Segundo turno – Para derrotar Bolsonaro e arrancar direitos – votar em Lula e mobilizar a classe trabalhadora!

A maioria dos brasileiros rejeitou Bolsonaro no primeiro turno das eleições presidenciais. Bolsonaro ficou atrás de Lula por uma diferença de 6,18 milhões de votos. 

Apesar disso, o presidente genocida demonstrou mais uma vez que não é cachorro morto. Ele segue sendo uma ameaça no segundo turno e continuará sendo um fator de desestabilização e risco mesmo se perder as eleições. 

Combater Bolsonaro nas urnas e nas ruas continua sendo a tarefa central. Nesse momento, isso inclui necessariamente um chamado ao voto em Lula, apesar de todas as diferenças que temos com sua política de colaboração de classes e alianças com setores da direita. 

É fundamental que todos nós, os trabalhadores e o povo oprimido, os movimentos sociais e a esquerda, partamos para a ação já, mas armados com uma política correta e aprendendo as lições dos erros cometidos nesse primeiro turno.

A ameaça bolsonarista pode ser derrotada

Na reta final da campanha, Bolsonaro conseguiu ampliar sua base social tradicional e obter mais votos do que muitos esperavam. Superou sua base de apoio que girava em torno de 30% e chegou até os 43,2% que, por fim, obteve no primeiro turno, contra os 48,4% de Lula. 

Conseguiu isso recuperando uma parte dos eleitores que havia perdido desde 2018, principalmente devido à sua gestão criminosa da pandemia, da crise econômica e dos casos de corrupção que rondam o governo e a família do presidente.

Entre esses ex-eleitores de Bolsonaro encontram-se muitos que haviam sido mobilizados pela retórica anticorrupção e foram iludidos pela “Operação Lava Jato”.

Com a intensificação da polarização entre Bolsonaro e Lula e a feroz ofensiva antipetista no último período, combinando retórica anticorrupção com terrorismo ideológico anti-esquerda, parte desses setores voltaram ao leito bolsonarista contra Lula. 

Isso também influenciou uma parte dos potenciais eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet, além de parte dos indecisos, que também optaram por votar contra Lula já no primeiro turno. 

Bolsonaro não conseguiu reverter sua enorme rejeição entre as camadas mais pobres da população apesar de suas medidas eleitoreiras em torno do Auxílio Brasil etc. Ainda assim, se juntarmos isso com a campanha sistemática dos pastores evangélicos de extrema-direita e a prática clientelista alimentada pelo orçamento secreto na Câmara, veremos que ele conseguiu algum crescimento nesses setores.

Nada disso deveria ser uma surpresa ou motivo para desânimo nas fileiras da classe trabalhadora. Apesar do impacto do uso da máquina do governo nas eleições, Bolsonaro é o primeiro presidente em exercício do mandato que não consegue chegar ao segundo turno em primeiro lugar. Sua rejeição segue alta e consistente e seu potencial de crescimento não é grande.

É perfeitamente possível derrotar Bolsonaro no segundo turno e estamos confiantes nisso. Ainda assim é fundamental que nossa campanha contra Bolsonaro aprenda dos erros cometidos até agora e não subestime o inimigo.

Erros na campanha de Lula

É preciso que se diga de forma explícita. Foi um erro da campanha de Lula e de outros setores da esquerda dar uma ênfase absoluta na necessidade de uma vitória já no primeiro turno e não preparar a militância para um cenário (que não era nada improvável) de uma dura batalha no segundo turno.

Ao adotar um tom triunfalista sobre as possibilidades de vitória no primeiro turno (algo que não acontece desde 1998 em uma eleição presidencial) subestimou-se o peso do bolsonarismo e principalmente do antipetismo. 

Ainda mais grave, ao dizer que se a eleição fosse para o segundo turno os riscos seriam muitíssimo maiores, provocou-se pânico, desânimo e desorientação quando isso de fato aconteceu.

Some-se a isso as contradições estruturais da candidatura de Lula/Alckmin. A candidatura de Lula foi construída a partir de uma aliança ampla, incluindo setores da burguesia e da direita dita ‘democrática’. Isso implicou em um programa vago que não se compromete com mudanças estruturais e busca convencer o empresariado de que eles não têm o que temer.

Isso também implicou em uma campanha que não apostou na militância ativa e consciente da esquerda e dos movimentos sociais, na organização de base, na atuação nos locais de trabalho, estudo e moradia. 

A preocupação fundamental da direção da campanha de Lula foi provar seu compromisso com a pacificação do país e a confiança em suas instituições.

O resultado foi que o bolsonarismo assumiu a ofensiva nas ruas, como demonstrou o 7 de setembro e outras situações. Essa ofensiva reacionária da direita foi revestida de um antipetismo agressivo e muitas vezes violento. 

A única forma de conter essa agressividade e violência da extrema-direita é através da demonstração da força descomunal que tem nossa classe e seus movimentos organizados, desde que mobilizados e com uma orientação correta. 

Isso não aconteceu no primeiro turno. Na verdade, mesmo antes do início da campanha eleitoral não se deu prioridade à mobilização pelo ‘Fora Bolsonaro’ e à unificação das lutas. Foi um erro que já conduziu a outras derrotas no passado. Isso precisa mudar agora.

Alianças amplas e acordos de cúpula não ajudam

O primeiro turno também demonstrou que a aposta nas alianças amplas, incluindo setores da direita, não ajudou e até mesmo atrapalhou o desempenho da esquerda.

O resultado do primeiro turno em São Paulo deixa claro que a aliança com Alckmin e Márcio França não trouxe mais votos e ainda gerou confusão nas fileiras da esquerda. 

A ofensiva do ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, candidato a governador em São Paulo que acabou em primeiro lugar, foi alimentada pela base tucana no estado. Hoje o próprio governador e ex-candidato à reeleição Rodrigo Garcia (PSDB) aderiu ao campo bolsonarista de mala e cuia e sem qualquer vestígio de vergonha na cara.

Não ficou demonstrado apenas a falência total do PSDB, mas também a irrelevância de políticos como Geraldo Alckmin. Não deve ser tarefa da esquerda esforçar-se para ressuscitar cadáveres políticos.

No Rio de Janeiro também ficou provado que a linha adotada por Marcelo Freixo de renunciar a um programa de esquerda, aliar-se com a direita neoliberal (como César Maia e Armínio Fraga) e descaracterizar uma história de lutas só serviu para tornar mais desmoralizante sua derrota e dificultar a reconstrução de uma alternativa de esquerda sobre bases políticas sólidas.

A tendência da direção da campanha de Lula de aprofundar ainda mais sua aposta no rebaixamento programático e nos acordos com políticos de direita não é o caminho certo. Além de Simone Tebet, Lula tem falado até mesmo em obter o apoio de Eduardo Leite (PSDB-RS). Antes tinha mencionado até a necessidade de se dialogar com o neo bolsonarista Rodrigo Garcia (PSDB-SP).

O caminho deve ser outro. Ao invés de apostar nos acordos de cúpula com a direita, deve-se investir todas as forças na mobilização de base.

Apostar na mobilização e levantar as bandeiras da mudança real

Para reconquistar o apoio entre setores da classe trabalhadora e das classes médias que se iludem com Bolsonaro é preciso dizer em alto e bom som que serão os super-ricos, os bilionários, que deverão pagar para que a saúde e a educação sejam recuperadas e se possa gerar empregos com condições de trabalho e salários dignos. É preciso dizer que se revogará todas as contrarreformas que tiram direitos promovidas por Bolsonaro e Temer. 

A defesa de uma pauta social radical em defesa dos trabalhadores e mais pobres é a forma de se conquistar o apoio de amplos setores hoje refratários a Lula e ao PT, incluindo a base das igrejas evangélicas apesar de todo o terrorismo ideológico que se está construindo.

A mobilização na campanha do segundo turno será ainda mais necessária para impedir qualquer aventura de tipo golpista por parte de Bolsonaro. A agressividade bolsonarista contra o resultado eleitoral no caso de uma derrota é um desfecho inevitável, não nos iludamos. A questão aqui é se conseguiremos ou não garantir nas ruas uma correlação de forças efetivamente capaz de minimizar os efeitos dessa postura golpista.

O povo e a classe trabalhadora mobilizados também poderão iniciar uma nova época de lutas sindicais, populares, da juventude e arrancar conquistas que hoje não estão nem mesmo no programa da aliança Lula/Alckmin. Essa mobilização será fundamental para que a extrema-direita bolsonarista não se recupere com força depois das eleições.

O número expressivo de senadores e deputados bolsonaristas eleitos em 2 de outubro serão um obstáculo que só poderá ser superado através da mobilização e organização da classe trabalhadora e dos setores oprimidos. É a força das ruas contra o conservadorismo das instituições.

O PSOL obteve um avanço importante aumentando sua bancada de oito para doze deputados federais. Isso se deu basicamente nas regiões sudeste e sul do país e não conseguimos eleger parlamentares na decisiva região nordeste. A falta de um perfil próprio independente, com um programa consequente de esquerda, tirou protagonismo do partido nessa conjuntura decisiva. É preciso reverter essa situação.

Entendemos que o papel do PSOL e das organizações da esquerda socialista (incluindo PSTU, PCB e UP) e dos movimentos sociais combativos é assumir para si a tarefa de promover a mobilização na base e a unificação dos esforços na luta contra Bolsonaro em torno a um programa socialista. 

É preciso fazer isso mesmo se a direção da campanha de Lula não se dispuser a fazê-lo. Com todo a responsabilidade e firmeza é preciso mobilizar nas ruas em torno a uma pauta de esquerda e que aponte para mudanças radicais.

A LSR se coloca como parte do esforço para construir essa mobilização pela derrota do bolsonarismo, pela vitória de Lula, em que pese nossas diferenças, e principalmente para acumular forças para a construção de uma alternativa de esquerda e socialista no Brasil.

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