São Paulo: Reencontrar o caminho da resistência! Voto crítico em Haddad e Lula para vencer Tarcísio e Bolsonaro! Ocupar as ruas para vencer a extrema direita!

O resultado eleitoral do primeiro turno para as eleições do governo de SP trouxe com ele a dura realidade da força do bolsonarismo e da direita conservadora no estado. Tarcísio de Freitas, apoiado por Bolsonaro, um candidato que nunca viveu no estado e sequer sabia o nome do bairro onde votaria, recebeu 42,32% dos votos. Isto representou uma virada sobre Fernando Haddad, do PT, que manteve o índice de votos previsto para ele pelas pesquisas anteriores à votação: 35,70%. O mesmo se pode dizer a respeito do próprio Bolsonaro sobre Lula na eleição especificamente em SP, já que, também segundo as pesquisas, este último liderava a corrida no estado.

Assim como foi o governo de Bolsonaro em nível nacional, Tarcísio promete ser um desastre para o povo trabalhador de São Paulo. Seu programa é um misto perigoso de neoliberalismo agressivo, autoritarismo truculento e conservadorismo obscurantista. Um aprofundamento fatal dos piores aspectos dos tradicionais governos de direita do estado. Ainda que seja preciso dizer, foram as políticas de destruição de direitos aplicadas por Covas, Alckmin, Serra, Doria e Garcia que preparam o terreno para o programa da extrema direita hoje. Resultaram em um estado com a segurança pública em crise, os serviços públicos sucateados, alto índice de desemprego enquanto o governo guardou caixa para disputar eleições etc. São Paulo é onde a burguesia mais rica do país convive com a população de rua que mais cresce no mundo. Tarcísio e Bolsonaro não apenas não darão qualquer resposta a esta realidade, como tornarão mais difíceis as condições de luta contra ela. Por isso, assim como é necessário nacionalmente um voto crítico defensivo na frente ampla de Lula e Alckmin, o mesmo se repete em SP para Haddad e França.

A expectativa exagerada de que, pela primeira vez, a direita não governaria São Paulo gerou alguma decepção. No entanto, existe espaço para combater o desânimo e reencontrar o caminho da vitória. Isto é fundamental na medida em que é possível, também, retomar a dianteira de Lula e vencer a batalha eleitoral nacional na votação do estado. Algo crucial para impedir o retorno de Bolsonaro à cadeira presidencial pela via das urnas.

A receita para isso é uma correção no curso trilhado pela esquerda até aqui. Não se trata apenas das eleições. O quietismo eleitoral imposto pelos setores dirigentes das campanhas de Lula e Haddad se provou incapaz de impedir o crescimento e entrincheiramento do conservadorismo e da direita liberal sob a direção da extrema-direita reacionária. Enquanto a classe trabalhadora foi aconselhada a não fazer greves, a juventude e setores oprimidos a não fazer manifestações de rua para não afastar possíveis eleitores conservadores, mas democratas, a extrema direita ocupou as periferias, as redes e apresentou sem pudores a suas ideias. A própria campanha de Haddad reeditou erros de 2018, vacilando em compromissos com o empresariado (como na defesa de concessões e parcerias público-privadas), apresentando poucas propostas populares, e, visivelmente, tomando a preferência de enfrentar o candidato bolsonarista no segundo turno. Além disso, o acordo feito com Márcio França para abrir espaço para a candidatura do Haddad em troca da candidatura ao senado, agregou em nada e até afastou parte da classe trabalhadora, levando a um aumento do voto da candidata da UP, Vivian Mendes, que saiu com 280 mil votos. 

O aceno à “direita democrática” foi presenteado com o apoio de Kassab a Tarcísio desde o primeiro turno, a eleição do astronauta Pontes para o senado, e as declarações de apoio ao bolsonarismo por parte do governador derrotado Rodrigo Garcia e do prefeito da capital Ricardo Nunes, além de outros prefeitos.

As consequências podem ser mais profundas. Se estendem desde o período anterior à campanha eleitoral e vão para além dele. Manter a classe trabalhadora, a juventude e os setores oprimidos permanentemente mobilizados em defesa de seus interesses é fundamental para a disputa ideológica no conjunto da sociedade e combate ao sequestro da consciência gerado pela extrema direita. Da mesma maneira, é o único caminho para preparar a necessária resistência e enfrentamento contra os reacionários na batalha pelas ruas, independente do resultado eleitoral. A canalha proto-fascista seguirá organizada. O resultado das eleições proporcionais, nacional e estadualmente são suficientes para demonstrá-lo. Em todos os momentos históricos em que se preferiu saídas institucionais contra a extrema-direita ao invés da organização de mobilização do movimento de massas, o resultado foi uma invariável derrota. 

O avanço do PSOL no estado, indo de 3 para 5 deputados/as federais e de 4 para 5 deputados/as estaduais, mostram que existe um espaço importante para uma esquerda consequente. Esses mandatos precisam ser colocados a serviços das lutas e um programa socialista, e não se limitar a um apoio de governos do PT. 

Até o dia 30 de outubro, deveremos ir às ruas e apresentar a necessidade de vencer o bolsonarismo nas urnas. Para tanto, não bastará defender as instituições e a democracia burguesa. É preciso reacender a chama dos setores populares na luta por sua independência e suas próprias pautas. Este é o único caminho para que distingam seus aliados de seus inimigos. Devemos dizer sem medo que, para além de votar, deveremos continuar organizados para fazer com que os milionários paguem pela crise, garantir nossos empregos e direitos, aumentar nossos salários, cancelar nossas dívidas, reduzir nossas jornadas, nos livrarmos de toda a opressão e impôr transformações ainda mais profundas na sociedade. Não há atalhos! Arregaçar as mangas!