#JUSTIÇAPORMOISE
Por uma alternativa antirracista e socialista para combater a fome, o desemprego, a violência e o racismo
Moïse Mugenyi Kabagambe fugiu do Congo, um dos países mais pobres do mundo, devastado por guerras civis, para morrer no Rio de Janeiro aos 24 anos de forma trágica.
O jovem trabalhador, segundo testemunhas, foi cobrar salários atrasados no quiosque em que trabalhava, mas na discussão foi amarrado e espancado até a morte.
Dia 05 de fevereiro é o dia marcado para manifestações impulsionadas pela família de Moïse, a comunidade congolesa que mora no Brasil e movimentos negros, que ocorrerão simultaneamente em cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo.
A morte que expõe o racismo estrutural do brasil e o projeto genocida de políticas antipovo
A morte injusta de um homem preto, pobre e refugiado que veio ao Brasil buscar oportunidades e reconstruir sua vida escancarou, mais uma vez, o racismo estrutural e a xenofobia.
Moïse estava buscando um direito básico: receber pelo que trabalhou. Mas, pela sua cor e o fato de que ele era refugiado, ao invés de ser defendido por outros ao redor, foi visto como uma ameaça que precisava ser contida, amarrada e espancada.
É esse mesmo racismo estrutural que faz com que pessoas pobres e negras sejam presas antes de serem julgadas, quando não são igualmente torturadas e assassinadas de forma brutal.
Hoje, quase 40% dos presos sequer passaram por um julgamento. 83% dos presos injustamente por reconhecimento facial são negros.
Além disso, a xenofobia, o preconceito com pessoas de outros países, afeta desproporcionalmente imigrantes e refugiados pretos de países africanos. Outros quatro congoleses foram assassinados no Brasil, sem nenhum resultado sobre esses casos, somando a outros casos como o de Toni da Guiné-Bissau em 2011, que também foi espancado e morto por dois policiais à paisana e mais duas pessoas em Mato Grosso por fazer uma pergunta.
Muitos imigrantes e refugiados africanos comentam que tiveram suas primeiras experiências de racismo aqui no Brasil.
Esse racismo e xenofobia que culminou na morte de Moïse encontrou eco na vida de muita gente que sente na pele esse Brasil que continua marcado pela herança escravagista.
Ressoa também na história de milhares de trabalhadores e trabalhadoras que constroem o país e estão na luta diária pela sobrevivência, mas, nos últimos anos, tem sofrido com as contrarreformas Trabalhista, da Previdência, o avanço da terceirização e com cortes nos direitos.
Os ataques sistemáticos contra a classe trabalhadora nos últimos anos só aprofundaram a desigualdade social e o racismo. Negros morreram quase duas vezes mais de COVID-19 no Brasil, mesmo nos bairros mais ricos.
É preciso barrar a barbárie!
Demorou quase uma semana, mas essa morte brutal ganhou visibilidade e comoção.
Diferente de muitas outras mortes tão ou mais brutais, muitas vezes pelas mãos diretas do Estado – a PM – esse caso não ocorreu nas periferias e o corpo estava na Barra da Tijuca e não nas periferias ou escondido.
Isso impôs que a grande imprensa pautasse o caso e desse voz aos familiares e outros congoleses que comoveram com suas histórias e inclusive fez com que jogadores de futebol e outros artistas estejam se posicionando e manifestando seu repúdio.
O caso tem recebido respostas relativamente rápidas: a prefeitura anunciou suspender o alvará do quiosque em que Moïse trabalhava e três envolvidos já foram presos – situação fora da curva para tantas outras prisões e mortes injustas.
Mesmo assim, não podemos parar por aí. A morte de Moïse aconteceu porque até hoje não se enfrentou as marcas profundas da escravidão.
Também porque seguem governando o país aqueles interessados em manter no poder a elite e os ricos que têm enriquecido e se sustentado às custas dos povos originários, povos escravizados e imigrantes como Moïse, que vieram ao Brasil em busca de um futuro.
É preciso dizer: a morte de Moïse ocorreu com a conivência da Prefeitura do Rio de Janeiro, que cede alvará para os quiosques e permite condições de trabalho informais e precárias. O que será feito a partir disso?
Para que não aconteça mais situações como essa é preciso mudanças profundas no país, que só poderão ser feitas pelas nossas mãos – trabalhadoras e trabalhadores que, como Moïse, estão na batalha diária pela sobrevivência e são essenciais em tudo quanto é tipo de trabalho a base de sangue e suor, mas são cada vez mais privados de um futuro digno.
- Justiça por Moïse! Que todos envolvidos sejam responsabilizados de forma penal e civil por práticas racistas e indenização às famílias vítimas do racismo.
Fiscalização e responsabilização das empresas que não cumprem regras trabalhistas! - Sindicatos, movimentos negros e demais movimentos sociais precisam construir uma agenda antineoliberal e antirracista com lutas unificadas por todo o país!
- É preciso revogar essas contrarreformas que, sobretudo depois da pandemia, mostraram que só aprofundarão o racismo, a desigualdade, injustiça e miséria no país!
- É preciso uma agenda de combate à fome e de programas de geração de renda de forma digna!
- Não à xenofobia, que todos e todas que venham para esse país tenham acesso a moradia, trabalho e dignidade. Regularização já!
- Enquanto o racismo perdurar e se aprofundar, é preciso reafirmar a política de cotas que será rediscutida ainda esse ano no Congresso!
- Racistas, fascistas, milícias, Não Passarão!
- Por uma alternativa antirracista e socialista para combater a fome, o desemprego, a violência e o racismo!