa e estejam dispostos a lutar para colocar esse programa em prática, enfrentando esse sistema que tanto nos oprime e nos explora.

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