A Revolta do Busão em Natal mostrou o caminho da luta
A nova conjuntura depois de junho de 2013 é claramente mais favorável e exige que a esquerda organizada entenda as novas características dos movimentos e repense seus métodos, se quiser ganhar a confiança de quem luta.
Os fóruns, assembleias e plenárias populares que nascem pelo Brasil reúnem a esquerda e os novos ativistas. Em Natal e alguns municípios do Rio Grande do Norte, é centralmente nas plenárias da Revolta do Busão que vemos esse processo acontecer.
Em Natal, a Revolta do Busão surge no segundo semestre de 2012, contra o aumento da passagem, um movimento que foi vitorioso e se tornou referência para a luta em outros estados. Este já foi, em parte, um reencontro da juventude que esteve presente no #ForaMicarla em 2011, que mobilizou milhares às ruas e resultou na ocupação da Câmara Municipal, movimento que ficou conhecido como a Primavera Potiguar.
A resposta dos governos às jornadas de junho nos diz: não podemos sair das ruas!
Carlos Eduardo (PDT), prefeito de Natal, pouco tem se pronunciado diante os protestos. O presidente da Câmara Municipal, Albert Dickson (PP), por outro lado, ao transformar a Câmara Municipal em um campo de concentração, deixou clara a relação que quer estabelecer com a juventude, os trabalhadores e a população.
A Câmara Municipal de Natal está cada dia mais fechada. Primeiro vieram tapumes e a cerca elétrica. Depois veio a porta detectora de metais e a exigência de documentos e cadastramento para entrar. Agora, a construção de grades de ferro. Fechar a Câmara Municipal significa fechar o canal de diálogo com a voz das ruas.
No mesmo sentido caminha a governadora Rosalba (DEM). A fama de “Rio Greve do Norte” que o estado recebeu em 2011, agora retorna com a saúde, a educação, a polícia civil e outras categorias em greve. A governadora recusa-se a dialogar com os sindicatos e parte para uma política repressiva. Na saúde, ameaçou cortar o ponto dos trabalhadores parados. Na educação, cortou o salário de diretores do sindicato, um claro ataque ao movimento sindical que a CSP Conlutas precisa enfrentar fortemente. Esse cenário só justifica a necessidade urgente de organização da juventude, dos trabalhadores e do povo.
Reorganização da esquerda: é preciso avançar sem repetir velhos erros
As plenárias da Revolta do Busão são um exercício de democracia direta e de construção de uma ferramenta política alternativa, que ressalta um caráter horizontal como contraposição às experiências burocratizadas de organização da luta. Ao invés de existir um grupo ou uma pessoa autoproclamando-se direção do movimento, pouco a pouco se forma uma vanguarda que é reconhecida pelos ativistas que participam.
Nesse sentido, o movimento passa por um processo de amadurecimento, possível pela combinação dos atos na rua e os espaços de plenária para debater, fazer balanço e síntese das discordâncias e acordos.
A formação da Comissão de comunicação e da Comissão de combate às opressões representou um importante passo. Ainda assim, é evidente que temos muito que avançar. O desafio do movimento é conseguir expandir-se de fato para toda Natal, descentralizando-se, e não ficar apenas no eixo da Zona Sul – UFRN.
Também está previsto um Seminário da Revolta do Busão para pautar eixos polêmicos, como a questão da licitação ou estatização e a luta pelo passe livre e a tarifa zero.
A posição da LSR na pauta e no modelo de organização
Nós da LSR/PSOL estamos presentes desde o início na Revolta do Busão, nas diversas manifestações, plenárias e atividades. Além disso, em 2012, aproveitamos a campanha eleitoral para defender e apoiar a luta. Abrimos um espaço no programa de TV do horário eleitoral para que o movimento denunciasse a repressão que sofremos em uma das manifestações e apresentamos as pautas para a população. O candidato do PSOL a prefeito, Professor Robério, também fez a denúncia e contou a versão do movimento, em contraponto ao que a mídia burguesa distorcia ou sequer falava, nos diversos debates entre candidatos.
Acreditamos que para conseguir de fato mudar a realidade do transporte público, é preciso a estatização dos transportes, com o controle social dos trabalhadores. Não temos expectativas que disputar o processo de licitação deva ser uma tarefa do movimento. Como um passo para a estatização, apontamos a criação de uma empresa municipal de transporte, o que implicaria na abertura da “caixa preta” do SETURN, a divulgação das planilhas de custos, bem como uma consulta popular sobre o preço da tarifa.
Em relação ao Projeto de Lei do Passe Livre para estudantes e desempregados, iniciativa do mandato da vereadora Amanda Gurgel (PSTU) e subscrito pelos outros dois parlamentares da bancada da esquerda socialista – Marcos Antonio e Sandro Pimentel (PSOL), compreendemos que seja um passo inicial na luta rumo à tarifa zero, e que, portanto, deve ser apoiado e servir como um meio para canalizar ainda mais forças. Goiânia e Porto Alegre já mostraram que não é utopia, e que é possível fazer o passe livre acontecer.
No plano organizativo da Revolta do Busão, defendemos a criação de Fóruns, descentralização para garantir maior participação, que sejam reflexo das grandes mobilizações de junho, envolvendo todas as regiões e garantir encontros com representantes de todos esses fóruns para produzir uma síntese do que cada região debate e delibera.
Recentemente foi convocada uma reunião para formação de um Fórum de Lutas Potiguar baseado em outra visão de movimento. Estavam presentes representantes do PT, Nova Central, Força Sindical, Consulta Popular, Levante Popular da Juventude, CTB, CUT, SINAI e Intersindical. Outros grupos se incorporaram na atividade que formalizou a sua criação.
Diferentemente dos fóruns que surgem de norte a sul do Brasil como iniciativas para superar uma burocracia que certamente dificultou e ainda dificulta a mobilização da juventude, da classe trabalhadora organizada e do povo, esse fórum busca reorganizar a luta a partir de uma superestrutura burocratizada em que grande parte de seus membros apoia o governo federal e já não correspondem aos interesses daqueles que foram às ruas.
Não é isso que queremos. É evidente que as organizações políticas que estão nas lutas podem e devem participar desse espaço e disputar a sua política. No entanto, defendemos a criação de um fórum independente das burocracias, impulsionado pela base. Junho mostrou ser um grande marco e deixamos o recado que a juventude do Rio Grande do Norte não pode sair e não sairá das ruas.