Combater nas ruas a agenda de ataques de Dilma e da velha direita!
A crise econômica, social e política no país é gravíssima. O modelo que sustentou os interesses da classe dominante brasileira nos últimos doze anos de governos do PT apodrece a olhos vistos. O velho está agonizando e o novo ainda não nasceu.
A velha e carcomida direita não tem nada a oferecer que não tenha sido tentado por Dilma em sua agonia: cortes, ataques, repressão e retrocesso. A corrupção do PT também não é nova. Segue o exemplo dos governos do PSDB no governo federal e nos estados. O “tremsalão” tucano de São Paulo está aí pra confirmar. Mesmo assim, tentam se credenciar como alternativa.
Bancos e empresas usam a crise para se reestruturar, arrochar salários, demitir e retirar direitos. E ainda recebem ajuda do governo para rebaixar salários através do mal chamado “Programa de Proteção ao Emprego”. As novas demissões na GM de São José dos Campos são mais um exemplo dramático de como os capitalistas não tem nenhum compromisso social apesar de usarem e abusarem das benesses do Estado para garantir seus lucros.
Estes setores nunca saem perdendo. Usaram o PT por mais de uma década para obter uma relativa estabilidade social enquanto enchiam os bolsos como nunca antes na história desse país. Agora que Dilma e o PT estão no volume morto (merecidamente, diga-se de passagem) ameaçam jogar o bagaço fora.
A resposta do governo não poderia ser pior. Dilma esforça-se ao máximo para mostrar aos endinheirados que ainda tem serventia. Afinal, alguém precisa completar o trabalho sujo do ajuste fiscal, da contrarreforma trabalhista e previdenciária, das privatizações. Ela reitera a cada dia sua profissão de fé em defesa dessa pauta antipopular.
A chamada “Agenda Brasil” acordada entre o governo de Dilma, seu ministro Joaquim Levy e o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB), representa mais um aprofundamento dos ataques duríssimos contra os trabalhadores e o povo. Beneficia somente o grande capital.
Entre as medidas estão o verdadeiro “liberou geral” das terceirizações e a elevação da idade mínima para aposentadorias. Está também a entrega de territórios indígenas e de áreas ambientalmente protegidas à sanha do agronegócio, mineração e obras de infraestrutura a serviço do capital. O governo quer ainda flexibilizar os gastos sociais vinculados no orçamento e assim promover mais e mais cortes. Além disso, a agenda prevê ataques inéditos ao Sistema Único de Saúde com possibilidade de cobrança por serviços.
Para piorar, o Congresso começou a votar, com apoio do governo e do PT, a chamada “lei anti-terrorismo” que será usada para ameaçar e reprimir manifestações populares e as lutas dos trabalhadores contra essa avalanche de ataques.
Quanto à estratégia vergonhosa do governo para enfrentar a crise não existem mais dúvidas, embora ainda existam alguns iludidos. Dilma oferece aos banqueiros e empresários a cabeça dos trabalhadores em uma bandeja em troca de sua manutenção na presidência da república. Ainda assim, suas chances de sucesso são incertas.
Os editoriais dos jornalões da burguesia e seus articulistas mais fiéis são quase unânimes na linha de conter o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB) e “sua guerra particular contra Dilma e o PT” (O Globo). Temem que ações tresloucadas de Cunha, para desviar a atenção das denúncias de corrupção em que está envolvido, possam atrapalhar o esforço pelo ajuste fiscal de Dilma.
Não são poucos os porta-vozes do grande capital que chegam a conclamar o governo a “sair da inércia” (Valor, 10/08) e fazer o que tem que ser feito! Trabuco do Bradesco, feliz depois de ter engolido o HSBC, defende Dilma dizendo que vê convicção em sua defesa do ajuste (Folha, 08/08). Delfim Netto que, como ministro da ditadura, posicionou-se a favor do AI-5, hoje defende o “bom funcionamento das instituições” e critica os setores do PSDB que trabalham pela queda do governo (Valor, 11/08). A Fiesp e Firjan fazem coro com essa preocupação e colocam-se em defesa da governabilidade.
Isso significa que Dilma se sustenta? Não necessariamente. Significa antes de qualquer coisa que governo e o grande capital farão uma tentativa de estabilização da situação em nome da aplicação a fundo do ajuste na economia. Vai dar certo? Se Dilma não conseguir, a burguesia já tem seus planos B ou C. Michel Temer está aí tentando a aprovação de suas credenciais frente ao grande capital.
A manifestação convocada pelos setores de direita para o dia 16 de agosto pelo “Fora Dilma”, poderá colocar novos elementos nessa situação. Mesmo dirigida por setores reacionários que nada tem a oferecer aos trabalhadores e ao povo, ela pode ganhar apoio como protesto contra a atual situação. A grande burguesia parece preferir que seja uma manifestação controlada. Algo que mantenha Dilma na defensiva e subserviente, sem necessariamente derrubá-la. Mas, eles não controlam totalmente a situação e podem ser empurrados a uma saída que inclua Dilma.
A manutenção de Dilma na presidência jamais poderá ser garantida por uma mobilização dos trabalhadores em sua defesa. Essa quimera de alguns governistas nostálgicos de outros tempos não passa de uma ilusão reacionária. O governo do PT está pagando o preço de sua traição aos trabalhadores. Com o crescimento do desemprego, a alta nos preços e tarifas, a deterioração dos serviços públicos, a piora da vida do povo, com tudo isso o que mais cresce é o ódio dos trabalhadores em relação ao governo.
Por isso, qualquer ideia de que a luta contra seres desprezíveis e reacionários como Eduardo Cunha e Aécio Neves e suas maquinações antidemocráticas se dará defendendo o governo não tem a menor base de sustentação. A defesa do governo Dilma só alimenta a direita mais reacionária e abre espaço para mais confusão entre os setores populares.
A verdadeira resposta sobre os rumos do país será dada pela capacidade de reação dos trabalhadores e da população atingida pelos ataques. Será dada nas ruas, nos bairros, nas fábricas, nos hospitais, universidades e no campo. Aos trabalhadores e à juventude só existe um caminho – lutar contra o suplício que os governos em todos os níveis, o Congresso e o grande capital querem impor sobre nossa classe.
Muitas categorias de trabalhadores já estão em luta aberta ou em processo de preparação para ela. São trabalhadores do setor público e várias categorias dos batalhões pesados da classe trabalhadora (metalúrgicos, petroleiros, etc). Mas, diante da gravidade da situação, essa luta não pode mais se dar de forma fragmentada e descoordenada como antes. Ela precisa ser unificada e construída sobre a base de uma alternativa global à crise do ponto de vista dos trabalhadores.
O desafio de construirmos uma greve geral para derrotar os ataques, demissões e retirada de direitos e garantir as reivindicações dos trabalhadores continua sendo uma tarefa necessária. Para isso é preciso a construção da mais ampla unidade de ação entre todos os movimentos envolvidos na luta.
Mas, esse processo de lutas também deve servir para a construção de uma verdadeira alternativa de esquerda que deve se materializar em uma Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, uma frente social e política armada com um programa anticapitalista e socialista. PSOL, PSTU, PCB, MTST, CSP-Conlutas, Intersindical, devem estar unidos e acumular forças para se colocar como alternativa política e de luta.
Devem defender um programa que coloque o peso da crise nas costas dos responsáveis por ela: a burguesia. Esse programa deve conter a defesa de auditoria e não pagamento da dívida pública aos grandes capitalistas e estatização do sistema financeiro sob controle dos trabalhadores. Deve colocar ainda a necessidade de reestatização das empresas privatizadas e dos setores estratégicos para o desenvolvimento econômico com igualdade social.
As manifestações convocadas para 20 de agosto, principalmente a partir da iniciativa do MTST com apoio do PSOL, surgiram a partir da necessidade de uma resposta firme tanto diante das ações da direita e sua manifestação do dia 16, como também dos ataques do governo Dilma. Mesmo com limites, seu manifesto de convocação se posicionava claramente contra as políticas do governo Dilma, a direita de Eduardo Cunha e sua agenda reacionária e apostava numa saída pela esquerda para a crise com base na luta popular.
Se seguissem essa linha e dessem continuidade às manifestações anteriores de 15 de abril e 29 de maio, os Atos de 20 de agosto poderiam contribuir com a construção da unidade de ação necessária para derrotar os ataques.
O fato de que mesmo entidades governistas como a CUT, UNE e o próprio MST tivessem aceitado participar de uma manifestação com críticas duras às políticas de Dilma reflete a crise na base desses movimentos em relação a sua postura frente ao governo. Não é secundário o fato de que o PCdoB tenha retirado seu nome da lista de apoiadores na convocatória do Ato e o PT também não assine.
No entanto, o que estamos vendo agora é uma ação organizada e consciente por parte desses setores governistas para descaracterizar o verdadeiro sentido do 20 de agosto adotando uma linha de defesa do governo contra o suposto “golpe” da direita. Em várias regiões do país, como no Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, etc, esses setores jogaram no lixo a convocatória nacional acordada para o dia 20 e passaram a construir outros Atos, com outro sentido e caráter. Isso provocou a divisão ou até mesmo a desagregação das manifestações planejadas.
A direção da CUT, CTB, UNE e outras entidades governistas estão matando o caráter combativo e independente do 20 de agosto. Enquanto isso Dilma e a direita no Congresso aprofundam seus ataques.
Ao fazer isso, mais uma vez os movimentos sociais governistas ajudam a direita seja ela de dentro ou de fora do governo. Mas, sua posição é insustentável. Não tem aonde apoiar-se com sua linha governista. Ou a CUT, UNE e MST entram pra valer na luta contra os ataques que Dilma promove em unidade com a direita no Congresso, ou estarão rifando os interesses dos trabalhadores e cavando a própria sepultura.
Lutamos junto com o MTST e outras forças de esquerda para impedir que o 20 de agosto em todo o país seja sequestrado pelas forças do governismo e transformado em uma melancólica tentativa de defender o indefensável, o governo Dilma. Onde isso já aconteceu ou vir a acontecer, denunciaremos essa manobra e lutaremos por novas formas de expressão da luta contra os ataques do governo.
13/08/2015