Esmagar a ameaça bolsonarista com a força da mobilização

No dia 7 de setembro, o bolsonarismo mais uma vez mostrou sua face misógina, reacionária, violenta e golpista e expôs suas entranhas em várias partes do país, com destaque para Brasília, Rio e São Paulo. 

Muitos milhares foram às ruas em manifestações de apoio à reeleição de Bolsonaro, mas também bradando palavras de ordem contra o STF, exigindo o extermínio da esquerda e pedindo intervenção militar. 

Bolsonaro, em seu discurso, evitou repetir os mesmos palavrões contra ministros do STF utilizados no ano anterior, mas estimulou a horda bolsonarista na esplanada dos ministérios e por todo o país. Ao lado do “véio da Havan”, empresário abertamente golpista, desafiou na prática o TSE e fez um comício eleitoral, pago com dinheiro público e que descumpriu várias normas eleitorais.

Mesmo sem ter força para qualquer ação disruptiva de imediato, as manifestações demonstraram que Bolsonaro continua sendo uma ameaça real contra as liberdades democráticas. Suas ações e sua retórica são estímulos à violência contra quem quer que defenda os direitos dos trabalhadores, das mulheres, negros e negras, juventude, população LGBT+ etc.

Assassinato bárbaro

No mesmo dias que as manifestações bolsonaristas, o apoiador de Bolsonaro Rafael de Oliveira assassinou Benedito Cardoso dos Santos, um apoiador de Lula, em Confresa (MT), depois de uma discussão política. O assassino bolsonarista tentou decapitar a vítima com um machado e fez vídeos e fotos do corpo. 

Isso aconteceu dois meses depois do assassinato do militante do PT Marcelo Arruda por um bolsonarista que invadiu sua festa de aniversário em Foz do Iguaçu (PR). Esses e outros episódios de violência da extrema-direita são cada vez mais recorrentes e respondem ao estímulo dado por Bolsonaro e seus apoiadores.

É verdade que Bolsonaro teve que dar passos atrás de natureza tática em sua dinâmica golpista depois da repercussão negativa da reunião que fez com embaixadores no dia 18 de julho para denunciar o sistema eleitoral brasileiro. Desde então houve um conjunto de iniciativas do judiciário e de setores da burguesia no sentido de conter seu impulso golpista e disruptivo.

Classe dominante tenta tomar a iniciativa

Isso se refletiu no ato político no dia da posse de Alexandre de Moraes na presidência do TSE e nas Cartas em defesa do estado de direito, uma delas patrocinada pela Fiesp e outras entidades empresariais e outra com juristas e figuras da sociedade civil.

Com essas iniciativas, a classe dominante tenta tomar para si a tarefa de conter Bolsonaro. Fazem isso para evitar que o movimento de massas assuma esse papel, o que poderia levar a um nível de mobilização popular que não lhes interessa.

Trata-se de um erro do PT e dos movimentos sociais apostar todas as fichas da luta contra o golpe nas iniciativas das instituições do regime ou em representantes da classe dominante. Esses setores são os mesmos que bancaram o golpe institucional de 2016 e podem mudar de posição rapidamente. 

Devemos nos aproveitar das divisões da classe dominante e dos espaços dentro da institucionalidade, mas só podemos confiar plenamente em nossa força organizada e mobilizada de forma independente.

Bolsonaro não jogou a toalha na disputa eleitoral e nem mesmo em seu projeto golpista e autoritário. Ambos os projetos caminham juntos e se retroalimentam. 

Mesmo que o impacto das medidas eleitoreiras que conseguiu aprovar no Congresso não seja tão efetivo nas intenções de votos, Bolsonaro aposta na polarização com Lula e na mobilização de suas forças militantes. Por isso, as ações de 7 de setembro tem uma importância grande na conjuntura. Especialmente se do outro lado não vemos mobilizações sendo convocadas da forma e na dimensão que deveriam.

É necessário recuperar nossa capacidade de luta

Do lado dos trabalhadores e dos setores oprimidos só existe uma forma de confrontar a ameaça bolsonarista – recuperar nossa capacidade de mobilização e luta, tomar as ruas para demonstrar força e ao mesmo tempo levantar um programa capaz de atender as demandas populares por emprego, salário, moradia, educação, saúde, direitos sociais e democráticos.

Nossa luta contra o golpe e por direitos democráticos têm que estar vinculada a uma luta por direitos e transformações sociais profundas. Essas são tarefas do movimento sindical, popular, estudantil, de mulheres e do povo negro e demais setores, junto com a esquerda. Os socialistas devem apostar nesse caminho.