Goiás: Superar os erros da esquerda para vencer a extrema-direita
Nestas eleições, o bolsonarismo e outros setores de direita mantiveram suas posições em nível estadual e federal, sem mudanças significativas na atual correlação de forças. O exemplo mais ilustrativo disso foi a reeleição sem dificuldades, no 1º turno, de Ronaldo Caiado (União) como governador. Talvez a principal surpresa tenha sido a eleição de um candidato do PL para o senado, o qual derrotou o ex-governador do estado, Marconi Perillo (PSDB).
Há anos, a hegemonia política em Goiás é composta por partidos e famílias associados à chamada Bancada da bala, do boi e da bíblia. A força da direita no estado ficou demonstrada na disputa para o governo estadual: três candidatos se apresentaram como apoiadores diretos de Bolsonaro. As candidaturas de Ronaldo Caiado, Gustavo Mendanha (Patriotas) e Major Vitor Hugo (PL) receberam, juntas, 91,8% dos votos.
O resultado de 2022 é expressão política de um estado em que há uma economia profundamente dependente do agronegócio (quase 70% do PIB é composto pela agropecuária) e em que existe um grande e violento aparato repressivo. Dada a força de produtores rurais, militares, comerciantes e especuladores imobiliários, Goiás se destaca como um dos bastiões do bolsonarismo. Ainda que Bolsonaro tenha recebido menos votos do que em 2018, sua candidatura recebeu, no 2º turno, 52,1% dos votos, muito mais do que os 39,5% recebidos por Lula.
As eleições deste ano também foram marcadas pelo crescimento de casos de violência política e assédio eleitoral pela extrema-direita. Estes são sinais evidentes de um processo de polarização social que demanda uma esquerda socialista à altura dos desafios históricos do momento.
Os erros do PSOL
A força do agronegócio, de empresários, dos setores mais abastados da pequena burguesia urbana e dos militares não foi o único fator importante no resultado das eleições. Também foi decisiva a ausência de uma Frente de Esquerda Socialista, composta por partidos e movimentos sociais que poderiam apresentar uma alternativa política capaz de atrair o apoio de setores da classe trabalhadora e da juventude.
Ao invés disso, tivemos três partidos da esquerda socialista (PCB, UP e PSOL) apresentando candidaturas que receberam apenas 0,91% dos votos válidos. Neste cenário de fragmentação da esquerda socialista, o principal beneficiado foi o PT: apesar do desempenho fraco na disputa para o governo do estado, o partido aumentou sua bancada de deputados estaduais e federais.
É preciso fazer um balanço da atuação do PSOL de Goiás. O partido poderia ter sido decisivo na construção de uma Frente de Esquerda Socialista e obtido vitórias eleitorais. Mas, a maioria da direção estadual, ao invés disso, priorizou uma aliança oportunista com a Rede e se apresentou, citando as palavras da candidata do PSOL ao governo, como “a campanha mais lulista de Goiás”. A adoção dessa linha política desastrosa é que explica a perda de espaço do partido nas eleições.
O resultado fraco do PSOL em Goiás também é resultado de uma política que vem sendo construída há anos pela maioria da direção do partido: um partido sem espaços democráticos, que não prioriza o trabalho de base e que elabora política apenas de olho nas eleições, jamais será atrativo para uma camada de lutadoras e lutadores que existe e tem atuado no estado – em especial nas lutas das mulheres e contra o bolsonarismo.
Vale destacar que as candidaturas do PSOL que conseguiram atrair mais votos justamente porque foram capazes de manter um componente que marcou a identidade do PSOL como uma alternativa política: a luta contra todas as formas de opressões. É nisto que reside a força das candidaturas mais significativas neste processo eleitoral. Todas as candidatas mais votadas são mulheres que pautaram explicitamente a luta contra as opressões em suas campanhas.
LSR: feminismo e alternativa socialista
Para fazer o contraponto à maioria da direção do PSOL e fortalecer as lutas em Goiás, a LSR apresentou uma candidata a deputada estadual: Adriana Sul Santana, advogada, militante feminista socialista e que atua defendendo os direitos humanos de pessoas encarceradas. Nossa campanha não era apenas por votos, mas para avançar na organização política e fortalecer as lutas da classe trabalhadora e dos setores oprimidos.
Apesar de inúmeras dificuldades e de esta ter sido a primeira campanha eleitoral da companheira, Adriana foi a terceira candidata mais votada do PSOL. Isto mostra que há um espaço para a construção de um partido socialista e independente, que dedica suas energias para fortalecer e organizar as lutas da classe trabalhadora. Sem este partido, a esquerda socialista continuará sofrendo derrotas eleitorais e políticas em Goiás.