EUA: Milhares tomam as ruas pelo direito ao aborto – qual é o próximo passo?
Uma decisão vazada da Suprema Corte dos EUA no dia 2 de maio revelou que essa instituição reacionária arcaica está se preparando para derrubar o caso “Roe vs. Wade”, que permitiu a legalização do aborto em 1973, após poderosos movimentos de massa para mudança. Esta decisão, a qual uma grande maioria das pessoas nos EUA se opõe, se for adiante, levará à proibição imediata do aborto a milhões de americanos.
No dia depois do vazamento, milhares de manifestantes se reuniram em cidades de todo o país para protestar contra a ameaça ao direito ao aborto. A Suprema Corte deve tomar sua decisão em junho, dando ao movimento uma janela de tempo para organizar a luta contra a decisão.
A Alternativa Socialista liderou grandes protestos na Filadélfia, Boston, Minneapolis, Madison, Pittsburgh, Chicago, Houston, e Seattle, entre outros lugares, apelando para uma ação crescente com paralisações e greves para construir pressão e impedir a decisão. Em outras cidades, lideramos contingentes feministas socialistas vibrantes dentro de manifestações mais amplas.
“As grandes vitórias progressistas nos Estados Unidos nunca nos foram dadas de presente pelo establishment”, disse Rachel Wilder, militante da Alternativa Socialista e estudante da Temple University, na Filadélfia. “De fato, o establishment tem estado sempre do lado errado da história – no aborto, no casamento LGBTQIA+, na dessegregação – até que movimentos de massa de trabalhadores forçaram os dois partidos das grandes empresas a ceder. Precisamos de milhões de pessoas nas ruas para defender o aborto e deter a direita!”.
Os protestos em todo o país mostraram um grande descontentamento com os fracassos do Partido Democrata na defesa do aborto e na luta por aquilo que pessoas trabalhadoras de todos os gêneros precisam. As falas nos atos apontaram que Joe Biden não apenas fez uma promessa de campanha para que o Roe vs. Wade tornasse lei, mas Obama também fez sua campanha em 2008 prometendo a legalização o aborto e depois falhou em fazê-lo, mesmo com uma supermaioria no Congresso. Após o vazamento na segunda-feira, Biden declarou que pediu que sua administração “tivesse opções prontas” se Roe vs. Wade fosse derrubada e não deu seu apoio para acabar com a obstrução para permitir que os democratas votassem a legalização do aborto no Congresso.
É evidente que os jovens estão cansados das promessas não cumpridas dos democratas. Na cidade de Nova York, depois do comício organizado pela Marcha das Mulheres, nossos membros puxaram uma palavra de ordem propondo que fosse realizada uma marcha. A resposta do palco principal, que foi dominado por dirigentes do Partido Democrata hostis à ideia de tomar medidas diretas, foi “é bonito o que você está tentando fazer, mas não é isso que estamos fazendo”. Em vez de permitir que a energia se dissipasse, nós mesmos e outros grupos de esquerda conduzimos quase mil pessoas pelas ruas de Manhattan e para um outro comício no Washington Square Park, onde discutimos abertamente os próximos passos para o movimento. Na marcha, os manifestantes puderam ser ouvidos gritando “Votar azul não é suficiente! Democratas, desafiamos seu blefe”!
“Foi assim que chegamos aqui em primeiro lugar – um partido que não sabe lutar, que tem mais medo da sua base se organizar do que qualquer outra coisa”, disse Kshama Sawant, militante da Alternativa Socialista e vereadora da cidade de Seattle, em um protesto em Seattle em 4 de maio. “Um partido que faz tudo para marginalizar ou expulsar os verdadeiros progressistas, pois eles, silenciosamente, priorizam a estabilidade do sistema capitalista e os lucros das empresas acima de tudo. Acima das mulheres, dos direitos reprodutivos, dos direitos de trabalhadores, dos direitos LGBTQIA+ e acima até mesmo da continuação da civilização humana, na medida que enfrentamos uma absoluta catástrofe climática. Precisamos de um novo partido! Um que lute com unhas e dentes para defender os direitos reprodutivos, os direitos de trabalhadores, os direitos LGBTQIA+ e contra o racismo”!
Milhares de pessoas na Filadélfia marcharam ontem para defender o direito ao aborto e lutar por outras demandas como o Medicare for All (saúde pública para todos) com pleno atendimento reprodutivo e de transição de gênero.
Qual é o próximo passo na luta pelo direito ao aborto?
Muitos dos manifestantes do dia 4 também tinham participado dos protestos por Justiça por George Floyd em 2020, onde números muito maiores protestaram durante meses a fio. Apesar destes grandes números, o movimento, infelizmente, não conseguiu conquistar grandes reformas e a maioria das cidades continuou a aumentar os orçamentos da polícia.
Uma vez que este foi o maior movimento de protestos da história dos Estados Unidos, as questões postas são: o que estava faltando e como podemos vencer desta vez?
Apesar dos grandes números, o movimento Justiça por George Floyd permaneceu, em grande parte, um movimento de rua sem estruturas ou exigências bem definidas. O movimento não se intensificou para incorporar uma ação direta generalizada. Com apenas algumas semanas até que a Suprema Corte possa chegar a uma decisão, precisamos ir além dos protestos de rua e escalar nossa luta para incluir paralisações, ocupações e até greves. A energia dos protestos de rua deve ser traduzida em nossas comunidades e locais de trabalho, a fim de forçar a mão da Suprema Corte e do Congresso.
Vimos um novo fôlego no movimento sindical com as heroicas campanhas de sindicalização na Starbucks e na Amazon. Este movimento sindical, recentemente revitalizado, tem um papel essencial a desempenhar na construção da luta da classe trabalhadora por cuidados reprodutivos gratuitos e de fácil acesso. A SEIU e a NNU, sindicatos que organizam trabalhadores do setor de saúde, fizeram declarações sobre o impacto devastador que uma derrubada do Roe vs. Wade teria sobre as trabalhadoras. Precisamos que estes sindicatos organizem seus filiados para agir em defesa do direito ao aborto e precisamos de mais sindicatos para entrar nesta luta. O recém-formado Sindicato dos Trabalhadores da Amazon demonstrou importante solidariedade quando seu presidente interino, Chris Smalls, apelou para que as manifestantes se juntassem ao protesto do dia 4 na cidade de Nova York.
Os sindicatos têm um interesse especial em ganhar o aborto legal pleno e em avançar para ganhar o Medicare for All com atendimento integral na área reprodutiva e de transição de gênero. A assistência médica fornecida pelo empregador é uma importante moeda de troca nas mãos dos patrões nas negociações contratuais e os estes frequentemente cortarão os benefícios da assistência médica dos trabalhadores no caso de uma greve.
Para filiados a sindicatos, trabalhadores não sindicalizados, estudantes e jovens que estão prontos e motivados a lutar pelo direito ao aborto e à saúde gratuita para todos, precisamos organizar reuniões públicas para elaborar um plano de ação, incluindo paralisações e greves. A Alternativa Socialista está organizando reuniões públicas em cidades de todo o país.
Para vencer, o movimento precisa de fortes demandas que saiam da defesa para a ofensiva.
Nós exigimos:
- Derrotar a direita! A Suprema Corte deve manter Roe vs. Wade!
- Por paralisações e greves de massa para defender o direito ao aborto!
- Os democratas têm controle total no Congresso, eles devem acabar imediatamente com a obstrução e legalizar o aborto!
- O Congresso deve aprovar o Medicare for All (saúde pública para todos) com aborto sob demanda, cuidado reprodutivo e de transição de gênero pleno para todas e todos!
- Este ataque a Roe vs. Wade abrirá a porta para ataques brutais e contínuos contra os direitos das pessoas LGBTQIA+. Precisamos de uma luta unida contra a opressão de gênero em todas as suas formas! Nosso movimento precisa lutar por um cuidado reprodutivo pleno, bem como contra as leis reacionárias antitrans que assolam os estados em todo o país!
- Acabar com o sistema bipartidário – devemos lançar um partido independente da classe trabalhadora que defenda os interesses das mulheres da classe trabalhadora, das pessoas LGBTQIA+ e das pessoas negras, latinas e indígenas!