Tentativa da direita de revogar o mandato de Kshama Sawant foi derrotada
Como Kshama Sawant e a Alternativa Socialista venceram (novamente!)
Pela quarta vez, a dirigente da Alternativa Socialista e vereadora da cidade de Seattle, Kshama Sawant, ganhou uma eleição, desta vez enfrentando um “recall” (votação para revogação do mandato) racista, de direita, apoiado por grandes empresas. Esta vitória é uma validação de uma abordagem baseada na luta de classes para o cargo eleito, um exemplo de política independente bem sucedida da classe trabalhadora, e está repleta de lições para os trabalhadores e a esquerda socialista.
Esta foi a eleição mais difícil que enfrentamos desde a posse de Kshama em 2013. Seattle nunca havia visto uma eleição em dezembro, um calendário conscientemente elaborado pela campanha de recall para diminuir a participação de trabalhadores, inquilinos, jovens e pessoas negras e latinas.
Um PAC (comitê para arrecadar fundos para serem usados em campanhas eleitorais) corporativo com o nome orwelliano “Uma Seattle Melhor” despejou centenas de milhares de dólares em constantes difusões de mentiras e falsidades na TV, na Internet e em anúncios de correio. Enquanto isso, a Campanha em Solidariedade à Kshama foi negada por anúncios do Google, YouTube e Hulu.
O PAC corporativo não foi o único a espalhar informações desonestas sobre Kshama e o recall da direita. Devido à nossa capacidade de conquistar vitórias que enfurecem a classe dominante e o establishment político, a mídia corporativa (especialmente o Seattle Times, de ampla circulação) tem divulgado constantes ataques enganosos e desleais contra Kshama e nosso movimento ao longo dos últimos oito anos. A Suprema Corte do Estado, sem nenhuma audiência para questionar a veracidade das acusações, decidiu a favor do recall da direita, resultando em mentiras claras que apareciam na cédula como a última coisa que alguém via antes de votar.
Os tribunais inexplicavelmente paralisaram seu julgamento por três meses, permitindo que o recall da direita realizasse a supressão de votos com uma eleição local, que normalmente tem uma participação muito mais baixa do que as eleições gerais, sendo realizada de forma inédita durante os feriados de inverno. A mesma corte rejeitou uma tentativa de recall contra a prefeita de Seattle, Jenny Durkan, apoiada pela Amazon, menos de seis meses antes, depois que ela ordenou ilegalmente o uso ilegal de gás lacrimogêneo contra manifestantes pacíficos do Black Lives Matter, resultando em mais de 18 mil queixas. Como os graves ataques ao direito de aborto e o sistema de justiça racista também mostram claramente, os tribunais capitalistas não estão do lado dos trabalhadores e dos oprimidos.
Nos oito anos de mandato de Kshama, sua liderança e o trabalho da Alternativa Socialista em Seattle tem sido um farol mostrando a forma como os marxistas podem levar os trabalhadores e os oprimidos a vitórias importantes. Desde tornar Seattle a primeira grande cidade a conquistar um salário mínimo de 15 dólares por hora em 2014, até o bem sucedido “Imposto Amazon” sobre grandes empresas de 2 bilhões de dólares em 2020 e as vitórias históricas pelos direitos dos inquilinos ao longo de anos. Nosso mandato marxista e os movimentos da classe trabalhadora em Seattle impactaram a vida não apenas dos moradores de Seattle, mas de milhões de trabalhadores em todo o país. Agora, temos um forte mandato para continuar corajosamente nossa luta contra a direita e a classe dominante.
Polarização profunda e próximos passos
Como em muitas grandes cidades, os aluguéis em Seattle estão disparando. Conseguimos mais de 15 mil assinaturas a favor do controle de aluguéis durante esta campanha, ao mesmo tempo em que o mandato de Kshama e a Alternativa Socialista ajudaram os inquilinos a se organizar para combater com sucesso os aumentos de aluguel em edifícios específicos. Também ganhamos direitos históricos de inquilinos este ano, que abriram um precedente nacional. Vamos intensificar esta luta por moradias de qualidade e acessíveis em Seattle, e esperamos que este movimento desesperadamente necessário possa se espalhar pelo país, assim como nossa vitória pelo salário mínimo de 15 dólares por hora fez em 2015. Como sempre, enfrentaremos uma oposição determinada dos locadores corporativos, do establishment democrata, dos tribunais pró-capitalistas, dos populistas de direita e, possivelmente, até mesmo da repressão estatal – mas nossas vitórias são uma prova de como uma abordagem de luta de classes pode superar estes obstáculos.
As grandes empresas não conseguiram tirar nosso mandato socialista apesar de terem feito tudo em 2019, quando só a Amazon gastou mais de 3 milhões de dólares. Desta vez, eles se uniram com uma reação de direita contra o movimento Black Lives Matter, e ainda não conseguiram derrotar Kshama e nosso movimento. Eles não vão parar por aí. Mentiras crescentes, processos judiciais e até mesmo a repressão estatal poderão ocorrer contra a Alternativa Socialista. Assistimos a uma polarização acentuada nesta eleição, com direitistas enlouquecidos assediando nossos voluntários com ferocidade e ameaças. O ex-presidente do sindicato dos policiais Ron Smith ameaçou “algemar a vereadora”, enquanto os policiais de Seattle faziam campanha pelo recall.
Pela primeira vez em mais de 30 anos, um republicano declarado ganhou um cargo eletivo em Seattle como Procurador da cidade no mês passado. Isto vai fortalecer ainda mais a direita. Como o governo Biden não consegue proporcionar ganhos reais para os trabalhadores, o espaço pode crescer para o populismo de direita. Nossa vitória mostra como lutar efetivamente contra este fenômeno.
Infelizmente, muitos candidatos e militantes de esquerda tentam enfrentar os políticos corporativos de direita escondendo as diferenças com o establishment democrata. Isto só deixa mais espaço para a direita se apresentar como a alternativa “antiestablishment” à política atual, como Trump e outros têm feito nacionalmente. Alguns outros ativistas se apegam a frases “progressistas” sem oferecer exigências concretas que possam melhorar a vida das pessoas da classe trabalhadora. Nenhuma dessas abordagens é eficaz.
Neste último ano, quando nossa campanha socialista lutou por demandas populares como controle dos aluguéis, direitos dos inquilinos e para expandir o “Imposto Amazon” para financiar moradias populares urgentemente necessárias, nem um único candidato democrata “progressista” levantou essas questão em suas campanhas – em vez disso, entraram na defensiva diante dos ataques da direita. Como resultado, não apenas os candidatos democratas perderam, como ainda por cima foram derrotados por uma margem arrasadora, como foi o caso de Lorena Gonzalez.
Os socialistas podem combater a direita lutando sem desculpas contra todas as formas de opressão e ligando isto às demandas de luta que beneficiam os trabalhadores. Precisamos estar dispostos a expor aqueles líderes corporativos e “progressistas” que não oferecem soluções para a classe trabalhadora enquanto nos organizamos por políticas claras como controle de aluguéis, aumento de salários, tributação dos ricos e um programa socialista de investimentos ambientais.
A política do trabalho de base
A mídia de Seattle e grande parte da esquerda muitas vezes se concentra no incrível “trabalho de base” da Alternativa Socialista ao explicar as vitórias de Kshama. Embora estejamos extremamente orgulhosos de nosso esforço sem precedentes de conseguirmos votos e arrecadação de um milhão de dólares, tudo isso flui diretamente de nossa dinâmica política socialista revolucionária.
É preciso um movimento de massas ativo para derrotar os capitalistas. O apoio passivo à ideias socialistas ou políticas específicas da classe trabalhadora não são suficientes para conquistar vitórias que podem afetar positivamente nossas vidas e afetar as contas bancárias dos bilionários. Em vez disso, precisamos lutar sem ambiguidade pelas necessidades dos trabalhadores, dos jovens e dos oprimidos para que eles se sintam envolvidos a lutar com tudo. Isto se expressa em parte nas exigências de luta de uma campanha, como nossa luta pelo controle dos aluguéis, pela qual entramos na ofensiva para lutar apesar do fato de que a campanha de solidariedade era, em essência, uma campanha defensiva. Também entramos na ofensiva contra este ataque de direita para enfatizar como era crucial para os trabalhadores que mantivéssemos a única voz na prefeitura disposta a lutar por nós.
Mais de 1,5 mil pessoas do Distrito 3 (distrito eleitoral de Kshama) se voluntariaram de alguma forma, muitas delas preenchendo “cartões de compromisso” prometendo discutir a eleição e garantir os votos de pelo menos três amigos, membros da família ou colegas de trabalho. Além disso, não nos concentramos apenas nos prováveis eleitores, o comparecimento entre os jovens de 18-25 anos teve centenas de votos a mais em nossa eleição extraordinária do que nas eleições gerais de novembro! Isto foi possível com mais de 1,7 mil novos registros de eleitores e uma orientação para os estudantes que normalmente não votam nas eleições locais. O registro de eleitores são especialmente cruciais para os inquilinos, muitas vezes forçados a se mudar por causa dos custos de moradia, pois Seattle tem um sistema de votação por correio.
Em contraste com as campanhas eleitorais de esquerda que prometem vitórias baseadas no voto, dissemos a todos os apoiadores que precisávamos deles para fazer mais do que apenas votar. Fizemos pelo menos três pedidos de doação para cada apoiador que encontramos batendo portas e fazendo banquinha, enfatizando quanto a direita e os executivos corporativos estavam gastando. Quebramos todos os recordes de Seattle, recebendo mais de 5 mil doações de dentro do distrito.
Enquanto muitas campanhas progressistas se concentram nos eleitores “prováveis”, nós aumentamos a votação em moradias públicas e comunidades marginalizadas. Em um prédio com moradores da África Oriental, o comparecimento foi quase dez vezes maior do que nas eleições gerais! Tivemos material de campanha em oito idiomas e realizamos campanhas especializadas para muitas comunidades que muitas vezes falam inglês como segunda língua. Além disso, tínhamos bancas de impressão de cédulas onde trabalhadores e jovens podiam imprimir sua cédula e votar no local.
Todas essas conquistas organizacionais foram necessárias para vencer, e todas elas fluem da orientação da classe trabalhadora do marxismo genuíno. Muitos ativistas também ficaram impressionados com a disciplina de nossa campanha que também flui de nossa política revolucionária; sabemos que será necessária uma organização coesa para derrotar efetivamente todas as forças que o capitalismo nos lança. Esta foi uma campanha de luta, com o objetivo de transformar o apoio passivo em uma luta ativa contra os grandes locadores proprietários, grandes empreiteiras e executivos corporativos que dominam o establishment político. Nossa mensagem política foi uma característica decisiva na forma como ganhamos.
Dando nomes aos inimigos de classe
Assim como o mandato de Kshama tem feito por mais de oito anos, estávamos dispostos a nomear e denunciar os apoiadores da ala direita. Enquanto muitas campanhas progressistas e até mesmo socialistas muitas vezes evitam polarizar a discussão contra nossos inimigos de classe e os maiores líderes do movimento de direita, nós estávamos orgulhosos dos adversários que fizemos.
No início, dissemos a verdade sobre o recall ser uma campanha da direita, embora isso tenha deixado algumas pessoas com raiva. Duas das acusações do recall foram um ataque ao movimento Black Lives Matter e as 20 milhões de pessoas que protestaram exigindo justiça para George Floyd. A outra era sobre o uso de nosso mandato socialista para construir o bem sucedido movimento pelo Imposto Amazon. Demasiadas vezes, os progressistas se colocam na defensiva quando são atacados pelo establishment político. Fizemos o contrário e dissemos às pessoas que Kshama e nosso movimento não tinham nada a esconder, sem arrependimentos, e que estas acusações eram de direita. Apontamos o apoio das grandes empresas pelo recall e sua motivação para anular nossa reeleição de 2019. Também apontamos que os tribunais não estão do lado dos trabalhadores e a natureza antidemocrática do processo de recall.
Embora o caráter de direita das acusações da campanha pelo recall fossem claras durante todo o processo, também usamos a frase “recall de direita” baseado em nossa previsão política de como a campanha se desenvolveria. Enquanto o recall inicialmente estava retornando doações de notórios doadores de direita como o bilionário proprietário da empresa de locação de moradia ICE e o apoiador de Trump Martin Selig, sabíamos que eles teriam que se apoiar cada vez mais no apoio da direita, dada sua base superficial em Seattle. Depois de meses dizendo que o recall era de direita, seu gerente de campanha, que não conseguia lidar com perguntas difíceis de repórteres progressistas, começou a aparecer na rádio de direita para entrevistas semanais com perguntas fáceis. As doações de direita (mais de 130 que doaram para Trump e mais de 500 doadores republicanos) começaram a se empilhar, e eles até aceitaram outra doação do próprio Selig! O uso do slogan “recall de direita” desde o início posicionou nossa campanha para poder escandalizar o recall e torná-lo tóxico para uma camada de eleitores no “meio do campo”.
Previmos também que a campanha de recall recorreria à supressão de votos como seu único caminho potencial para a vitória. Com a tática de “põem pra votar ou calem”, coletamos mais de 3 mil assinaturas para que a convocação fosse colocada na cédula com a própria Kshama assinando a petição de forma proeminente! Fizemos isto para expor a campanha de recall da direita por evitar conscientemente colocar o recall em votação no dia 2 de novembro, quando o comparecimento às urnas seria maior, já que os eleitores de Seattle votariam na prefeitura e em muitas outras posições da cidade e região. Esta tática ajudou a mostrar sem dúvida que a campanha do recall estava tentando suprimir os eleitores e deu mais credibilidade ao nosso slogan chamando a campanha de recall de direita, apesar das objeções de muitos liberais ricos.
Embora forçados a travar uma luta contra o recall, também continuamos a nos concentrar na construção de movimentos de trabalhadores e locatários, mesmo quando isso atravessava nossa campanha no território. O mandato de Kshama e a Alternativa Socialista se mobilizaram pela legislação histórica dos direitos dos inquilinos em 2021 e lideraram uma luta contra os aumentos de aluguel na RainierCourt (um conjunto de prédios de apartamentos fora do distrito de Kshama!). Além disso, reunimos mais de 15 mil assinaturas a favor do controle dos aluguéis e construímos um comício de centenas em um dia chuvoso no auge da nossa luta contra o recall. A luta de classes não para e não fazemos pausas por considerações eleitorais; também sabemos que um clima confiante de crescimento dos movimentos pode ajudar as perspectivas eleitorais para os socialistas.
Talvez o mais importante para a luta de classes, e também o mais controverso, foi o papel de Kshama e da Alternativa Socialista na greve dos carpinteiros do Estado de Washington. Esta foi uma greve que os líderes do sindicato nunca quiseram, ocorrendo depois que os trabalhadores rejeitaram quatro acordos provisórios que foram negociados pelos funcionários do sindicato. Os líderes do sindicato realizaram piquetes ineficazes que não fecharam um único local de trabalho. Após alguns dias disso, os trabalhadores começaram a organizar seus próprios piquetes militantes, que o grupo de base de Peter J. McGuire ajudou a liderar. O mandato de Kshama desempenhou um papel significativo nesta greve, muito para o incômodo destes líderes sindicais. Embora o resultado da greve não tenha sido uma vitória decisiva, ela ajudou a preparar o caminho para futuras batalhas sindicais, e Kshama está apresentando uma legislação para lidar com uma das exigências dos trabalhadores – que os patrões paguem pelo caro estacionamento de Seattle, que consome uma porção significativa dos salários diários dos trabalhadores.
Socialistas e sindicatos
Tivemos orgulho em conseguir apoio de mais de 20 sindicatos locais para a Campanha em Solidariedade à Kshama, e este esforço foi impulsionado por 600 adesões de trabalhadores do movimento sindical de Seattle. Enquanto existem alguns líderes sindicais combativos em Seattle, muitos outros só relutantemente apoiaram nossa campanha devido à pressão vinda de baixo. Às vezes, mesmo depois que os sindicatos apoiaram nossa luta contra o recall, era necessária uma proposta de ativistas de base (muitas vezes membros ou simpatizantes da Alternativa Socialista) para conseguir que os sindicatos investissem quaisquer recursos na luta.
Este é infelizmente um microcosmo da situação do movimento sindical no momento. Os sindicatos de luta são desesperadamente necessários, pois os bilionários acumulam riqueza à medida que o planeta arde. O movimento sindical também está mais popular do que nunca, e sinais de luta estão surgindo. No entanto, em praticamente todas as lutas durante o “outubro das greves”, os líderes sindicais frearam a luta enquanto os trabalhadores queriam uma luta mais determinada. Como no passado, os ativistas socialistas podem desempenhar um papel destacado no movimento sindical se oferecermos um caminho claro para vencer. Isto significa não se esquivar de criticar os líderes trabalhistas quando eles cometem erros ou traem a classe trabalhadora.
A Alternativa Socialista teve o orgulho de apresentar uma resolução para a convenção nacional dos Socialistas Democratas da América (DSA) deste último verão, argumentando que os líderes sindicais são um obstáculo central que trava o movimento. Embora nossa resolução no final das contas não tenha sido aprovada, esta perspectiva provou ser correta pelos acontecimentos. Apesar de Kshama ser uma presença constante nas lutas dos trabalhadores de Seattle, houve uma enorme pressão sobre ela ao longo dos anos para amenizar suas críticas aos líderes sindicais. No entanto, os socialistas têm o dever de apontar o caminho para a vitória em cada movimento, mesmo que isso leve a fortes debates.
Os líderes sindicais combativos, mesmo quando discordam da Alternativa Socialista, não têm medo de críticas quando valorizam o debate aberto e honesto em nosso movimento. Entretanto, muitos líderes sindicais, mesmo de sindicatos que apoiaram a Campanha em Solidariedade a Kshama, não concordaram com nossa abordagem da greve dos Carpinteiros, com a votação do contrato da UPS antes disso, e com nossa oposição ao acordo sindical da polícia que foi amplamente oposto pelos líderes das comunidades marginalizadas.
Alguns dos líderes sindicais mais conservadores, particularmente no setor da construção civil, apoiaram abertamente a campanha de recall. Eles até ajudaram a criar um PAC a favor do mandato de Kshama e doaram aos mesmos PACs que os odiados patrões da construção civil, o Associated General Contractors of America. Nós nomeamos esses líderes enganosos e registramos claramente nossas discordâncias, e muitos representantes dos sindicatos discordaram fortemente de nossa abordagem. Entretanto, é um princípio para nós que dizemos a verdade à classe trabalhadora, e o faremos novamente.
Infelizmente, a abordagem combativa da Alternativa Socialista para reconstruir um movimento de trabalhadores combativo está em contraste com grande parte da esquerda. Por exemplo, a campanha à prefeitura de India Walton em Buffalo foi minada pela liderança sindical que apoiou de forma esmagadora seu oponente, o atual prefeito. Em vez de construir agressivamente o apoio da base para se opor aos líderes conservadores do sindicato, sua campanha recuou em relação a essa luta e não conseguiu polarizar-se suficientemente contra o vergonhoso establishment democrata. Em vez disso, Walton concentrou-se em enfatizar o apoio que recebeu de Chuck Schumer, um dirigente democrata de alto nível e empresário, nas últimas semanas da campanha.
Papel vergonhoso dos representantes democratas
Kshama concorre abertamente como membro da Alternativa Socialista, e é conhecida por defender um novo partido de trabalhadores de massas e uma ruptura com os democratas. Mesmo assim, ganhamos o apoio esmagador de ativistas democratas locais no 43º Distrito Legislativo, por uma maioria de 83%. Seattle é de certa forma única na medida em que as estruturas locais do Partido Democrático têm realmente ativistas e vida, e encontramos nelas algum apoio às ideias socialistas ao longo dos anos. Este não é o caso na maioria das organizações locais do partido democrata que muitas vezes são cascas vazias sem ativistas que servem apenas às necessidades dos políticos carreiristas.
A Kshama e a Alternativa Socialista também se orgulharam de obter o apoio de Bernie Sanders, Noam Chomsky e outras figuras nacionais, juntamente com as profundas raízes que temos no Distrito 3 e no resto de Seattle.
Apesar de nosso forte apoio de eleitores democratas e ativistas de base, fomos recebidos com silêncio pela maioria dos legisladores democratas (com algumas exceções em nível estadual e municipal). Vergonhosamente, nem um único vereador democrata apoiou Kshama contra o recall de direita, nem mesmo os democratas progressistas como Tammy Morales e Teresa Mosqueda. Isto apesar das repetidas tentativas de nossa campanha e dos esforços de boa fé para trabalhar com os progressistas onde concordamos. Ao mesmo tempo, Kshama nunca reteve críticas quando elas são justificadas, e pensamos que mais representantes eleitos da DSA deveriam fazer o mesmo quando se deparam com democratas progressistas que falham em se posicionar consistentemente junto com as pessoas trabalhadoras.
Os democratas progressistas se saíram mal nas eleições de novembro em Seattle. As pessoas da classe trabalhadora estão fartas de frases “progressistas” de políticos que não estão ligados a demandas concretas como o controle dos aluguéis e a taxação dos ricos. O establishment democrata se aproveitou da abertura, apoiado por milhões de dólares do PAC corporativo. Enquanto serviçais das grandes empresas se apoiaram, como o prefeito eleito Bruce Harrell, em mensagens de “lei e ordem” para lidar com a crise habitacional de Seattle, a progressista Lorena Gonzalez, apoiada pelos sindicatos, falhou em fornecer qualquer aparência de alternativa, terminando em uma série de movimentos desesperados que lhe saíram pela culatra. Gonzalez não apenas evitou qualquer menção ao controle dos aluguéis ou outras demandas da classe trabalhadora, ela falhou em defender o movimento “Black Lives Matter” contra a histeria pró-policial e antiprotesto incentivada pelos PACs. Ela também se recusou a expor o apoio das grandes empresas e o apoio maciço dos PACs corporativos a seu oponente, provavelmente porque ela mesma não queria antagonizar as grandes empresas. Harrell venceu de forma esmagadora.
Lições para o DSA
Infelizmente, ambos os candidatos apoiados pela DSA também perderam em Seattle em novembro deste ano. Nicole Thomas-Kennedy foi derrotada por um republicano (o primeiro eleito em Seattle em 30 anos) para Procurador da cidade, e isto foi alimentado parcialmente pela reação da direita contra o Black Lives Matter. Nikkita Oliver, uma líder de movimento social que foi apoiada por Kshama, também perdeu sua disputa contra um democrata do establishment. Infelizmente, Nikkita Oliver na verdade não fez campanha sobre o controle dos aluguéis, sobre a tributação das grandes empresas, ou outras demandas da classe trabalhadora, em vez disso, se baseou em 9 slogans vagos.
O que aconteceu em Seattle, com o contraste entre os resultados das eleições de novembro e dezembro, evidentemente contradiz as afirmações de alguns no movimento socialista de que a política independente fora do Partido Democrata é uma “sentença de morte”. Os dois candidatos apoiados pela DSA que concorreram como democratas perderam, e a marxista independente, Kshama Sawant, ganhou. Embora a independência política não resulte necessariamente em sucesso eleitoral, isto mostra a falsa narrativa de que concorrer como democrata é um caminho mais fácil para a mudança socialista. E isto não se limita às eleições – a tentativa de evitar antagonizar com as grandes empresas e o establishment político durante as eleições é praticamente sempre seguida por um fracasso na construção de movimentos e lutas quando no cargo. Nosso único mandato marxista em Seattle, conquistou mais ganhos históricos significativos para os trabalhadores, como o salário mínimo de 15 dólares e o Imposto Amazon, do que qualquer outro representante eleito que se autodeclara socialista, incluindo aqueles com os recursos e plataformas de mandato nacional.
Em última análise, o Partido Democrata é uma barreira para os trabalhadores, pessoas oprimidas e jovens que tentam mudar a sociedade. Kshama é independente dos democratas para ser um exemplo notável de que um partido da classe trabalhadora é possível e necessário. Em vez de prometer reformas se eleito, a Alternativa Socialista sempre aponta para os movimentos que as lutas serão indispensáveis para obter vitórias.
A eleição para a prefeitura de Buffalo em novembro também mostrou que concorrer às primárias do Partido Democrata não são um atalho para o sucesso de socialistas. India Walton venceu as primárias contra o candidato em exercício, mas foi derrotada nas eleições gerais para esse mesmo candidato, sem que fosse o candidato oficial!
O DSA está lutando para encontrar uma maneira de responsabilizar os representantes eleitos, como mostra a recente traição de Jamal Bowman e o debate contínuo em torno disso no DSA. Esta deve ser uma discussão contínua, e respostas organizacionais simples não serão suficientes. Uma análise aprofundada e um plano de ação são necessários para que os socialistas utilizem efetivamente o cargo eleito para construir lutas bem-sucedidas e preparar o caminho para um novo partido de massas da classe trabalhadora. A Alternativa Socialista gostaria de aprofundar nossa contribuição para este importante debate no DSA e na esquerda mais ampla, e nosso trabalho e experiência em Seattle nos dá uma visão única sobre esta discussão.
Rumo à vitória final
Enquanto há uma trégua momentânea nos protestos de rua, a sociedade está profundamente polarizada e as lutas de massas estão no horizonte. A esquerda socialista pode crescer se apontarmos um caminho para o movimento de trabalhadores e a luta contra a crescente ameaça do populismo de direita.
Concretamente, os direitos ao aborto estão sob ameaça direta. Os socialistas precisam estar na vanguarda da luta para defender e ampliar os direitos reprodutivos. Se a esquerda ficar à margem dos movimentos sindicais e de mulheres em 2022, serão levados a becos sem saída e derrotas por democratas e burocratas. Ao invés disso, os socialistas precisarão fazer propostas ousadas e concretas para ampliar uma luta disposta a tomar a ação determinada para abalar o sistema capitalista.
Não são apenas as eleições, mas a luta de classes e social que podem lançar as bases para um novo partido para o povo trabalhador. Os trabalhadores produzem tudo, distribuem tudo, constroem tudo, limpam tudo, curam os doentes, ensinam as crianças e prestam todos os serviços. Este sistema não pode se mover sem nós. Podemos fechá-lo e construir um novo mundo baseado nas necessidades da humanidade e do planeta, não na ganância de uns poucos. Internacionalmente, precisamos de um mundo baseado na solidariedade e na democracia, no qual as grandes corporações e os recursos do mundo sejam de propriedade publica e controlados democraticamente. Podemos conquistar um mundo socialista se nos organizarmos, e esta eleição é uma contribuição importante, mas pequena, para esse processo.
Como disse Kshama ao anunciar nossa vitória, “Se uma pequena organização socialista revolucionária pode vencer as corporações mais ricas do mundo aqui em Seattle repetidamente, você pode ter certeza de que o poder organizado da classe trabalhadora mais ampla pode mudar a sociedade”. Junte-se à Alternativa Socialista e ao nosso movimento internacional hoje!