Quem matou Ricardo?

     Ricardo Ferreira Gama, auxiliar de limpeza terceirizado na Universidade Federal de São Paulo – Baixada Santista, foi morto no dia 2 de agosto, alvejado com 8 tiros por 4 homens encapuzados. Menos de 48 horas antes, ele tinha sido agredido em frente ao campus por três policiais sem identificação.

     Alguns estudantes intervieram em defesa de Ricardo, indo até a delegacia qual os policias disseram estar o levando, sem qualquer alusão à acusação. Lá, eles foram intimidados e ameaçados, bem como Ricardo, que, menos de dois dias depois, estava morto.

     O campus da Unifesp-BS está instalado numa região central, próxima ao porto. Na rua da unidade central, a Silva Jardim, pessoas em situação de rua são constantemente abordadas violentamente pela polícia. Muitas vezes o assunto do “policiamento ao redor do campus” vinha à tona, quando algum estudante era assaltado. De repente, são os nossos – estudantes e trabalhadores – que estão sofrendo violência policial.

     Durante os meses anteriores ao assassinato de Ricardo, estudantes foram agredidos por policiais sob a alegação de estarem fumando maconha. Repúblicas foram invadidas pela polícia.

     Logo, o medo verteu-se em coragem. Pela primeira vez na história do campus, terceirizados se uniram a estudantes, técnicos e professores em espaços de discussões e num ato, realizado uma semana após a morte de Ricardo. Juntas, as quatro categorias com a família e os amigos de Ricardo, fecharam uma avenida de grande circulação em Santos, leram poemas, e entoaram palavras de ordem contra os crimes do Estado.

     A Polícia Militar, que alegava que Ricardo havia se machucado sozinho e encerrara a investigação interna contra os policias envolvidos na agressão, foi obrigada a reabrir o processo e afastar os policiais.

     O caso ganhou repercussão, e figuras públicas como Carlos Giannazi (Dep. Estadual – PSOL SP), Jean Wyllys (Dep. Federal – PSOL RJ) e Amanda Gurgel (Vereadora – PSTU Natal, RN) aderiram à campanha “Quem matou Ricardo?”. Movimentos como as Mães de Maio, Tribunal Popular, MTST também se juntaram à luta.

     Mas descobrir quem matou Ricardo e punir os assassinos não basta. É preciso que casos como o de Ricardo, Amarildo e tantos mais não sejam tratados de forma pontual. Queremos uma polícia desmilitarizada, sob controle dos trabalhadores, que promova segurança, em vez de assassinatos e desaparecimentos em massa.

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