Maria Clenilda, um luto que pode virar luta
Não é novidade, que na Avenida Amaral Peixoto, em Rio das Ostras, ocorram acidentes: atropelamentos, batidas de carro, de motocicletas, bicicletas, são imagens que fazem parte do cenário mais cotidiano desta cidade. O caos urbano se instala numa cidade que aumentou seu número de habitantes em mais de 100% na última década e traz consigo este cruel fator que se contrapõe ao direito de ir e vir: o risco de morte.
No dia 25 de Maio deste ano, a comunidade da Universidade Federal Fluminense, do Pólo Universitário de Rio das Ostras pôs o “bloco na rua”. Manifestaram-se por diversos direitos não garantidos, pela falta de sala de aula, por alojamento, por bandeijão, por segurança e ainda pela instalação de um sinal de trânsito em frente ao Pólo para que os estudantes, professores, técnicos e todos os cidadãos pudessem atravessar sem que para isso fosse necessário arriscar as suas vidas.
Como tudo nesta cidade só funciona com pressão, no dia seguinte o sinal de trânsito estava sendo instalado. O que causou espanto é que desde então ele estava lá, mas desligado. E permaneceu assim até o dia 25 de agosto de 2011. Um dia após a morte da aluna Maria Clenilda, que tentou atravessar a rua para a universidade, o semáforo foi ligado.
Além da falta de um sinal nos ambientes de alto tráfego de pessoas a carência de guardas de trânsito pelas ruas de Rio das Ostras é coisa a se questionar. Onde estão todos os guardas concursados? Pra que fim o seu trabalho foi direcionado? Não é difícil a resposta: guardar o patrimônio material da prefeitura. Enquanto isso, o patrimônio humano fica refém do acaso, da pressa, das tensões cotidianas que são impostas pelo capitalismo.
Desta forma, a segurança de transitar, que deveria ser garantida pelo poder público passa a ser privada, garantida pelo próprio indivíduo. Por tudo isto, a indignação dos amigos de Maria Clenilda transformou-se em ato. No dia 25/08 os estudantes e professores foram para a Rodovia Amaral Peixoto expor a situação de descaso com a vida. Sob a palavra de ordem: “Prefeito, Prefeito, cadê o meu direito”, manifestaram o luto, a revolta, e dialogaram com os motoristas que passavam e indagavam.
Após o ato, houve uma reunião que decidiu por realizar ainda um próximo ato na quarta-feira, 31/08, 16h: Ato de Sétimo Dia, com uma caminhada até a prefeitura e apresentação das reivindicações da comunidade acadêmica.
O óbito de Maria não pode ser mais um que desapareça sob o silêncio dos “jornais” que evidenciam uma cidade perfeita. Os estudantes, professores e a comunidade da UFF têm um dever, não apenas com sua amiga e família, mas com toda a sociedade. Todos ao Ato de Sétimo dia! Todos de Luto! Blusas e Fitas pretas!
“Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta”
Jonathan Oliveira é professor, estudante da UFF e um ser humano que poderia estar no lugar de Maria Clenilda