A agenda nefasta de Milei encontra resistência imediata
As forças da reação, sem dúvida, se sentiram fortalecidas quando Javier Milei venceu as eleições presidenciais da Argentina em novembro, prometendo levar a motosserra ao setor público com uma série de privatizações de choque e medidas de austeridade.
No entanto, três meses após o início de sua presidência, o ataque total de Milei às massas desencadeou ondas de protestos e uma greve geral, uma amostra dos grandes confrontos que estão por vir.
Milei é, em última análise, um produto das crises econômicas, sociais e políticas do capitalismo. Ele se baseou em uma retórica antielitista, criticando “la casta” que compõe o establishment político.
Fracasso do peronismo
Seu principal alvo foi o peronismo. O governo reformista de centro-esquerda de Alberto Fernandez contentou-se em administrar um capitalismo argentino em decadência. No final de seu mandato, a taxa de pobreza havia disparado para 40% e a inflação era de 160%.
O oponente peronista de Milei, Sergio Massa, foi ministro da economia de 2022 a 2023. Ele foi corretamente visto como responsável pela atual crise. Na falta de alternativa de esquerda capaz de canalizar a raiva, Milei teve apoio de uma camada de trabalhadores e jovens que queriam combater o status quo.
No entanto, a vitória de Milei não representa uma derrota total. Pelo contrário, a ofensiva reacionária de Milei e a intensificação da repressão estatal podem ser vistas como uma resposta aos movimentos titânicos que abalaram as próprias bases do capitalismo argentino nas últimas duas décadas. Isso inclui o movimento piquetero, Ni una menos e a Marea Verde que conquistou o direito ao aborto.
Milei não apenas quer desviar a raiva das verdadeiras causas da miséria social atacando o aborto e lançando tiradas transfóbicas. Ele quer disciplinar e desmoralizar os setores mais radicais da sociedade argentina para criar as pré-condições políticas para implementar seu programa econômico.
Contradições na direita
No entanto, Milei enfrenta vários desafios para consolidar qualquer coisa que se assemelhe a um governo estável. Seu partido, Libertad Avanza, formado em 2021, tem apenas 38 assentos no Congresso, forçando-o a buscar alianças com a direita tradicional. O fato de Milei ter preenchido seu gabinete com grande parte da “casta” tradicional desmascarou qualquer pretensão de credenciais “anti-establishment”.
Por exemplo, Caputo, ministro da Fazenda do odiado governo de direita de Maurício Macri, agora é ministro da Economia. Para conquistar o mais moderado Caputo, ele arquivou os planos de dolarizar a economia, perdendo o apoio de seus conselheiros da linha dura. Do mesmo modo, a decisão de Milei de sair do BRICS e buscar um alinhamento com Washington é uma dor de cabeça para os capitalistas agrícolas que aprofundaram o comércio com o Brasil e a China. Por outro lado, o FMI aplaudiu as medidas de Milei como “ousadas”.
Em 20 de dezembro, Milei lançou um “megadecreto” de mudanças em mais de 300 leis, implementando ataques como ao direito de greve e a proibição do controle de aluguéis. Ele também apresentou sua lei “ônibus”, que consiste em mais de 600 novas leis que fazem parte do plano de austeridade.
A resposta das massas
As massas responderam imediatamente com um ‘cacerolazo’ (panelaço). A pressão das bases forçou os líderes sindicais a convocar uma greve geral em 24 de janeiro em que 1,5 milhão de pessoas participaram.
A greve geral e os protestos forçaram a retirada do projeto de lei “ônibus”. Essa é uma primeira vitória significativa contra o governo, mas que deve ser consolidada com um plano de luta para derrotar Milei. Esse movimento deve ser controlado democraticamente pelas bases, e não pela burocracia sindical peronista. Assim será possível ganhar muitos apoiadores de Milei para uma luta que realmente enfrente a elite capitalista.
A esquerda trotskista organizada na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores – Unidade (FIT-U) precisa oferecer uma liderança ativa. A crise do peronismo e o acirramento da luta de classes abrem uma oportunidade para construir uma ferramenta política de esquerda que vá além da mera unidade eleitoral e que sirva para oferecer uma alternativa política à crise com um programa socialista.
Uma grande oportunidade de realizar essa tarefa se apresenta na construção do 8 de março. As assembleias feministas que estão sendo realizadas para preparar o 8M são muito grandes, envolvendo a participação de alguns sindicatos. A ASI na Argentina está ativa nesse movimento, defendendo que as centrais sindicais convoquem uma greve geral no 8M, como parte da luta para derrotar Milei e o sistema capitalista que o gerou.