Lutar nas ruas e locais de trabalho pelo fim da escala 6 X 1!

Por um plano de lutas, manifestações e greves pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários!

O fim da escala de trabalho 6 X 1 tornou-se um dos temas mais discutidos no país nos últimos dias. 

Uma demanda legítima da classe trabalhadora rompeu o bloqueio da mídia, do reacionarismo político dominante e até mesmo da moderação e covardia de setores da própria esquerda e está tirando o sono dos representantes da classe dominante e do próprio governo.

A iniciativa do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), encabeçado pelo recém-eleito vereador do PSOL, Rick Azevedo, e de onde nasceu o projeto de emenda à Constituição apresentado pela deputada Erika Hilton (PSOL), ganhou enorme repercussão. 

A simpatia massiva à proposta já fez com que muitos parlamentares se sentissem obrigados a assinar a proposta, viabilizando sua tramitação na Câmara de Deputados.

O fim da escala 6 X 1 significa a redução da jornada de trabalho sem redução de salários. Essa é uma reivindicação histórica dos movimentos da classe trabalhadora. É uma bandeira que se renova permanentemente e mantém toda sua atualidade em um capitalismo onde só o que cresce é a desigualdade, precarização, superexploração, opressão, o que leva ao adoecimento massivo de quem vive do trabalho. 

Durante décadas, a resposta das classes dominantes à crise do capitalismo foi a retirada de direitos sociais e trabalhistas e a superexploração. 

No Brasil, as greves e lutas de massas impuseram a fórceps a inclusão de alguns direitos básicos na Constituição de 1988. Desde então, o principal esforço dos políticos da classe dominante foi o de esmagar esses direitos, retirá-los na lei ou na marra, culminando com a contrarreforma trabalhista de Temer e Bolsonaro, até hoje mantida, mesmo sob um governo do PT.

Mesmo em 1988, a redução da jornada de trabalho de 48 para 44 horas semanais ficou aquém da demanda do movimento sindical que lutava por uma jornada de no máximo 40 horas semanais. As 44 horas vigentes hoje se traduzem na escala de trabalho 6 X 1. Mas mesmo isso é relativo porque, na prática, a precarização faz com que milhões de trabalhadores trabalhem muito mais do que isso e com menos direitos.

Durante anos as centrais sindicais e partidos de esquerda assumiram uma postura apenas defensiva em relação aos direitos dos trabalhadores. Mesmo sob governos do PT ou quando a correlação de forças sociais e políticas era melhor do que tem sido atualmente – como durante as jornadas de junho de 2013 ou no processo que levou à greve geral de 2017 – as direções sindicais e de esquerda hesitaram em levantar uma pauta por mais direitos e por transformações radicais. 

O resultado é que esse rebaixamento do horizonte de conquistas provocou uma decepção de muitos com o movimento sindical e a esquerda. Acabou abrindo caminho para alternativas reacionárias populistas de extrema-direita. Na prática nem sequer serviu para defender o que já se tinha.

Essa postura de se limitar a escolher o mal menor, adotada nos movimentos e nas eleições, desarmou a esquerda e o movimento dos trabalhadores e só levou a derrotas. 

A luta pelo fim da escala 6 X 1 e sua substituição por uma jornada de trabalho de no máximo 36 horas semanais, com uma escala de 4 X 3, como propõe o projeto, representa potencialmente uma mudança de perspectiva. 

Trata-se de uma demanda bastante concreta e ao mesmo tempo radical, mexe com a raíz dos problemas da classe trabalhadora em um capitalismo periférico em crise. 

Qualquer trabalhador é capaz de responder a qualquer dos argumentos esfarrapados de patrões e seus porta-vozes contra a medida. O chororô sobre quebra de empresas, sobre aumento do desemprego, sobre o Brasil não ser a Dinamarca, etc. não cola, não sensibiliza ninguém. 

Quem vive para trabalhar e, portanto, não vive de verdade, sente como é insana essa jornada de trabalho e sabe que os patrões sempre vão espernear diante de qualquer mínima ameaça sobre seus lucros e privilégios.

Ao mesmo tempo em que a reivindicação atinge corações e mentes da classe trabalhadora por ser clara e concreta, ela também, potencialmente, é capaz de elevar o nível de consciência dos trabalhadores sobre a necessidade de uma transformação social radical para de fato permitir que essa medida seja implementada. 

Essa demanda define os lados em disputa, estimula a consciência de classe, questiona a ilusão na conciliação, desmascara a extrema direita pró-patronal e pode colocar a luta política em outro patamar.

Ajudar a transformar esse potencial de consciência e ação em realidade é a tarefa prioritária da esquerda socialista consequente.

Mas, não é isso que o governo Lula está fazendo. O discurso oficial nesse momento é o de que o governo está acompanhando o debate. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ex-dirigente sindical metalúrgico do ABC Paulista, foi mais longe. Marinho defende que qualquer medida em relação à jornada de trabalho seja adotada em comum acordo entre trabalhadores e empresários. Por trás dessa retórica de conciliação e colaboração de classes está, na prática, a posição dos patrões.

A tarefa principal da esquerda socialista e do movimento sindical combativo hoje não é implorar que Lula apoie a medida, mas sim organizar a luta que vai pressionar governo e patrões a engolir essa reivindicação.

Nossa tarefa é transformar a simpatia e apoio ao fim da escala 6 X 1 manifestado nas redes sociais e nas conversas na fábrica, no bairro, na escola, no bar, em luta concreta. Uma luta organizada na base, de massas, utilizando-se dos métodos de luta da classe trabalhadora, incluindo as greves e a greve geral. 

O projeto da deputada Erika Hilton não deve servir apenas como estímulo ao debate. Deve ser uma bandeira de luta de que não abrimos mão.

É hora de construirmos um plano de lutas, com manifestações e greves, pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários! Começamos no dia 15 de novembro, mas temos que ir muito mais longe!