Protestos contra G8 na Alemanha

Para as pessoas que viram os noticiários, a cobertura dos protestos contra o G8 foram dominados por relatos de conflitos violentos entre a polícia e os manifestantes. Não foi nenhuma surpresa que a mídia tenha escolhido esses relatos ao invés do enorme número de manifestantes pacíficos, com suas mensagens de oposição ao G8 e seus desejos em ver o fim da Guerra e da pobreza.

São os líderes do G8 que estão comprometidos até o pescoço com a violência do mundo atual. Mais de 655.000 civis mortos no Iraque, 70 guerras nas últimas duas décadas, e mais de 1 trilhão de dólares gasto em armas em 2005 pelos governos pelo mundo, principalmente os governos do G8.

Durante os conflitos do dia 2 de junho, mais de quinhentos manifestantes foram feridos, 165 presos e houve também 400 policiais feridos. No entanto, os organizadores da manifestação estimaram que havia mais de 80 mil manifestantes no total e que os conflitos, envolvendo uma minoria, não foi um elemento principal até o final da marcha.

Repressão

Dada a escalada da repressão policial contra os manifestantes anti-G8 durante as últimas semanas, colunas de policiais marchando pelos lados da manifestação e o zunido dos helicópteros da polícia sobre nós não foi uma surpresa. Porém, a extensão da agressividade policial foi maior do que se previa. Dezenas de canhões d’água e os veículos policiais com suas sirenes eram constantes. Nas semanas que precederam a manifestação de 2 de junho houve batidas nos escritórios e casas dos militantes de esquerda por toda a Alemanha na tentativa de limitar a expressão da raiva contra os líderes do G8 e colocar os manifestantes anti-G8 em descrédito. Isso parece ter tido o efeito reverso, pois após esses ataques, as vendas de passagens para Rostock aumentaram. Outra conseqüência, no entanto, foi criar a falsa impressão que os defensores de idéias anarquistas eram a principal oposição ao G8.

Algumas das principais organizações da manifestação oficial (ATTAC, Instituições Beneficentes, Ongs, etc.) dizem que a polícia não é culpada pela violência. Havia informes de que grupos de pessoas bloquearam um caminhão de bombeiro e jogaram pedras em bancos e na polícia. Se for verdade, essas táticas usadas por pequenos grupos eram incapazes de parar o encontro do G8, menos ainda abolirem o capitalismo. Essas táticas podem levar a um distanciamento entre os manifestantes e o conjunto da classe trabalhadora que poderia, de outra forma, ser ganha para as reivindicações pelo fim da pobreza, da privatização e da guerra e também pela necessidade de uma alternativa ao capitalismo.

Tentativa de intimidar manifestantes

Porém, é necessário também dizer que as ações da polícia e do Estado contra aqueles que se opõem aos líderes do G8 e suas políticas são a base de tais conflitos. Cerca de 13.000 policiais foram deslocados de toda a Alemanha. Um enorme muro custando 12.5 milhões de euros foi construído para proteger o encontro. Lojas e outros negócios em Rostock foram recomendados a manter as portas fechadas contra o risco de danos pelos manifestantes. Tais medidas foram tomadas para desacreditar e intimidar aqueles que desejavam demonstrar sua raiva.

Por todo o mundo existe uma raiva contra o G8 e o que eles representam. Em julho de 2005 uma marcha “Faça da Pobreza História” trouxe 250 mil pessoas para as ruas de Edimburgo contra o encontro do G8, na esperança de que algo poderia ser feito em comprometimento com os mais pobres e o próprio planeta. Havia raiva naquele momento, mas também ilusões de que um apelo bem sucedido poderia ser feito a Bush, Blair e cia.

Os militantes do Comitê por uma Internacional Operária (CIO) e outros socialistas argumentaram que não seria possível resolver esses problemas gerais enquanto nós vivermos em um sistema que coloca os lucros dos grandes negócios antes das necessidades da maioria. Desde então ficou claro para muitas pessoas que esse “grupo dos oito” não tem nenhuma intenção ou capacidade de nem mesmo aliviar as terríveis condições da população.

Não há solução sem ruptura com o sistema

Na verdade, as condições pioraram para a maioria e ainda maior riqueza foi acumulada para a elite. Na Índia, onde nos dizem que um boom econômico está acontecendo, a população em favelas dobrou nos últimos 20 anos para 60 milhões de pessoas e longe de delegar a pobreza aos livros de histórias, neste momento 3 bilhões de pessoas lutam pela sobrevivência com menos de 2 dólares por dia.

Não é apenas nos países mais pobres da África ou Ásia que essa privação existe. No país mais rico do planeta, os EUA, 60 milhões de pessoas vivem com menos de 7 dólares por dia. Aqui na Alemanha trabalhadores e jovens têm visto as suas condições de vida deteriorar rapidamente com enormes ataques sobre os salários, as condições de trabalho e grandes cortes nos serviços públicos e na seguridade social.

Nós vivemos num sistema capitalista que é caótico, não planejado e fundamentalmente incapaz de garantir a satisfação das necessidades das pessoas e do ambiente. No entanto, entre os organizadores dos protestos contra o G8 estavam Instituições Beneficentes e Ongs que ainda nos pedem para fazer um apelo a pessoas como Bush, Blair e Merkel. Isso cria uma sensação de frustração entre alguns setores da juventude que, raivosos pela continuidade da guerra, ocupação e pobreza, podem ter uma posição impaciente e desesperada nos protestos.

Isso tem sido exacerbado pela falha dos dirigentes sindicais em assumir um papel de direção no movimento. A ausência de uma classe trabalhadora organizada na manifestação enfraqueceu-a enormemente. Nenhum outro setor da sociedade tem a capacidade de derrotar o G8 e o sistema que eles representam. A classe trabalhadora sofre diariamente nas mãos de Bush, Merkel e Sarkozy e ainda os dirigentes dos trabalhadores nos sindicatos não chegaram à conclusão de que uma forte luta contrária é necessária. Ao invés, eles tentam negociar com pessoas como Merkel.

Salário rebaixado em 40 por cento

Na verdade, na Alemanha esses protestos aconteceram contra o pano de fundo das greves dos trabalhadores das telecomunicações. A greve, provocada pela combinação do aumento de horas e diminuição de salários em 40%, esá na terceira semana com um apoio de cerca de 70% dos alemães. Porém sua direção não chegou à conclusão que eles deveriam se juntar aos protestos.

Nem a DGB (Confederação dos Sindicatos da Alemanha) mobilizou para esses protestos e, ao invés, semeou ilusões que negociações com Merkel poderiam gerar concessões. Essas negociações, que aconteceram duas semanas atrás, não conseguiram nada, mesmo assim nenhuma chamada para participar da manifestação contra o G8 foi feita.

Para que a greve dos trabalhadores das telecomunicações tenha a chance de ser bem sucedida os dirigentes sindicais precisam avançar e espalhar a greve para mais setores da classe. Uma grande oportunidade existia durante o G8, os trabalhadores de telecomunicação poderia isolar o encontro da mídia entrando em greve ao mesmo tempo. Isso poderia ter colocado o movimento sindical à frente e ter dado uma idéia concreta de que a classe trabalhadora deve ser a base de um movimento que realmente mude a sociedade.

Uma presença dos sindicatos, com seus métodos de organização e luta, teria trazido maior seriedade e disciplina ao protesto. Também serviria como uma ligação entre o conjunto da classe trabalhadora e a juventude radicalizada que tende a ser o oponente mais visível ao capitalismo nesse momento.

Nos sindicatos, militantes do CIO argumentam para que o movimento dos trabalhadores forje vínculos com os jovens radicalizados. Sem os pesados batalhões da classe trabalhadora nenhum movimento é capaz de uma vitória significante. Apenas a classe trabalhadora organizada tem o potencial de organizar a sociedade de uma forma capaz de satisfazer as necessidades de todos. Infelizmente táticas erradas e perigosas dos anarquistas dão desculpas aos dirigentes sindicais para manterem o movimento dos trabalhadores separado do movimento anti-capitalista.

CIO – ativistas com idéias

O CIO organizou um bloco de 500 pessoas dentro das manifestações com militantes e simpatizantes de vários lugares da Europa (Alemanha, Irlanda do Norte e do Sul, Inglaterra e País de Gales, Escócia, Suécia e Holanda). Munidos de cartazes, bandeiras e faixas nosso caminhão guiou o contingente.

Christine Lehnert, vereadora de Rostock e militante do CIO, declarou publicamente que estaria junto com os manifestantes tentando impedir o encontro do G8 ao invés de participar da sessão do conselho local naquele dia. Além de participar dos protestos, militantes do CIO em Rostock realizaram reuniões públicas e distribuíram material dialogando com os moradores. Isso permitiu explicar as razões dos protestos aos moradores que são bombardeados diariamente com a propaganda contrária aos manifestantes.

Foram distribuídos panfletos, vendidos 500 jornais e arrecadado 3.000 euros para nossas campanhas com a venda de materiais políticos e camisetas. Com nossa intervenção, levantamos a necessidade do apoio às greves das telecomunicações e a também da importância de se ter os sindicatos nas manifestações contra o G8. Pudemos, também, levantar a necessidade de ligar a luta contra o G8 com uma luta anti-capitalista e socialista. 

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