Justiça para Zhina (Mahsa) Amini! Abaixo o regime islâmico

Construir a solidariedade feminista socialista internacional com o crescente movimento contra a violência de gênero e de Estado!

O assassinato de Zhina (Mahsa) Amini, uma jovem curda, pela “polícia da moralidade” no Irã provocou um novo, ousado e explosivo movimento vindo de baixo para cima, desafiando o governo dos mulás e o regime enquanto o presidente Raisi é recebido na Assembleia geral da ONU em Nova York! Estamos em forte solidariedade com todas as corajosas mulheres, trabalhadores e jovens que arriscam suas vidas indo às ruas gritando “Morte ao ditador”, “Morte ao opressor – seja o Xá ou o líder religioso” e “Mulheres, vida, liberdade”. Nenhuma palavra pode descrever a tristeza e a raiva que estão presentes em nossas mentes e corações. Devemos transformar essa tristeza e raiva em uma ação coordenada de solidariedade com nossas irmãs e nossos irmãos no Irã, Curdistão e toda a região. Ao mesmo tempo que expressamos as nossas mais profundas condolências à família, parentes e amigos de Zhina, nós, como ASI e ROSA Internacional, ajudaremos a organizar e ampliar protestos e ações internacionais deste tipo.

Zhina foi espancada pelos brutais agentes do regime e morreu depois de três dias em coma. As mulheres no Irã são presas e espancadas diariamente pela maneira como se vestem. Essas situações são exemplos de violência estatal brutal e de como ela está interligada com a misoginia e o feminicídio profundamente arraigados. É por isso que o primeiro pensamento de muitos foi: poderia ter sido eu ou minha filha ou irmã ou amiga. Ser assediada ou violentada nas ruas por ser mulher por homens religiosos, a “polícia da moralidade” ou outros é uma experiência bem conhecida em todas as esferas públicas ou privadas. Depois de ser preso, você nunca sabe o que vai acontecer com você. Esta não é a primeira vez que mulheres são mortas durante a detenção ou sob tortura. Ao longo de sua história, o regime assassino tentou desesperadamente encobrir esses assassinatos na forma de ataques cardíacos, suicídios etc. Desta vez, no entanto, isso levou a protestos generalizados de várias formas – desde manifestações a greves, de manifestações nas universidades a ações em frente aos postos de polícia.

O assassinato de Zhina não foi um acidente nem o resultado de um erro individual de policiais. Este assassinato é uma continuação das políticas sistemáticas, misóginas e repressivas que o regime islâmico adotou desde que chegou ao poder. Por mais de quatro décadas, mulheres e grupos oprimidos, como o povo curdo, pagaram um alto preço com seus corpos e suas vidas em defesa de seus direitos humanos mais básicos. Ao resistir ao hijab (véu que cobre os cabelos) obrigatório, alguns deles arriscam suas vidas regularmente, a fim de exigir liberdade de escolha sobre seus corpos. O regime procura agora quebrar o movimento e a ação grevista em curso. Nas regiões curdas, por exemplo, eles recorreram à repressão em massa e até assassinatos nas manifestações. Mas a raiva generalizada e profunda das pessoas não pode ser silenciada neste momento. A vida de Zhina foi tirada em uma situação em que o regime está no meio de múltiplas crises – inflação, pobreza crescente e preços exorbitantes, que afetam ainda mais as mulheres. Os mulás estão em uma profunda crise de legitimidade, arriscando seu domínio a cada passo, como vimos ao longo da pandemia com crescentes ondas de protesto e ações grevistas de professores a trabalhadores do petróleo, de enfermeiras a motoristas de ônibus. As pessoas já estão fartas – e mais uma vez são as mulheres, por exemplo, mulheres curdas e jovens, que estão na vanguarda da luta para acabar com o domínio desses assassinos islâmicos. Foram sempre elas que deram os primeiros passos na construção de um movimento para exigir seus próprios direitos e também a libertação da classe trabalhadora, liderando o movimento revolucionário há mais de 40 anos que foi traído e roubado. 

O regime está bem ciente desse poder, tentando reprimir mulheres, LGBTQIA+ e jovens de forma mais brutal nas últimas semanas e meses, como vimos com a horrível sentença de morte contra Zahre Sedighi e Elham Choobdar. Mas o movimento agora tem potencial para se espalhar ainda mais pelo país e por toda a região; como sabemos, as mulheres desempenharam um papel fundamental nas recentes revoltas do Líbano ao Iraque. As mulheres estão tirando o hijab, não apenas na cidade natal e região de Zhina, mas em protestos que se espalharam por Teerã e Isfahan, bem como pelo Iraque. As forças de segurança ameaçaram a família para enterrar a filha à noite, mas eles resistiram e a cerimônia transformou-se num forte protesto que deu início a esta onda. Na placa do túmulo de Zhina está escrito em curdo: “Zhina, você não morre, seu nome se torna um código”.

A luta contra o hijab obrigatório e os códigos de vestimenta islâmicos está profundamente interligada à luta contra todo o regime e sistema capitalista no Irã e internacionalmente. Como vemos globalmente, em tempos de crise os governantes precisam controlar ainda mais o corpo e a vida das mulheres. O regime iraniano precisa da opressão brutal das mulheres por meio de leis religiosas e violência para manter os papéis de gênero e a exploração massiva das mulheres em casa. Em paralelo, políticos ocidentais, o imperialismo dos EUA etc. estão tentando instrumentalizar a morte de Zhina para sua própria agenda, mas é absolutamente evidente que essas forças não são confiáveis. Nossas vidas e corpos estão sendo controlados através de códigos de vestimenta e restrições ao aborto, através da explosão de violência baseada em gênero e feminicídio, através da pobreza e da fome. As forças imperialistas lançaram toda a região na guerra e na destruição, ameaçando a vida das mulheres por terem contribuído para o surgimento de forças islâmicas de direita como no Afeganistão, Iraque ou Síria, mas também através de suas sanções no Irã, que não estão afetando os mulás super-ricos, mas a classe trabalhadora e os pobres, e as mulheres em particular. Eles também estão favorecendo os governantes do regime saudita arquirreacionário, cujo tratamento às mulheres é igualmente abominável – tendo, por exemplo, acabado de condenar a décadas de prisão mulheres ativistas simplesmente por postarem suas opiniões nas mídias sociais. Esses poderes não estão interessados ​​na verdadeira liberdade e libertação das massas. É por isso que é somente através do poder das mulheres, trabalhadores e todos oprimidos e pobres no Irã, através de sua ação e organização independente, é que o regime pode ser derrubado.  

Para exigir que os assassinos de Zhina recebam sua merecida punição, temos que lutar contra todo o regime. Lutar pelo fim do hijab obrigatório e pelo direito das mulheres de usar o que quiserem, e pelo fim de todas as regras e leis misóginas e de todas as formas de discriminação contra grupos e minorias oprimidos. Precisamos lutar pelo direito de protestar e de nos organizar, para que todos os presos políticos sejam libertados. Por uma vida digna, segurança, empregos e salários – independência para as mulheres em todos os aspectos de suas vidas. Essas demandas contrastam fortemente com a agenda e as necessidades do regime. Temos a profunda convicção de que essas demandas serão alcançadas com a unidade, solidariedade e lutas independentes da classe trabalhadora com as mulheres e oprimidos na linha de frente.

Tal luta tem o potencial de assumir o combate ao machismo, à violência e à discriminação profundamente arraigados. O regime sempre usou a discriminação brutal do povo curdo, bem como de outras minorias, para dividir e governar. O movimento de trabalhadores curdos e o movimento radical de mulheres e sua militância são, portanto, uma ameaça muito específica para eles. É por isso que o chamado à greve que veio das organizações de trabalhadores curdos precisa ser aceito por todo o movimento da classe trabalhadora iraniana. Precisa ser ampliado para construir comitês de ação em todas as escolas, universidades, locais de trabalho e bairros. Mostrar que o movimento de trabalhadores iranianos não pode ser separado da luta de todos os oprimidos – é a mesma luta contra o mesmo inimigo. Esse tipo de solidariedade é necessário para superar a divisão nacional e étnica, bem como a discriminação e a violência de gênero. O mesmo vale para o movimento de trabalhadores em nível internacional que precisa urgentemente construir a solidariedade internacional de baixo para cima como uma alternativa à hipocrisia do imperialismo ocidental e seu feminismo liberal. As recentes ações de greve em várias cidades e regiões do Irã mostraram o potencial para um movimento da classe trabalhadora multiétnica e multigênero forte, democraticamente organizado e coordenado, que tem o poder de acabar com o domínio do mulás, derrubar Raisi Khamenei e o todo o regime, tomar todo o sistema e economia em suas próprias mãos e lutar por um sistema democrático e socialista para garantir liberdade, igualdade e autonomia corporal. 

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