Os bancos e a nova relação de forças

O jornal “Valor Econômico” de 06/08 traz uma matéria muito interessante sobre as ações radicalizadas contra bancos e outros símbolos capitalistas nas manifestações recentes intitulada “Depredações deixam perdas milionárias”.

 
Não quero abordar aqui o tema da eficiência ou não desse tipo de ação “black bloc”. Esse debate fica para outro espaço, embora eu esteja entre aqueles que, mesmo sem nenhuma pena das víboras, entendem que radical mesmo é expropriar os bancos e não quebrar a vidraça das agências. Também acho que mais consequente é organizar greves de bancários (que, aliás, estão em campanha salarial) e não atirar coquetel molotov em agências correndo o risco de matar trabalhador como aconteceu na Grécia em 2010.
 
De qualquer forma, a matéria dessa verdadeira circular interna da burguesia chamada “Valor Econômico” é muito interessante sob outro aspecto. Ela dá uma clara noção de como a relação de forças mudou na sociedade a partir de junho.
 

Segundo a reportagem, os grandes bancos contam às dezenas o número de agências atacadas e destruídas parcialmente nos últimos dois meses. Somente um dos grandes bancos fala em mais de 60 agências atacadas. A estimativa (considerada conservadora) é de um prejuízo de 20 milhões de reais para esse banco.

Medo de parecer contra as manifestações
 
Mas, o mais interessante é outra informação da reportagem:
 

“Desde que as manifestações de rua ganharam força, há dois meses, não foram só as diversas esferas de governo e a classe política que ficaram em posição incômoda e sem saber a certo como responder. Alvo preferencial de depredações, os grandes bancos do país, identificados como símbolos do capitalismo pelos manifestantes de tendência anarquista, já amargaram algumas dezenas de milhões de reais de prejuízos. E tem contabilizado as perdas em silêncio, receosos de que qualquer palavra possa ser interpretada como um posicionamento contrário aos movimentos populares”.

Quer dizer que os bancos sofrem calados que é pra não provocar ainda mais a ira das ruas contra esses símbolos do capitalismo? Não querem parecer contrários aos movimentos populares? Poucas coisas indicam mais e melhor o novo ambiente no país.
A matéria diz ainda que os bancos (que não quiseram se pronunciar sobre o tema) tem evitado tratar do assunto no âmbito da Febraban, a federação que os representa, para não correr o risco de “politizar o problema e aumentar a tensão”.
 

Quando os bancos temem parecer publicamente contrários à destruição de suas próprias agências e arcam com prejuízos milionários é porque algo de muito novo começa a surgir nesse país.

 
Lucros, demissões, precaução e cinismo
 

É evidente que 20 milhões de reais de prejuízo não é grande coisa para um Itaú-Unibanco, por exemplo, que acaba de anunciar lucros de mais de 7 bilhões de reais no primeiro semestre de 2013 (o segundo maior da história dos bancos brasileiros, só perdendo para o próprio Itaú em 2011).

Ainda assim, o que chama a atenção é a preocupação em não parecer estar contra as manifestações. A precaução parece justificada. O medo de que os bancos passem a ser o centro do ódio popular tem explicação evidente.
 

Pra dar uma ideia do papel das víboras, o lucro bilionário não impediu o Itaú de promover demissões massivas. Foram 4458 demitidos desde junho de 2012. A mesma dinâmica é adotada pelos demais bancos: lucros, demissões e cinismo.

 
Seguro contra manifestações
 

A matéria do “Valor” diz ainda que são os bancos que arcam com os custos da reforma de suas agências e máquinas destruídas. Isso porque no seguro patrimonial das agências, em geral, não há coberturas adicionais para “tumulto e vandalismo”, pois, segundo o jornal, “o país não registrou manifestações de grandes proporções na última década, até as grandes mobilizações que começaram em junho”.

Até junho, queda de raios, enchentes e incêndios eram mais frequentes que manifestações. O clima definitivamente mudou.