Em defesa de candidatura própria do PSOL para o governo de São Paulo

O PSOL se encontra em uma encruzilhada diante dos desafios da conjuntura que vivemos, com os ataques do governo Bolsonaro, o desemprego, o aumento dos preços e da fome, a pandemia, a crise ambiental e ataques aos povos indígenas, e a epidemia do machismo, do racismo e da lgbt-fobia. 

Em São Paulo sofremos os ataques do governo tucano, eleito sobre o lema “Bolsodoria”, com sua política de privatizações e ataques aos servidores/as e serviços públicos.

O centro das lutas e da intervenção eleitoral esse ano é derrotar Bolsonaro e seus ataques, sobre isso há acordo. Mas sobre como fazer isso, há uma polarização grande no partido, que inclui um debate sobre o caráter e futuro do partido.

A LSR vem defendendo que o PSOL tem uma tarefa fundamental nessas eleições de apresentar uma alternativa socialista que pode não só contribuir para a derrota de Bolsonaro, mas também combater a política neoliberal e a crise capitalista, que criou esse monstro.

Por isso defendemos a necessidade de candidaturas próprias do partido no primeiro turno, incluindo para a presidência da república, indicando um voto crítico no Lula no segundo turno.

Também colocamos que é possível defender a retirada de uma candidatura própria, dependendo do cenário concreto das eleições, como o risco (que hoje é bem menos provável) de duas candidaturas da direita no segundo turno, como é o cenário que se desenha na França hoje. Mas essa desistência seria depois de lançar uma candidatura, com programa e perfil próprio, levando ela até onde for possível e fazendo um impacto no debate.

Infelizmente, a maioria do partido optou por uma linha diferente, onde o partido de antemão declara apoio à candidatura de Lula, até mesmo com Alckmin como vice. Isso em um processo de adaptação ao projeto petista, abrindo mão de pontos programáticos importantes, como a defesa da revogação da reforma da previdência e da suspensão e auditoria do pagamento da dívida pública aos bancos e grandes credores. Continuaremos travando essa disputa até a conferência eleitoral nacional em abril.

Junto com isso vem a discussão de formar uma federação partidária com a Rede, em nome de garantir a clausula de barreira, algo a que também nos opomos. Essa federação duraria por lei quatro anos, nos amarrando em coligações e participação em governos nas eleições não só esse ano como também em 2024, com um partido que não é uma formação de esquerda, menos ainda classista ou socialista, diluindo ainda mais o caráter do partido.

É nesse contexto que temos que enxergar a desistência da candidatura de Guilherme Boulos ao cargo de governador em São Paulo. A avaliação tática de que Boulos pode cumprir um papel melhor como puxador de votos para a bancada federal, num contexto em que não se desenha uma repetição do cenário de 2020, quando ele se tornou o principal candidato da esquerda e conseguiu ir ao segundo turno, é legítimo. Mas não pode ser enxergado fora do contexto atual.

No congresso estadual em setembro de 2021 havia unidade a favor de candidatura própria de Boulos. Naquele momento essa candidatura foi apresentada inclusive como forma do PSOL manter alguma projeção nacional nas eleições, mesmo abrindo mão de apresentar candidatura própria a presidente.

Agora não só foi retirada a candidatura de Boulos, como se defende que o partido abra mão de candidatura própria ao governo e defenda a candidatura de Haddad, que pode também ter Márcio França na chapa. Isso em um contexto diferente do nacional, onde a disputa direta não é com o bolsonarismo, e sim com os tucanos, em nome da “unidade da esquerda”, que inclui PSB, Rede, etc. Isso é mais um passo de aproximação com o PT, confirmado pelo fato de que Haddad publicamente diz que apoia que o PT não lance candidato a prefeito em 2024, para apoiar Boulos. 

O risco é agora de rebaixar ainda mais o perfil do partido, mas também de não trazer o balanço negativo da gestão de Haddad na prefeitura paulistana, seja na proposta do Sampaprev (que foi derrotada e retomada depois pelos tucanos), ou na atuação em conjunto com Alckmin em 2013 nos protestos contra o aumento das passagens, entre outros.

Esse rebaixamento do perfil próprio e do projeto independente do PSOL coloca em risco até mesmo o resultado eleitoral. Podemos ver nas eleições na Alemanha, Espanha e Portugal, para mencionar os últimos exemplos, como novas formações de esquerda sofreram derrotas nas eleições em situações de enfrentamento com a direita, por não se diferenciarem da social-democracia tradicional. Isso pode acontecer também no Brasil, com a forte polarização entre Lula e Bolsonaro.

O nosso inimigo nessas eleições não é o petismo e sim o bolsonarismo e a direita. Temos toda a simpatia com aqueles que enxergam um voto no Lula, ou mesmo no Haddad, como único jeito de combater a direita. Essa sensação é reforçada pelo fato que a classe trabalhadora ainda não saiu de forma massiva para as ruas, como temos visto em vários países da América Latina nos últimos anos, como Chile e Colômbia, lutas que inclusive contribuíram para mudar a correlação de forças política. Infelizmente o papel do petismo tem sido de frear as lutas para não atrapalhar o projeto eleitoral, como o Lula priorizando as amarrações eleitorais acima da construção dos atos contra Bolsonaro. O nosso partido tem que enfatizar que a real mudança vem da luta de massas da nossa classe e que o nosso projeto eleitoral está a serviço das lutas, não o contrário.

O PSOL nasceu exatamente para mostrar os limites do projeto de conciliação de classes do PT, que não ajudou a superar os limites desse sistema nefasto e, ao invés disso, se adaptou a ele, o que levou a uma série de crises que abriu espaço para o golpe contra Dilma e a vitória de Bolsonaro. O risco é que esse cenário se repita, agora com apoio do PSOL.

Candidaturas do PSOL ajudam no combate ao Bolsonaro e à política neoliberal, não atrapalham. Há inclusive uma camada da população que não votará no PT, mas que poderia ser ganha para um voto no PSOL, por ter sido oposição de forma consequente. Isso vale também para nossas candidaturas estaduais.

É necessário que seja apresentado um projeto socialista nessas eleições que mostre um caminho alternativo, que possa superar esse sistema, incluindo para nos preparar para que sejamos novamente uma oposição de esquerda aos governos do PT. Infelizmente a trajetória atual do PSOL aponta para uma crescente possibilidade de participação em futuros governos do PT, como já acontece em algumas prefeituras.

Um cenário de governo de conciliação de classes sob Lula, que não irá conseguir resolver os graves problemas sociais, já que não vai além dos limites desse sistema, num contexto sem oposição de esquerda forte, abrirá mais espaço ainda para uma oposição de direita se fortalecer. Isso pode gerar um cenário mais perigoso ainda do que enfrentamos hoje. 

Por tudo isso, defendemos que o PSOL em São Paulo lance uma candidatura própria para o primeiro turno, armada com um programa socialista, buscando sua alianças com outros partidos da esquerda socialista e movimentos sociais combativos. Até agora, a única pré-candidatura apresentada é a de Mariana Conti, vereadora pelo PSOL de Campinas. Essa discussão deve ser feita de forma ampla no partido, já que é uma mudança importante daquilo que foi votado no congresso estadual.

Está em jogo o futuro do partido, como eixo para a reorganização da esquerda no país, como protagonista na construção das lutas e de um projeto de sociedade socialista que supere esse sistema nefasto de opressão e exploração.

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