Olimpíadas 2016 – vitória para quem?

As obras do Pan-americano Rio 2007 foram marcadas por irregularidades como desvio de dinheiro público e superfaturamento. Alguém dúvida que ocorrerá o mesmo nas Olimpíadas de 2016?

A utilização de grandes verbas públicas em projetos que não são prioritários para a melhoria de vida das pessoas, pode ser percebida, por exemplo, na construção do Estádio Olímpico João Havelange (Engenhão) para o Pan-americano, inicialmente orçado em R$ 60 milhões, teve um custo final mais de seis vezes maior do que o esperado, R$ 380 milhões. Além disso, os gastos com reparos de manutenção do estádio foram orçados à época da licitação ao patamar de R$ 400 mil por mês.

Poderíamos pensar pelo menos que foi melhor para os atletas, mas na verdade não foi. Por exemplo, a pista de atletismo permaneceu inutilizada durante todo o ano de 2008. Em 2009, voltou a ser usada em apenas duas ocasiões: Troféu Brasil de Atletismo e o GP Internacional. Um dos projetos previa que os aparelhos custeados pelo Ministério do Esporte ficassem no estádio para atender projetos sociais previstos desde a inauguração do estádio. Mas o equipamento não ficou no estádio e a pista continua sem uso.

Desde 2007 o Botafogo foi declarado o gestor oficial do estádio até 2027 pagando R$ 36 mil mensais, ou seja, foram gastos 380 milhões inutilmente, e agora o governo arrecada 36 mil mensais. Todo esse dinheiro poderia ter sido gasto com questões mais essenciais como a melhoria dos transportes públicos por exemplo.

O que resta dos grandes investimentos?

O que restou para a população do Rio do PAN 2007? A resposta é nada. O que restará para a população das obras das Olimpíadas 2016?

O orçamento inicial das Olimpíadas Rio-2016 prevê gastos de R$ 25,9 bilhões. A maior parte da verba virá dos cofres dos governos (federal, estadual e municipal) e será usada em obras de infra-estrutura para a cidade, na maioria dos casos na Barra da Tijuca que será uma espécie de sede dos jogos.

Analisando historicamente a construção por parte dos Governos Estadual e Municipal de infra-estrutura no Rio de Janeiro, percebemos que os investimentos em água e esgoto caracterizaram-se por uma profunda segregação espacial e econômica, pois as populações de alta e média renda foram privilegiadas em seu território de habitação em detrimento das populações mais pobres que receberam menores investimentos nas áreas onde vivem.

Segundo dados do Censo do IBGE, 71,78% da população no Rio de Janeiro tinham acesso à rede de esgotos no início dos anos 2000, porém na Zona Oeste e na Baixada Fluminense (locais de renda mais baixa), essa rede alcançava apenas 11,07% e 20,31% respectivamente.

Podemos perceber a luta de classes no espaço urbano na disputa por infra-estrutura. O Estado pode gerar infra-estrutura em locais de interesses da burguesia gerando valorização fundiária na área ou o Estado pode gerar infra-estrutura nas favelas, beneficiando os pobres moradores. A opção de Lula (PT), Sergio Cabral (PMDB) e Eduardo Paes (PMDB) é obviamente privilegiar com investimentos as áreas de moradias da burguesia e abandonar as áreas de moradias dos trabalhadores.

Os jogos Olímpicos no RJ são uma derrota para a população pobre, pois as obras que serão feitas vão aprofundar a segregação urbana. Isso ocorrerá porque haverá investimentos massivos dos governos na Barra da Tijuca (área nobre do Rio onde ocorre uma forte especulação imobiliária), em detrimento de investimentos nas favelas.

A pobreza como caso de polícia

 As favelas abrigam um terço da população total da capital carioca e a policia do RJ é a que mais mata no mundo. A violência policial aumentou significativamente no governo Sergio Cabral (PMDB) que mata jovens inocentes geralmente pobres negros favelados, oficializando a criminalização da pobreza.

Com as Olimpíadas de 2016 a violência policial deve aumentar (o governo promete contratar mais 31mil policiais até as Olimpíadas) para garantir a “segurança” do evento e a insegurança dos moradores das favelas. A política de ocupações policiais nos morros já começou e vários moradores tiveram suas casas destruídas e invadidas, tanto pelos traficantes em guerra entre si, como pelos policiais. O número de inocentes baleados também deve aumentar com o aumento dos confrontos.

A segregação aumenta

Os governos Municipal e Estadual querem ainda construir muros para isolar as favelas no período das Olimpíadas, segregando os moradores das favelas, um verdadeiro absurdo e um atentado contra o direito de ir e vir. Retomar a idéia da cidade como local por excelência da construção da convivência é necessário, pois só assim se poderá começar a pensar como seria possível uma cidade compartilhada por todos os indivíduos.

Somente a organização dos moradores de favelas em conjunto com os sindicatos e os movimentos de sem-teto, poderá garantir protestos de massa contra a violência e contra a segregação urbana. A defesa da vida, dos direitos humanos e da reforma urbana, se expressa na luta contra a política de extermínio dos pobres que é feita pelos governos municipal, estadual e federal. 

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