Chile: Derrota da extrema-direita abre caminho para a retomada da luta de massas!

Gabriel Boric, da coalizão “Apruebo Dignidad”, derrotou o candidato da extrema-direita, José Antonio Kast, no segundo turno das eleições chilenas. Boric obteve 55,8% dos votos, praticamente um milhão de votos a mais que Kast (44,1%). Com isso, inverteu-se a situação do primeiro turno, quando Kast havia conquistado o primeiro lugar. Naquele momento, uma parcela significativa de eleitores jovens e da classe trabalhadora, decepcionados com o sistema político e não entusiasmados com a moderação de Boric, preferiu não comparecer às urnas.

Diante da ameaça de uma vitória de um pinochetista no segundo turno, a mobilização e o comparecimento às urnas foi muito maior e serviu para impor uma derrota significativa a Kast.

A vitória eleitoral de Boric representa um revés para os planos das alas mais truculentas da classe dominante que pretendiam impor à força uma derrota definitiva à grande revolta popular que explodiu no Chile em outubro de 2019. 

Um governo de extrema-direita, respaldado pelas urnas, teria mais condições para aprofundar a repressão e os ataques que o atual presidente Sebastián Piñera já promovia, embora enfrentando forte resistência e sem nenhuma legitimidade popular.

A partir de agora, a classe dominante vai apostar na domesticação de Boric e na busca de que seu governo convença os trabalhadores, a juventude, mulheres e povos originários a não retomar e aprofundar sua luta. 

Junto com isso, essa mesma classe dominante, apostando no desgaste futuro de Boric, preparará o terreno para soltar novamente seus cães raivosos da extrema-direita. 

A merecida celebração popular pela vitória de Boric não pode nos fazer esquecer que a derrota definitiva da extrema-direita chilena só se dará com a retomada das lutas de massa e da organização pela base nos territórios e locais de trabalho e estudo. Tudo isso em defesa de uma agenda de transformação radical da sociedade chilena, que enterre de vez o neoliberalismo, o autoritarismo, a desigualdade e o sistema que gera tudo isso.

A moderação política e a postura conciliatória de Boric e de grande parte da esquerda ou centro-esquerda chilena quase colocou tudo a perder em um contexto de polarização social e política e busca por mudanças profundas. 

A revolta de massas de outubro de 2019 poderia já ter derrubado Piñera e criado condições para que se conquistasse uma legítima e soberana Assembleia Constituinte no país. Mas, a assinatura do ‘Pacto pela Paz’ e a aceitação de uma Convenção Constitucional com poderes limitados deu sobrevida a Piñera e abriu espaço para que a extrema-direita levantasse a cabeça ameaçadoramente.

A vitória de Boric representa uma oportunidade para que o povo chileno retome sua dinâmica de lutas dos últimos anos e construa uma autêntica alternativa dos trabalhadores e do povo oprimido. 

Não se pode aceitar a ideia de trégua ou de reconciliação nacional. Não se pode adotar uma atitude de espera e expectativa diante das medidas que o novo governo deveria adotar.

É preciso levantar a bandeira da educação e saúde públicas, do direito à aposentadoria, da estatização com controle dos trabalhadores dos recursos naturais e minerais e dos setores chaves da economia, a defesa dos direitos das mulheres, da garantia dos direitos do povo Mapuche e de todos os povos originários.

É preciso aprofundar a organização da luta pela base, unificar os movimentos em luta e construir as condições para uma greve geral ainda mais poderosa do que aquela de novembro de 2019. 

É preciso apontar a perspectiva de um governo dos trabalhadores e do povo oprimido com um programa anticapitalista e socialista.

Só assim, o povo chileno vai consolidar sua vitória contra a extrema-direita e conquistar uma vida digna.

Mais uma vez, o Chile é referência para a lutas dos povos da América Latina e do mundo. Aprendamos com sua experiência, unifiquemos as nossas lutas e conquistemos uma América Latina e um mundo socialistas.

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