Venezuela: “Nacionalização da Mitsubishi MMC sob o controle operário”
Esta sexta, 4 de junho, um grande grupo de trabalhadores da Mitsubishi MMC se reuniram na inspetoria do trabalho “Alberto Lovera” em Barcelona, estado de Anzoátegui, em protesto contra a contínua violação de seu direito ao trabalho e agressões por parte da patronal transnacional japonesa.
Os trabalhadores da MMC estão em luta por 16 meses contra a patronal, que demitiram 254 trabalhadores, deixaram 475 trabalhadores que sofrem com enfermidades ocupacionais sem seguro social, e a última agressão, a demitiram de 11 diretores do sindicato. Além disso há os companheiros assassinados em janeiro do ano passado, quando os trabalhadores haviam iniciado sua luta pela defesa de seus direitos trabalhistas mais elementares.
Uma marcha cheia de palavras de ordem e de espírito combativo
Ante uma situação de aguda atomização do movimento operário e de crise da direção política, além de uma forte polarização política, a marcha da MMC deu uma mostra das condições objetivas ainda vigentes da classe trabalhadora em seu papel revolucionário de impulsionar a luta pelo socialismo.
Mais de 200 trabalhadores, acompanhados de trabalhadores de outras empresas também em conflito, como a VIVEX, empresa que está há 18 meses em luta, e que atualmente está sendo gerida pelos trabalhadores sem respaldo do Governo Nacional. Isso mesmo quando seus trabalhadores se reivindicam “militantes do PSUV e defensores do processo revolucionário que impulsiona o presidente Chávez”, como dizem um de seus dirigentes principais.
Também contaram com o apoio dos trabalhadores da MACUSA, empresa terceirizada que fabrica os assentos dos veículos montados na planta da MMC. Assim como organizações da esquerda independente (Liga de Trabalhadores pelo Socialismo, Unidade Socialista dos Trabalhadores, CSR Topo Obrero, Insurgência Comunista, Opção Operária, Socialismo Revolucionário e o ALEM), que deram seu apoio e expressaram sua solidariedade incondicional com a luta dos trabalhadores da MMC.
Esta última é importante destacar, já que é um dos primeiros exercícios práticos e a tentativa de construção unitária destas organizações, no marco de unificação das lutas sociais e de avanço na defesa de um programa socialista revolucionário, construído pelo povo pobre, oprimido e explorado pelo capitalismo: trabalhadores, camponeses, comunidades organizadas, estudantes, etc.
Sob este ambiente, cheio de combatividade, os trabalhadores gritavam com força e consciência política de classe palavras de ordem como: “controle operário na MMC”, “reformistas, burocratas tremei”, “a classe trabalhadora disposta a dar a vida pela revolução”, “Somos trabalhadores, não delinquentes”, entre outras, que expressaram com maior ênfase quando passaram pelas sedes dos poderes executivo e judiciário do estado regional. Além de reivindicar o caráter internacionalista da classe, quando levantavam palavras de ordem em repúdio às agressões recentes do estado de Israel à Delegação Humanitária em águas internacionais em Gaza.
Uma marcha disciplinada, que soube romper com a armadilha de polarização e da provocação, que geram logo a criminalização dos protestos. Estes companheiros e companheiras (houve um grupo importante de mulheres trabalhadoras e esposas de alguns dos trabalhadores no protesto) chegaram até a sede dos tribunais de justiça deste Estado, onde por mais de uma hora ficaram gritando palavras de ordem e denunciando a burocracia do estado, desafiando a patronal e exigindo a nacionalização sob controle operário, justiça ante os trabalhadores assassinados em luta por seus direitos e restituição dos direitos trabalhistas aos trabalhadores que foram despedidos.
Assim chegou ao auge uma jornada de protesto, sem presença policial em caráter intimidatório e com a recuperação da confiança dos trabalhadores de que sob sua própria direção e clareza em seus objetivos estratégicos é possível avançar mais além das reivindicações mais elementares.
Estes companheiros não conseguiram nada ainda, mas esses exemplos devem servir de reflexão para a esquerda revolucionária e para os setores classistas e revolucionários do movimento sindical venezuelano, não só para nos solidarizarmos ativamente com estes companheiros, mas para que sua luta chegue até suas últimas consequências e se converta em um exemplo de combate, organização e luta dos trabalhadores deste país, pelo socialismo revolucionário e democrático.
O Socialismo Revolucionário e as organizações de esquerda que estão presentes nesta tentativa de unidade e unificação das lutas sociais reafirmam o seu apoio incondicional com os trabalhadores da MMC, e nos colocamos à sua disposição para acompanhá-los até a Vitória Final.
Por favor enviem mensagens de protesto ao governador de Anzoátegui no e-mail: info@gobernaciondeanzoategui.com
Mensagens de apoio e solidariedade (se possível em espanhol) podem ser enviadas aos trabalhadores nos seguintes e-mails: ramonceve@hotmail.com , jeancy_m@hotmail.com, cianuro2@hotmail.com, elchino_perales@hotmail.com e concienciaobrera01@hotmail.com, com cópia para socialismo.rev.venezuela@gmail.com
Declaração conjunta
Pela reversão de todas as demissões da Mitsubishi!
Por uma ruptura com a política dos patrões! Os capitalistas devem pagar pela crise!
Em resposta à crise internacional do capitalismo, que tem suas implicações para nosso país assim como para outras partes do mundo, os patrões querem fazer a sua crise cair nas costas dos trabalhadores e do povo. Salários em declínio, preços subindo, a destruição de contratos coletivos, demissões, aumento do trabalho precarizado, eliminação de direitos e conquistas anteriores e a violação dos direitos trabalhistas fazem parte do plano dos capitalistas, que está sendo aplicado na Venezuela também. A luta da MMC Automotriz em Anzoátegui é uma expressão disso.
Em face desta crise, e das políticas dos capitalistas, a resposta dos trabalhadores do mundo está começando, com força cada vez maior. Os trabalhadores na Venezuela não têm ficado muito atrás, sendo forçados a enfrentar a agressão da multinacional japonesa MMC Automotriz, com a cumplicidade do governo nacional, principalmente através do Ministro do Trabalho e Previdência Social (MINPPTRASS).
Essa aliança dos patrões com o governo continua sua ofensiva com um objetivo claro: a destruição da organização sindical, SINGETRAM, e infligir uma derrota moral e material estratégica sobre os trabalhadores da MMC Automotriz e seu sindicato, assim como para a classe trabalhadora venezuelana em geral, a fim de facilitar os planos dos capitalistas de impor o peso da crise sobre as costas dos trabalhadores.
Essa é a razão porque o ministério MINPPTRASS, liderado por María Cristina Iglesias, não perdoa os trabalhadores da MMC Automotriz pela ousadia de defender seus direitos sociais e trabalhistas, e sua segurança e estabilidade de emprego.
A agressão dos patrões incluiu a demissão de 11 líderes sindicais, junto com vários cipeiros e membros de base, que juntos chegavam a 200 trabalhadores, demitidos com a cumplicidade do MINPPTRASS, que aceitou os pré-requisitos da companhia para a demissão dos trabalhadores, aprovou medidas atacando os direitos e condições por meio de duvidosos procedimentos secretos, fora de toda legalidade, e acima de tudo, declarando a luta dos trabalhadores por seus direitos como ilegal, enquanto fazia julgamentos favorecendo os patrões, atrasando as negociações coletivas, prestando um grande favor aos patrões japoneses da MMC Automotriz.
Mas os ataques do governo sobre os trabalhadores foram além disso. Não nos esquecemos da data de 29 de janeiro de 2009, quando a polícia do estado de Anzoátegui (onde o governador é Tarek William Saab) assassinou 2 trabalhadores (um da MMC Automotriz e outro da fabricante de autopeças Macusa) durante uma ocupação de fábrica em que eles participavam.
Deve-se acrescentar o fato de que a direção do PSUV de Anzoátegui, os membros do bureau político nacional do PSUV, o ex-deputado e ex-ministro para a eletricidade, Ángel Rodríguez, a mídia oficial e de oposição, e os “líderes” da Fuerza Socialista Bolivariana de Trabajadores (corrente sindical “chavista”), como Oswaldo Vera, Aristóbulo Istúriz, Carlos Itriago e Franklin Rondon, todos acusaram os trabalhadores de serem criminosos violentos e sabotadores, e de agirem contra o “interesse nacional”, numa tentativa de criminalizar protestos operários legítimos.
Nós, os signatários, não temos dúvidas. O governo Chávez assinou vários acordos com os capitalistas japoneses, ligados a pedidos para empréstimos aos bancos venezuelanos. Parte destes acordos era uma garantia de condições desimpedidas para investimentos de capitalistas japoneses na Venezuela, e acordos sobre fornecimentos de petróleo venezuelano. Contudo, esses acordos também garantiam ao capitalismo japonês a possibilidade de explorar os trabalhadores da Venezuela. A superexploração dos trabalhadores da MMC Automotriz é resultado de parte destes acordos. Por essa razão, o governo ignora as demandas dos trabalhadores, assim como usa todo o seu poder contra os sindicalistas do SINGETRAM e outros ativistas.
Contra as acusações de violência e criminalidade contra esses camaradas, dizemos que o único “crime” que eles cometeram foi a defesa de seus direitos, não se curvando à exploração desta companhia imperialista. Como é possível que uma companhia imperialista possa contar com o apoio de um governo que Chávez chama de “anti-imperialista”? Como é possível que recebam o apoio do ministério do trabalho por suas violações contra os trabalhadores? O único criminoso é o que se coloca do lado dos patrões imperialistas, que exploram a mão de obra dos trabalhadores e saqueiam nossos recursos naturais!
Nos opomos à demissão dos líderes sindicais e de todos os outros trabalhadores da MMC Automotriz. Rejeitamos os planos da companhia de impor ritmos de trabalho infernais, metas de produção exorbitantes, condições lamentáveis de trabalho e enormes cortes de salário e pessoal. Denunciamos a atitude cúmplice do MINPPTRASS e de outras organizações governamentais, que favorecem os patrões, e rejeitamos completamente a política do governo de privilegiar o imperialismo japonês, às custas dos trabalhadores da MMC Automotriz.
Também chamamos as organizações de trabalhadores, sociais e políticas, assim como os lutadores de classe que se consideram socialistas revolucionários e internacionalistas, para se unirem em uma campanha nacional e internacional pela reversão destas demissões e pela readmissão destes camaradas ao trabalho.
Oferecemos todo o nosso apoio e nos comprometemos a colocar todos os nossos esforços a serviço dos trabalhadores da MMC automotriz, para levar sua luta até a vitória e acabar com a ofensiva dos patrões e do governo.
- Vitória aos trabalhadores da MMC!
- Reversão de todas as demissões!
- Pela readmissão imediata de todos os trabalhadores demitidos!
- Fora MARÍA CRISTINA IGLESÍAS do ministério do trabalho!
- Pela destituição do Inspetor do Trabalho de Barcelona!
- Nacionalização da MMC sem indenização, sob controle dos trabalhadores!
- Por uma campanha nacional e internacional em defesa dos trabalhadores da MMC automotriz!