Protestos abalam governo do Peru

     O Peru tornou-se recentemente palco de grandes protestos. No último período, o governo do Peru tem sido abalado por uma série de crises e enfrentado inúmeras greves.

     As greves dos motoristas de ônibus, controladores de tráfego aéreo e trabalhadores da saúde tem tido grande repercussão ao mesmo tempo em que o apoio ao presidente está muito baixo. No dia 22 de julho, uma marcha de 30 mil pessoas, na capital Lima, obrigou o parlamento a recuar da indicação de corruptos ao altos cargos no judiciário.

     O Peru tem sido o país com o maior crescimento no continente, com uma média de 6,5% ao ano, desde 2003. Agora que a economia está desacelerando, com uma queda nos preços de minérios no mundo. Cada vez mais trabalhadores e pobres vêm se perguntando: se não recebemos nada durante os “bons anos” de crescimento, qual será nosso destino quando a economia desacelera?

     Quando Ollanta Humala (Partido Nacionalista Peruano) ganhou as eleições presidenciais em 2011, ele vinha de uma trajetória de reivindicar o “bolivarianismo” de Hugo Chávez.

     A mídia de direita descrevia Humala como “mais à esquerda que Hugo Chávez”. Mas já antes das eleições ficou claro que o modelo de Humala era como o de Lula no Brasil, e não Chávez na Venezuela e sua campanha eleitoral foi feita com ajuda de marqueteiros de Lula. As expectativas foram rapidamente transformadas em desilusão.

     Muitos socialistas já tinham alertado sobre os rumos de Humala, mesmo entendendo a determinação dos trabalhadores de não querer eleger, no segundo turno, a filha de Alberto Fujimori, que fez o infame “autogolpe” em 1992 e implementou duros ataques à classe trabalhadora.

Candidato da esquerda, mas governa como burguês…

     Mas, Humala não representava a classe trabalhadora e, sim, mais uma política populista e nacionalista. Até mesmo a revista britânica “The Economist” constatou que Humala foi “eleito como candidato de esquerda, mas governa como um burguês conservador”.

     Isso se tornou evidente no conflito em Cajamarca, no ano passado, onde a população defendia a última fonte de água potável contra a ganância por lucro das mineradoras. E Humala, vergonhosamente, se posicionou ao lado do capital.

     O governo de Humala foi marcado por escândalos de corrupção e uma constante troca de ministros para manter o nome do presidente limpo, mas o apoio do presidente caiu de 50% para 30% em seis meses.

     O último escândalo foi a chamada “repartição” (la repartija), onde os três partidos no congresso peruano (a aliança de Humala “Gana Peru”, a Aliança Popular Revolucionária Americana (APRA) e os fujimoristas) dividiram cargos no Estado. No acordo, cargos do Tribunal Constitucional e o cargo de Defensor Público foram parar nas mãos de gangsters. Até mesmo a mídia de direita admitiu que isso foi resultado de um acordo espúrio.

     Porém, o congresso teve que recuar diante de uma poderosa mobilização de 30 mil peruanos de todo o país contra a política do governo no centro de Lima. Várias fileiras de policiais foram montadas para barrar os manifestantes a chegar até o palácio presidencial e o congresso. Ao mesmo tempo, a mídia amigável ao governo falava que foram somente 500 manifestantes do APRA que atacaram violentamente a polícia.

     Enquanto isso, enfermeiras e médicos estavam há quase um mês numa greve nacional, reivindicando por salários e condições de trabalho. Um novo acordo foi assinado em 14 de agosto no qual os trabalhadores da saúde conseguiram certas concessões. Mas logo após foram declaradas novas greves nos aeroportos e o transporte público de Lima.

     É urgente a tarefa de construir uma ferramenta política para os trabalhadores e pobres do Peru, que não sejam plataformas para eleger populistas, mas um trampolim para a tomada do poder da classe trabalhadora.

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