Segundo turno em Curitiba – não dá pra escolher qual barbárie é pior
Dessa forma se encara o atual momento das eleições municipais na cidade de Curitiba, que tem o quinto maior orçamento municipal do país e o epicentro de onde surgiram os primeiros sinais do fortalecimento institucional da extrema direita.
Curitiba indica o pior cenário que pode se configurar em nível nacional, onde se apresenta uma terrível escolha entre o pior e a barbárie, ambos os lados com certas derivações do que se convencionou chamar de bolsonarismo, com políticas diretas de ataques à classe trabalhadora e à juventude.
Pimentel – a continuidade da barbárie
No segundo turno em Curitiba temos, de um lado, Eduardo Pimentel (PSD), que já ocupou uma secretaria no governo de Ratinho Jr e ao mesmo tempo cumpria papel de vice-prefeito da cidade, ao lado de Rafael Greca, uma espécie de seguidor de Jaime Lerner.
No seu mandato que durou 8 anos, o que já se esperava ocorreu, muitos benefícios para a burguesia curitibana. Vimos as empresas de ônibus recebendo milhões, ataques aos serviços públicos, como a categoria das e dos professores do ensino fundamental da cidade, fechamento de equipamentos como o CRAS, falta de vagas nos CMEIs (atuais creches) e um caos na saúde pública com a progressiva terceirização dos serviços que avançam para a privatização do SUS Curitibano.
Além disso, Greca e Pimentel ficaram marcados por uma espécie de higienismo no governo municipal. Para que se garanta a falsa propaganda de Curitiba como cidade modelo e inteligente, joga-se para bairros distantes, como se fossem bichos, os seres humanos em situação de rua.
Por trás dessa falsa propaganda temos uma política autoritária de repressão não apenas dessa população de rua, mas de toda a população de bairros pobres e periféricos da capital. Os métodos bárbaros de Greca e Pimentel fizeram, por exemplo, com que cerca de 200 famílias da ocupação Tiradentes II na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) fossem despejadas e deixadas na rua no dia mais frio da cidade.
Os problemas continuam e isso a população de modo geral sente e vê. Por exemplo, temos o transporte mais caro do país, um caos na saúde pública, uma total falta de programa de moradias populares, insegurança devido ao avanço da crise capitalista e do desemprego, que fazem com que os números da violência aumentem aqui e em qualquer lugar do mundo.
Cristina Graeml – a barbárie renovada
O segundo turno em Curitiba mais uma vez surpreende. Tivemos surpresas parecidas antes, como em 2012 quando Gustavo Fruet, um tucano que havia acabado de mudar de partido, chegou ao segundo turno e acabou vencendo Ratinho Jr naquela eleição.
A surpresa dessa vez foi Cristina Graeml (PMB), que chegou ao segundo turno contrariando as pesquisas. A candidata de extrema direita teve sua carreira construída por mais de uma década no principal jornal televisivo local (atualmente Meio-dia Paraná e Boa noite Paraná) e depois se consolidou como formadora de opinião na Gazeta do Povo, um porta-voz da extrema direita brasileira atualmente.
Graeml assusta, parece ainda mais perversa que Bolsonaro devido à sua capacidade oratória e objetividade no que propõe, mesmo que na última semana surgiram informações de que seu programa de governo teve pelo menos 80% de seu conteúdo produzido por inteligência artificial (IA). Graeml é declaradamente contra vacinas, desdenha da ciência, não declara abertamente que é contra minorias ou maiorias no caso das mulheres e seus direitos, mas desenvolve e reforça em seus programas e discursos que é “pró vida” (ou seja, anti-direitos reprodutivos às mulheres e pessoas que gestam), defende a família e além de ser uma mulher direita.
A lógica do mal menor não nos serve – antes e agora
A posição da esquerda no segundo turno é muito importante e deve se dar com base nos interesses da classe trabalhadora como um todo e num balanço dos limites e erros cometidos pelos seus setores hegemônicos da esquerda até agora.
A lógica do mal menor e das alianças amplíssimas como sendo, supostamente, a única forma de barrar a extrema direita, fez com que o PT apoiasse no primeiro turno Luciano Ducci (PSB), um candidato do sistema político, que apoiou o golpe contra Dilma e não tem compromissos com os movimentos de luta dos trabalhadores. A postura do PSOL de apresentar candidatura própria foi correta ao buscar acumular forças para uma alternativa de esquerda que não tenha medo de dizer a que veio.
A mesma lógica errada do menos ruim, que descaracteriza a esquerda em toda parte e assim favorece a direita, pode levar alguns setores a buscarem um mal menor que não existe nesse segundo turno em Curitiba. Mesmo o PT (e até o próprio Ducci, do PSB) não declarando apoio a nenhum dos candidatos do segundo turno, o que vemos é ambiguidade e confusão entre certos setores. Alguns falam que há um lado “mais dialogável”, mas nossa experiência concreta demonstra que isso não é verdade.
Por isso, não faz sentido depositar qualquer expectativa em nenhuma das duas “pseudo” alternativas, justamente porque ambas não servem à classe trabalhadora. Pelo menos dois exemplos básicos podemos citar aqui para mostrar isso. Ambas as candidaturas têm uma política de aprofundamento e piora do sistema de saúde municipal (SUS), com terceirizações e consequentemente preparam o terreno para privatizações. Além disso, defendem que as guardas municipais passem a se tornar polícia municipal, com uma postura cada vez mais repressiva dando condições para que mais vidas jovens, negras e pobres sejam brutalmente ceifadas por morarem em bairros pobres e periféricos da cidade.
O papel da esquerda socialista no segundo turno
Nós, socialistas revolucionários, temos uma missão para esse segundo turno: repudiar ambos os candidatos, apostar na preparação da luta pela base dos trabalhadores e da juventude e lutar para que se construa um campo independente da classe trabalhadora na capital.
O PSOL conseguiu eleger sua primeira vereadora na cidade e já se posicionou pelo voto nulo no 2° turno corretamente. É um passo importante para o enfrentamento futuro contra quem quer que venha a se eleger. Além disso, após mais de uma década de existência do partido na cidade, podemos avançar na construção de uma esquerda consequentemente e que possa radicalizar seu discurso e ação. O PT elegeu duas vereadoras e um vereador.
Nessas eleições, observamos em Curitiba uma alta taxa de abstenções (394.912), votos nulos (47.728) e brancos (45.913), somando um total de 488.553 pessoas. É necessário buscar incansavelmente organizar a insatisfação popular desses quase meio milhão de pessoas que não se sentiram representados por nenhuma das candidaturas apresentadas no 1° turno, e fazer com que isso se torne organização e luta de massas nas ruas.
Nossa aposta principal é na organização dos movimentos da classe trabalhadora, da juventude, e todos os setores oprimidos nos locais de trabalho, moradia e estudo, organizando a resistência contra os ataques que inevitavelmente virão e levantando nossas bandeiras de luta e nossa visão de um futuro socialista.
Fazendo isso, em um futuro próximo, poderemos também ser exemplo ao Brasil de como corajosamente enfrentamos a pressão das eleições burguesas, não fomentamos ilusões e nem confiança que a saída se dará pelas instituições podres desse regime e que conseguimos dar uma resposta à altura no enfrentamento da extrema direita curitibana e brasileira.