Desmatamento bate recorde e Bolsonaro defende aumento da exploração da Amazônia

O Conselho Nacional da Amazônia Legal comemorou uma queda no desmatamento em 5% em sua reunião de 24 de agosto, apontando para as medidas implementadas pelo governo federal. Esses dados falsos foram levados para a cúpula do clima da ONU, a COP26, em Glasgow, Escócia.

Mas logo após a COP26 foi revelado que na verdade houve um aumento de 22% do desmatamento no período entre agosto de 2020 e julho de 2021. O informe do Inpe que revelava o maior desmatamento desde 2006 tinha sido finalizado no dia 27 de outubro, quatro dias antes do início da cúpula do clima, mas o governo segurou a divulgação dos dados para evitar críticas na COP26.

Novamente se confirma como o governo Bolsonaro se utiliza de mentiras, negacionismo e falas vazias para continuar a devastação dos recursos naturais em prol de grandes interesses econômicos.

Durante a COP26, os representantes do governo brasileiro prometeram elevar as metas para deter o aumento de emissão de gases de efeito estufa. A promessa agora é zerar o desmatamento ilegal até 2028 e a emissão de metano será diminuída em 30%. Porém, essas são palavras vazias, já que não há nenhuma medida real por trás delas, enquanto o governo incentiva abertamente a continuidade da devastação ambiental.

Primeiramente, não ajuda acabar com o desmatamento ilegal, tem que acabar com o desmatamento e ponto. O governo pode atingir sua meta simplesmente ampliando o que é “legal”. Já vimos como o ex-ministro do meio ambiente Ricardo Salles agiu diretamente para tentar liberar exportação de madeira extraída ilegalmente.

Na verdade o desmatamento ilegal aumentou durante o governo Bolsonaro, enquanto ele agiu para diminuir a capacidade de inspeção do Ibama. Bolsonaro fez campanha eleitoral prometendo “acabar com a indústria da multa no Ibama” e essa é uma promessa que ele vem cumprindo.

Bolsonaro também continua a mentir, negando que há problemas de desmatamento ou ambiental na Amazônia. Em discurso para investidores árabes em Dubai, para onde ele viajou ao invés da COP26, Bolsonaro alegou que mais de 90% da Amazônia está preservada e está “exatamente igual a quando o Brasil foi descoberto”. Além disso ele diz que não há incêndios florestais na Amazônia, já que a floresta é úmida! Na verdade, o Inpe contabilizou 103.161 focos de incêndio na região no ano passado.

Depois da críticas internacionais, o governo enviou o exército em três operações a partir de 2019 para conter o desmatamento ilegal, numa tentativa de promover sua política de militarização de tudo. Foram gastos 550 milhões de reais, seis vezes mais que o orçamento do Ibama, nessa operação que foi um fracasso total, já que o desmatamento aumentou. 

A meta sobre redução de metano também é vazia, já que a maior parte está ligada à agropecuária, que tem sido a prioridade dos governos faz tempo, não somente sob Bolsonaro.

Além do desmatamento para extrair madeira e expandir a área para o agronegócio, o aumento do garimpo é um grande problema. Apesar da imagem comum do pequeno garimpeiro artesanal, na verdade muitas vezes se trata de extração em escala industrial com grandes máquinas. A área atingida pelo garimpo vem crescendo rapidamente nas últimas décadas e é agora maior que a da mineração industrial.

Novamente, a solução de Bolsonaro para acabar com o garimpo ilegal é simplesmente legaliza-lo. Em outubro, Bolsonaro visitou uma área de garimpo ilegal dentro da terra indígena Raposo Terra do Sol, Roraima. Lá ele voltou a defender o projeto de lei 191 apresentado no ano passado que regulamenta mineração e exploração de recursos hidrológicos e de petróleo em terras indígenas.

Além dos efeitos sociais graves que isso trará, os efeitos ambientais são profundos e imediatos. O garimpo é feito diretamente nos rios ou ao redor e o uso de mercúrio para extrair o ouro leva ao envenenamento da água e dos peixes. Recentemente foi alertado sobre o aumento da desnutrição entre crianças do povo yanomami. Como muitos outros povos indígenas e ribeirinhos, eles sofrem por não poder pescar ou usar a água dos rios para beber.

O enfraquecimento da saúde como consequência disso fragiliza a saúde para outras doenças e infecções. Os casos de malária tem aumentado dramaticamente entre os yanomamis, com 16 mil casos esse ano em uma população de 30 mil! Ao mesmo tempo, eles sofrem com a falta de medicamentos. Enquanto, o governo tem gasto dezenas de milhões para distribuir milhões de doses de cloroquina pelo país para usar contra a Covid, contra a qual não há nenhuma eficácia, falta agora o mesmo remédio para os yanomami, já que a cloroquina é sim eficaz contra malária.

Além de lutar contra o governo Bolsonaro, é necessário lutar contra o próprio sistema capitalista. A lógica do sistema, que é baseado no lucro acima de tudo, impede medidas reais. Para lidar com os problemas do desmatamento é necessário enfrentar os interesses das madeireiras, do agronegócio, das mineradoras, mas também implementar um programa social que garante renda para aqueles que agora estão, por falta de alternativa, na linha de frente do desmatamento e garimpo como mão de obra barata para enriquecer os grandes capitalistas nas cidades.

A defesa dos direitos dos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, da floresta e meio ambiente, tem que ser uma luta anticapitalista e socialista. 

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