8 de março: a luta das mulheres é mundial

Em todos os cantos do mundo temos nos levantado contra a sociedade machista e capitalista, que insiste em nos atacar, retirar direitos e nos eleger como pessoas de categoria inferior. Nos últimos anos, os ataques, assim como a luta, se intensificaram. Um cenário que expressa bem essa nova fase do capitalismo, pós crise de 2008, que se traduziu em maior austeridade, cortes de direitos, que dificulta a vida da classe trabalhadora e, de modo mais agudo, das mulheres. 

As mulheres na Polônia tomaram as ruas contra os retrocessos na lei que autoriza o aborto legal. No Estado Espanhol, mulheres no 8 de março, em torno de uma pauta de ampliação de direitos, organizam a greve geral. 

Na Índia, centenas de milhares de mulheres abraçam um templo, em função da interdição da sua entrada. Na Irlanda, mulheres conquistaram a legalização do aborto. No Sudão, mesmo correndo riscos de serem violentadas, mulheres saem às ruas, na linha de frente do levante que tomou às ruas do país. 

Não por acaso, as mulheres na Argentina ocuparam as ruas aos milhares em defesa da vida e pela legalização do aborto. Assim como as lutas insurrecionais no Chile, inicialmente contra o aumento da passagem, que tem sido protagonizadas por jovens e jovens meninas. 

No Brasil, o #Elenão contra o Bolsonaro, na época candidato e hoje presidente de extrema direita, levou mais de um milhão de mulheres às ruas em 2018 e nesse momento há a necessidade de reedição desta luta em 2020. A luta das mulheres será protagonista na derrota de Bolsonaro.

As comemorações do dia internacional de luta das mulheres em 2020 no Brasil abrem a agenda do calendário de lutas dos movimentos sociais em uma conjuntura que, para além dos reflexos da retirada de direitos, como desmonte das leis trabalhistas e a reforma da previdência com perda do direito de aposentadoria e filas enormes para conseguir a licença maternidade. 

Bolsonaro inimigo das mulheres

Temos um governo que estimula e normaliza o antagonismo contra as mulheres com declarações misóginas e assédio sexual à quem lhe questiona ou revela suas falhas e o envolvimento de sua família com a indústria das fake news e relações suspeitas e muito próximas das milícias. 

O governo de Bolsonaro tem um modus operandis específico para cada grupo de mulheres. Para as opositoras e questionadoras, ameaças e exposições de todas as formas, inclusive de cunho sexual ou preocupações banais com pelos nas axilas. Para os que fazem vista grossa às suas violências de tratamento e exposições que reforçam o modelo patriarcal de mulher bela, recatada, do lar, infantilizada, louca, fútil e dama de companhia. 

Ambos os modos denotam violência de gênero em suas diversas formas e precisam ser combatidos, pois não podemos reforçar a ideia de que as mulheres são seres inferiores, sem autonomia e sem vontades, simples objetos de uma masculinidade tóxica que tem levado a óbito milhares de mulheres todos os anos. 

O Brasil continua batendo recordes na escalada do feminicídio, e se um governo do tipo Bolsonaro não for combatido, estes números tenderão a aumentar.

O Estado opressor: o violador és tu

Feminicídios, mortes de mulheres pelo fato de serem mulheres poderiam ser evitadas se o Estado não as violentassem em seus direitos mais básicos. Não é novidade para mais ninguém que a dependência econômica é um dos principais fatores para a manutenção do ciclo da violência nas relações íntimas de afeto. 

Mas como reverter uma situação onde o mercado de trabalho ainda paga às mulheres um salário correspondente a 76% dos homens para a mesma função, mesmo as mulheres acumulando a dupla, tripla jornada de trabalho e acumulando três horas a mais de trabalho por semana?

Segundo a ONG Britânica Oxfam, 42% das mulheres no mundo não conseguem ter um trabalho remunerado devido à grande carga de trabalho doméstico. Para as brasileiras, a realidade de um trabalho remunerado é cada vez mais distante. 

Segundo o IBGE, há um ano, 52,6% da população desempregada e 64,6% da população fora da força de trabalho eram de mulheres, ou seja, as mulheres são as que compõem maioria na taxa de desemprego no Brasil. 

Por mais que estes números já sejam alarmantes e preocupantes, ainda há na base da pirâmide aquelas que sequer serão consideradas como estatísticas, como por exemplo as travestis e transexuais. São mulheres que mesmo quando conseguem estudar e obter um diploma, não são contratadas em suas áreas. Situação que favorece uma dependência exclusiva da prostituição para cerca de 90% delas, o que acaba sendo a única opção de sobrevivência. 

Sucateamento dos serviços públicos é uma violação às mulheres

Além de uma ausência de políticas que visem equidade salarial, condições de trabalho, geração de emprego e renda para as mulheres, o governo as viola duplamente com o sucateamento dos serviços públicos essenciais como saúde, educação e moradia, ora como servidoras, trabalhadoras concursadas que vem perdendo direitos paulatinamente, ora como usuárias que não tem atendimento digno de suas demandas e direitos conquistados a duras penas pelo conjunto da classe trabalhadora.

É inadmissível o fato de que em pleno século XXI, hospitais públicos negam atendimento a gestantes na hora do parto no Rio de Janeiro, aumentando absurdamente a taxa de mortalidade materna. Ao mesmo tempo a assembleia legislativa de São Paulo aprova a “indústria” da cesariana que desconsidera uma construção de fluxo e autonomia da mulher cunhado no princípio do parto humanizado e humanização do próprio SUS. 

O movimento de mulheres negras vem denunciando há anos as práticas de racismo estrutural que concede menos anestesia para as mulheres negras, não somente durante o trabalho de parto mas também em outros procedimentos, ou seja, às mulheres negras nada, exceto quando se trata de aumento de suas angústias e dores.

Há um desmonte das políticas de assistência social mínimas que se não forem barradas, colocarão cada dia mais mulheres, crianças, adolescentes e idosos em situação de extrema vulnerabilidade econômica agravadas pelo fim do SUS, das escolas públicas e da retirada de direitos trabalhistas e previdenciários.

Constata-se cada vez mais que não se trata de situações contingenciais ou entraves administrativos dos governos, mas sim um projeto no qual delegam às mulheres o papel de cuidado e reprodução e aos trabalhos mais precarizados. 

Mulheres em luta por uma nova sociedade

É contra toda esta violência perpetrada pelo Estado que nós mulheres ocuparemos as ruas no mês de março e, quantos mais forem necessários para denunciarmos e tornar possível barrar toda a ofensiva do capital contra nossas vidas, nossos corpos, nossos filhos e entes queridos. É necessário denunciarmos a situação de barbárie ao qual estamos sendo expostas. Nenhum minuto de silêncio.

É necessário resgatar as origens reais do dia internacional de luta das mulheres que, em 1917, na Rússia, saíram às ruas por pão, paz e terra. Nossas demandas continuam as mesmas, mesmo depois de um século e de conquistas pontuais que, no capitalismo, já vimos que não são eternas.

O ataque às mulheres é em escala mundial. O capitalismo já revelou que é incapaz de existir sem utilizar o machismo e a misoginia como ferramentas. Não há vida plena para nós mulheres no capitalismo. 

É fundamental que construamos conjuntamente a saída. E a saída é fora deste sistema. É urgente a construção do feminismo socialista, e ele precisa ser internacional. É revelador o quanto as nossas especificidades, diferenças culturais e de demandas, não são diferenças quando o assunto são ataques do capitalismo machista. 

Mesmo pequenos avanços conquistados, são retirados quando o sistema precisa se reorganizar para manter os seus lucros. Podemos ver isso nos corte de serviços públicos, como educação e saúde, ou mesmo em casos de aborto legal – com fechamento de serviços – e redes de assistência às mulheres vítimas de violência – que no caso do Brasil teve seu orçamento zerado – que deixam de existir quando a política de austeridade ganha espaço.

Constuir a Rosa!

Neste sentido, chamamos as mulheres do mundo todo a construírem conosco a Rosa como plataforma política, urgente, importante e fundamental para articularmos as nossas lutas por um feminismo socialista internacional, a partir das nossas lutas locais e territoriais, não só em março, mas durante todo o ano. 

Esta ferramenta permite que sejamos mais fortes e, portanto com melhores condições de derrotar este sistema e construir um mundo onde nos caiba e sejamos também protagonistas de um mundo socialista!

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