RN: combater o bolsonarismo sem conciliação de classes
As eleições no Rio Grande do Norte foram marcadas por vitórias do Partido dos Trabalhadores, da extrema direita e por perda de protagonismo do PSOL. Isso coloca diversos desafios para o próximo período que precisamos examinar e compreender para preparar as lutas que estão por vir.
O candidato a presidente que venceu os dois turnos das eleições no estado foi Lula. Ele ganhou em todas as cidades, à exceção de Parnamirim, que tem forte presença de militares e de igrejas evangélicas, setores em que Bolsonaro desponta.
Ampliando à direita
Para o governo do estado, a decisão ocorreu no primeiro turno com a recondução da atual governadora, Fátima Bezerra (PT). Ela venceu o candidato de Bolsonaro no estado, Fábio Dantas (Solidariedade).
Fátima girou à direita com a descontinuidade de Antenor Roberto (PCdoB) como vice-governador e com a incorporação de Walter Alves (MDB) para esse cargo no próximo mandato. Walter Alves compõe uma das principais oligarquias do estado e não foi o único da família na chapa do PT, que apresentou também Carlos Eduardo Alves, ex-prefeito de Natal, para o cargo de senador. Ele não se elegeu.
O bolsonarismo foi uma força relevante no pleito. Bolsonaro visitou o estado cinco vezes em 2022, fez motociatas, comícios e inaugurou obras. Rogério Marinho, articulador da Contrarreforma Trabalhista e ministro do Desenvolvimento Regional até as vésperas da eleição, elegeu-se senador comprando o apoio de prefeitos e vereadores com o uso eleitoreiro do ministério. Ele venceu mesmo com os escândalos do “tratoraço” e do “Bolsolão do Asfalto”, supostos esquemas de corrupção que ocorreram dentro daquela instituição.
A Assembleia Legislativa potiguar passou por algumas mudanças no último pleito. No mandato atual, a bancada aliada do governo Fátima é maioria, mas a situação se inverterá, com previsão de apenas 9 deputados e deputadas na base aliada e 15 na oposição. A novidade para os próximos quatro anos foi o crescimento do PL, que será a segunda maior bancada, atrás apenas do PSDB. Isso colocará o governo ainda mais à direita para negociar suas pautas.
Para deputados e deputadas federais, a nova configuração é a do PT com dois mandatos, sendo Natália Bonavides a mais votada, dois do União Brasil e quatro do PL.
PSOL
O PSOL vem passando por um processo de encolhimento em suas votações. Nessas eleições, essa tendência se manteve. Freitas Jr. (Senado) e Danniel Morais (Governo) tiveram votações menores que as candidaturas correspondentes em 2018. No caso do governo, o número de votos diminuiu dez vezes. A candidatura mais bem votada do partido para deputadas federais (Camila e Juntas) obteve mil votos a menos que a candidatura mais bem votada da eleição anterior, que foi a de Aldiclésio pela LSR.
O partido vem sofrendo há alguns anos com falta de democracia interna, com a apresentação de candidaturas com perfil rebaixado e mais recentemente com a federação com a Rede e a falta de candidatura própria para o governo federal. A equivocada decisão da Executiva Nacional do PSOL de participar do governo de transição de Lula é mais um elemento de liquidação do partido como alternativa de esquerda.
Nossas tarefas
Com a vitória de Fátima e de Lula há uma tendência ao travamento das lutas de forma semelhante aos governos anteriores do PT. A força que a extrema direita tem servirá de justificativa para não tomarmos as ruas por isso ser “fazer o jogo da direita”. Isso será sentido nos espaços em que o PT tem presença relevante, seja nos sindicatos, movimentos sociais ou frentes amplas.
O papel dos e das socialistas será o de contrapor a essa perspectiva o fato de que o fascismo só pode ser derrotado pela classe trabalhadora organizada com o uso dos seus instrumentos de luta, tais como greves, travamentos de rodovias, piquetes, etc. Será um período de muitos desafios em que devemos apostar na mobilização e na luta para derrotar o bolsonarismo, arrancar direitos e construir uma alternativa socialista!