Marcha golpista de Bolsonaro continua: a resposta precisa ser nas ruas!
O governo Bolsonaro continua com sua retórica golpista, apostando na polarização social e em criar um clima de mobilização entre seus apoiadores que possa suportar uma aventura autoritária. O centro dessa agitação está no questionamento à legitimidade das eleições caso o atual presidente perca em outubro, o que tudo indica que acontecerá, e parte das forças armadas brasileiras estão ativamente apoiando o circo midiático de desinformação.
Enquanto isso, as principais forças do dito “campo progressista” brasileiro continuam apostando as suas fichas centralmente nas eleições e em um programa de conciliação com a burguesia para superar a atual crise política, financeira e social. Ao mesmo tempo em que tratam as ameaças golpistas como arroubos de retórica do presidente, como se não houvesse risco real, utilizam a ameaça para fortalecer a conciliação de classe e apontam como a única maneira real de derrotar o Bolsonaro.
Governo Bolsonaro entre crises e esforços para a reeleição
Para tentar reverter a sua rejeição, Bolsonaro apresentou a chamada PEC Kamikaze, aprovada no congresso nacional e aguardando a sanção presidencial, que prevê auxílios para taxistas e motoristas de caminhão autônomos, aumento do vale gás e do Auxílio Brasil de até 200 reais. Todas essas propostas são temporárias e vão até o fim de 2022, deixando claro o seu caráter eleitoral. Mesmo assim, não parecem ser suficientes para recuperar a popularidade do presidente.
Recentemente temos acompanhado escândalos em torno do presidente da república, atingindo figuras próximas a ele e de sua confiança. O ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, acusado de assédio sexual e moral por diversas funcionárias do banco, era próximo de Bolsonaro e foi forçado a pedir demissão do cargo quando essas denúncias vieram à tona. Há uma investigação do MPF em curso sobre essas acusações. Pouco tempo depois da demissão, o diretor de Controles Interno e Integridade da Caixa Econômica Federal, Sérgio Ricardo Faustino Batista foi encontrado morto na sede do banco, em Brasília, o que foi registrado inicialmente pela polícia civil como suicídio. A diretoria que ele chefiava era responsável pelo acolhimento das denúncias encaminhadas pelo canal de atendimento criado pela Caixa Econômica Federal, que iam desde corrupção a assédio, como as que levaram à queda de Pedro Guimarães. O momento do suposto suicídio é no mínimo suspeito e precisa ser investigado.
Outro aliado de Bolsonaro que caiu este ano foi o ex-ministro da educação Milton Ribeiro, acusado de participar de um esquema de tráfico de influência e corrupção para liberação de recursos públicos do MEC. Ele estaria priorizando prefeituras indicadas pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura a pedido de Bolsonaro, como mostra um áudio divulgado pelo jornal Folha de São Paulo em 22 de março. Já em outro áudio, divulgado em 9 de junho, ele diz ter sido informado por Bolsonaro que a Polícia Federal poderia fazer uma busca e apreensão em sua casa para tentar atingi-lo. O ex-ministro foi preso junto com Gilmar Santos e Arilton Moura em 22 de junho, mas soltos no dia seguinte. As investigações continuam e é possível chegar ao presidente da república.
Além de homens próximos ao presidente estarem sob investigação, temos visto um aumento da violência política no país, como as mortes de lideranças indígenas e ativistas ambientais como Bruno e Dom. O assassinato político de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu baleado por um bolsonarista que invadiu sua festa particular, é um marco dessa violência e demonstra o perigo fascistóide que pode ser desencadeado nesse próximo período. Bolsonaro estimula cotidianamente essas violências através de seus discursos e tem responsabilidade sobre elas.
Esses escândalos não vão derrubar Bolsonaro sozinhos, e menos ainda derrotar o bolsonarismo. Não levar a luta para punir essas figuras e garantir investigações que liguem os escândalos diretamente ao presidente é parte da avaliação de que derrotar Bolsonaro nas eleições é suficiente. Para os setores que fazem essa avaliação, o centro seria então “prejudicar a imagem de Bolsonaro” até a eleição e para isso, basta o circo midiático.
Os riscos de apostar na institucionalidade
Um primeiro problema nessa linha é de que não podemos confiar na justiça burguesa: temos inúmeros exemplos de como ela pode ser seletiva, ao tratar figuras políticas e empresários de um jeito e tratar movimentos sociais e a população pobre de outro. Para que esses escândalos tenham consequência real seria necessário combiná-los com mobilizações de rua, com pressão popular que pudesse levar o judiciário, e mesmo o congresso nacional, a tomar medidas mais efetivas contra o presidente. O recente pedido de arquivamento feito pela vice-PGR em relação a todas as acusações que pesam contra Bolsonaro presentes no relatório da CPI da Covid-19 estão aí para demonstrar isto.
Além disso, as ameaças bolsonaristas têm crescido nesse cenário e não diminuído. Quanto mais clara fica a vitória eleitoral de Lula e mais escândalos explodem no colo do presidente, mais ele intensifica o discurso golpista, com apoio importante das forças armadas. Vimos nas últimas semanas que o exército empregará de 25 a 30 mil homens para garantir a segurança nas eleições, e as tensões com o TSE só aumentam com o Ministério da Defesa insinuando através de nota que não têm sido ouvidos pelo tribunal quanto às sugestões que fizeram a CTE, Comissão de Transparência da Eleições, criada ano passado.
A recente reunião organizada por Bolsonaro com embaixadores estrangeiros, em que novamente levantou dúvidas quanto a integridade das urnas sem apresentar provas, repetindo mentiras e teorias conspiratórias, é mais um passo na escalada antidemocrática e deixa claro a sua disposição de não aceitar o resultado das urnas caso não saia vitorioso. Parlamentares da oposição entraram com um pedido ao STF de investigação de Bolsonaro a partir da reunião com os embaixadores, acusando-o de improbidade administrativa, abuso de poder e propaganda eleitoral antecipada.
Motivos para impeachment e crimes a serem investigados e julgados não faltam para derrubar Bolsonaro. A aposta em protocolar pedidos no STF tem se demonstrado ineficaz. É preciso mobilização popular, agitar nas ruas a defesa contra o golpe que se anuncia, intensificar o calendário de luta dos movimentos e categorias já em curso e ampliar para colocar todo o governo em xeque. Isso teria que caminhar lado a lado com um programa político que desfizesse os ataques dos últimos anos, como as contrarreformas de Temer e Bolsonaro, que estatizasse empresas e revertesse o Preço de Paridade de Importação que hoje é um dos principais motores da inflação no país, que colocasse o não pagamento da dívida aos grandes empresários e especuladores direcionando esta verba para os serviços públicos como educação e saúde. É preciso uma força organizada e articulada, interessada em tirar imediatamente esse governo genocida.
Construir para valer os atos convocados dia 11 de agosto e 10 de setembro
Diante das novas ameaças e uma pressão por uma resposta, a Campanha Nacional Pelo Fora Bolsonaro se reuniu e está declarando que temos que “voltar as ruas”, chamando um calendário de lutas, com foco nas manifestações de 11 de agosto e 10 de setembro. Essa é uma tarefa fundamental. É um problema que as datas sejam espaçadas, mas mais problemático ainda é que esses atos têm, em geral, cumprido um papel protocolar, em que a esquerda se faz presente nas ruas e marca posição, mas não avança como uma tarefa crucial, mobilizada pelas bases nos bairros, local de estudo e trabalho.
As principais direções de movimentos e partidos de esquerda hoje temem que as mobilizações populares possam sair do seu controle. Seja por medo de uma escalada autoritária, por uma falta de confiança na força da mobilização popular ou por ilusões nas eleições, ou por um combinado desses elementos, a estratégia hoje concentra centralmente uma saída pelas urnas.
Infelizmente a linha de aposta nas eleições como solução para derrotar a extrema direita no Brasil, ignorando que ela não se organiza somente nos parlamentos e no executivo, tem imposto uma camisa de força ao movimento social brasileiro que precisa ser rompida. Os atos chamados pela Campanha Nacional Fora Bolsonaro são um começo e precisamos construir uma grande mobilização para esses atos. A de 10 de setembro em especial é importante, pois será um contraponto a manifestação bolsonarista chamada para 07 de setembro, no meio do calendário eleitoral. O erro aqui seria transformar essas manifestações em grandes comícios eleitorais, sem pretensão de fazer avançar as lutas para derrubar Bolsonaro do governo e impedir suas intenções golpistas, mas ficar só na agitação política em torno da eleição de Lula.
Devemos apoiar e participar de todas as iniciativas de luta apresentadas no calendário geral das categorias e movimentos em luta, e nos atos chamados pela Campanha Nacional Pelo Fora Bolsonaro, mas é preciso ir além da agitação política eleitoral e levar a luta até as últimas consequências. É preciso construir nos locais de trabalho, estudo e moradia comitês de luta contra Bolsonaro e o golpe e agitar politicamente que será necessário barrar Bolsonaro nas ruas, colocar o movimento dos trabalhadores e demais setores oprimidos da sociedade em cena como protagonistas e não como espectadores do processo. Só assim poderemos derrotar a extrema direita, que se organiza para além das instituições.