SP: Enfrentar Tarcísio e a militarização

Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi eleito governador em São Paulo com uma campanha marcada por propostas neoliberais e autoritárias. Muita coisa ainda está em aberto sobre o futuro governo, o primeiro que não terá o PSDB à frente desde 1994. Diante da derrota de Bolsonaro na disputa para a presidência, fica em aberto também o quanto o governo será um refúgio dos bolsonaristas. 

O peso dos bolsonaristas no governo de SP dependerá da pressão para que o novo Governo Lula conduza a investigação dos crimes que ocorreram durante o governo anterior, bem como do quanto Tarcísio se localizará nesse cenário. 

Apesar de ter feito campanha colado em Bolsonaro, não demorou para demonstrar certo descolamento: rapidamente reconheceu o resultado da eleição e aponta ter uma “relação republicana” com Lula. Ao fim da campanha, deixou de ser tão enfático em relação à privatização de setores estratégicos, como a SABESP. 

Apesar dessas incertezas, do nosso lado precisamos estar certos de que será necessário uma forte articulação e organização da luta contra a militarização e a criminalização da pobreza. Em sua campanha eleitoral, Tarcísio prometeu retirar câmeras das fardas da PM – medida que tem comprovadamente contribuído para a redução da letalidade em operações policiais. Promete a construção de mais presídios e investiu tempo na tv para defender a redução da maioridade penal. Sua campanha recebeu financiamento pesado da segurança privada, que certamente irá cobrar a fatura.

Segurança Pública?

Essa é a velha forma de tratar da segurança pública no Brasil: proteger os ricos e reprimir violentamente os pobres. 

Nem sequer foi eleito, essa lógica já se mostrou na campanha de Tarcísio, com a morte de um homem de 28 anos em Paraisópolis, enquanto o candidato fazia uma visita à região. Não demoraram muito para difundir que a vítima estava armada, algo que foi confrontado posteriormente por testemunhas para o site The Intercept. Essas testemunhas também alegam que o tiro tenha sido disparado por policiais à paisana que faziam a segurança de Tarcísio. O caso tomou proporções ainda mais graves quando o ex-cinegrafista da TV Jovem Pan revelou que foi instruído por um representante da comitiva, agente licenciado da Abin, a apagar o vídeo da cena. Se depender desse governo, mais “segurança” será sinônimo de mais mortes contra o povo preto, pobre e periférico.

Sem dúvidas, essa política será a espinha dorsal desse novo governo de São Paulo, pois é dessa forma que terá alguma chance de ter apoio popular – prometendo mais segurança, uma preocupação concreta e aguda, já que suas outras promessas, tal qual privatização, são antipopulares. 

A nossa resposta para mais segurança é enfrentando o desemprego, aumentando os salários, investindo maciçamente em moradia, saúde, educação, cultura e outros direitos básicos para uma vida digna. O que Tarcísio promete não é nada novo, e só serviu para ampliar a desigualdade e a falta de segurança: o Brasil historicamente foi construído na base da violência e repressão do povo pobre para garantir a concentração de riqueza e poder nas mãos de poucos.

Mirar na desigualdade social, não nos pobres

É por isso que será necessário construir uma ampla campanha para desmontar essa farsa, convencendo a população de que é preciso mudar o alvo: que o governo mire na desigualdade social, e não nos pobres. Organizar campanhas contra a redução da maioridade penal, pela desmilitarização e controle social das polícias e do Estado; contra a guerra às drogas, o genocídio da população preta e pobre. Essa é uma tarefa que deve ser encampada pelos sindicatos, movimentos de juventude e demais organizações da classe trabalhadora, somando às iniciativas dos movimentos negros. Não esperemos até janeiro, que comece desde já a resistência!

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