Crise climática: mobilização internacional de Glasgow para os protestos da COP26

”Falha monumental”, ”Palavras vazias, nenhuma ação” e ”Traição total” são apenas algumas das palavras usadas para descrever o resultado da COP26. Para salvar o clima, é preciso acabar com o capitalismo. ASI esteve em Glasgow para construir uma organização capaz de organizar a mudança para um mundo socialista.

Os líderes mundiais têm se reunido em Glasgow nas últimas duas semanas para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática COP26, a fim de dar ao sistema capitalista global uma nova demão de tinta verde. O que sempre seria uma farsa acabou se revelando ainda mais desanimador do que se poderia esperar. Os trabalhadores e os jovens do mundo inteiro estão enfrentando o aumento da temperatura, desastres naturais e a probabilidade de mais pandemias. A conferência respondeu a isso com Joe Biden e Boris Johnson cochilando durante os discursos de abertura; Bolsonaro, Putin e Xi Jinping escolhendo não comparecer; e uma coleção de promessas ocas que ainda apontam para um catastrófico aumento de 2,7°C do aquecimento global até 2100.

O único resultado realmente positivo da COP26 não foi encontrado nos salões de reunião ao lado de figuras como Biden e Johnson, mas nas ruas onde vimos o início de um ressurgimento do movimento climático que varreu o mundo em 2019. Manifestações exigindo ações reais e substanciais para enfrentar a mudança climática levaram 100 mil pessoas às ruas de Glasgow na última sexta-feira e sábado!

A Alternativa Socialista Internacional compreende a enorme importância e o potencial revolucionário deste movimento e é por isso que mobilizamos 300 de nossos membros e apoiadores de todo o mundo para construir um contingente socialista internacional nos protestos. Socialistas revolucionários de nossas seções nacionais em todos os continentes, incluindo Brasil, Estados Unidos, China/Hong Kong/Taiwan, Bélgica, Irlanda, e mais se reuniram com mais de 100 membros e apoiadores da Alternativa Socialista (ASI na Escócia, Inglaterra e País de Gales) para assegurar que uma voz internacionalista baseada na luta de classes fosse ouvida em voz alta nos protestos, apontando para a necessidade de uma mudança socialista para pôr um fim às mudanças climáticas.

Por que a conferência foi um fracasso tão grande?

Esta não é a primeira ou última vez que veremos políticos e líderes empresariais se reunirem para este tipo de “festival de maquiagem verde”. O Acordo Climático de Paris foi adotado na COP21 em 2015 e vendido como um grande passo em frente nos esforços para limitar o aumento da temperatura global. Cinco conferências mais tarde e a situação só piorou. O relatório do IPCC deste ano, que expôs a dura realidade da pesquisa climática, foi descrito como um “alerta vermelha para a humanidade”. Mesmo com esse prognóstico sombrio, seria incorreto esperar uma ação substancial a ser acordada na conferência.

Os bilionários e seus políticos nunca serão capazes de enfrentar suficientemente a crise resultante da busca de lucro no coração de seu sistema. Quando apenas 100 empresas são responsáveis por 71% de todas as emissões industriais de carbono, fica claro que os interesses dos super-ricos são fundamentalmente opostos aos objetivos do movimento climático. Todos os esforços com potencial para levar a um progresso real contra a mudança climática representam uma ameaça à estabilidade do sistema que mantém essas pessoas no poder. Qualquer resultado verdadeiramente positivo que saísse da COP26 estava condenado desde o início.

Socialistas nas ruas

Milhões de trabalhadores e jovens em todo o mundo sabem que não podem mais depositar a confiança do futuro de nosso planeta em acordos de bastidores de empresários e políticos – isso ficou claro com a energia intensa nas ruas da Escócia. Dezenas de milhares se reuniram para a manifestação da greves estudantis do Fridays for Future, uma continuação do movimento de 2019. Ainda mais se mobilizaram novamente no sábado em uma marcha maciça com uma ampla gama de blocos e faixas de vários movimentos sociais e ambientais, incluindo muitos sindicatos. Mesmo a chuva forte não conseguiu impedir que os trabalhadores e a juventude levantassem exigências por medidas climáticas.

A Alternativa Socialista Internacional identificou a COP26 como um momento chave para o movimento climático global. É por isso que reunimos nossos militantes de todos os cantos do mundo na Escócia para deixar explícito quem é o responsável por esta crise: os executivos e bilionários do mundo. Pedimos um investimento público maciço em um plano socialista verde para criar dezenas de milhões de empregos de qualidade em todo o mundo, tomando a riqueza dos bilionários para financiar políticas em prol do clima e a expropriação das multinacionais poluidoras a transformação delas em  propriedade pública democrática para implementar um plano econômico socialista sustentável que reorganize a economia para servir primeiro as pessoas e ao planeta – estas são apenas algumas das exigências que o movimento deve assumir com entusiasmo!

O internacionalismo é totalmente fundamental para enfrentar os inimigos interligados da mudança climática e o capitalismo, e é por isso que tivemos membros da ASI de Glasgow ao Brasil reunidos para formar o maior contingente possível de trabalhadores e jovens de todo o mundo nas manifestações. Os 300 de nossos membros que compareceram foram acompanhados nas marchas por outras centenas que se inspiraram em nossa energia e na mensagem que estávamos apresentando. Vendemos mais de mil exemplares de nosso jornal e estamos rapidamente cadastrando novos membros entusiasmados e apoiadores em Glasgow, Edimburgo e em outros lugares.

A ASI teve uma palestrante no palco principal do comício que se seguiu à marcha da Fridays for Future. Amy Ferguson, militante do sindicato Unite e do Partido Socialista (ASI na Irlanda), falou pouco antes de Greta Thunberg. Ela enfatizou o poder da classe trabalhadora e o papel necessário que teremos na construção de um mundo melhor. Amy concluiu seu discurso com uma citação do socialista irlandês nascido na Escócia, James Connolly, que disse:

“Pois nossas exigências mais moderadas são, nós só queremos a Terra.”

Não apenas aproveitamos o momento para nos juntarmos entusiasticamente às manifestações em Glasgow durante o fim de semana, mas até montamos nossa própria marcha através de Edimburgo na sexta-feira para estudantes em greve que não puderam fazer a viagem a Glasgow, com a presença de mais de 100 pessoas.  A marcha foi concluída com um microfone aberto onde ouvimos uma mistura de militantes da ASI, estudantes e trabalhadores de Edimburgo.

O entusiasmo que recebemos se refletiu na participação de nosso comício público após a marcha de sábado com o título “Capitalismo está matando o planeta: lute pelo socialismo internacional”, que contou com a presença de mais de 350 pessoas. Entre os palestrantes estavam a sindicalista escocesa Caitlin Lee, o deputado socialista no parlamento irlandês Mick Barry, membro da campanha Solidariedade contra a Repressão na China e Hong Kong, e ativistas do clima do Brasil e da África do Sul. Este comício energizante apontou o poder que os trabalhadores têm na luta pela justiça climática e a necessidade de um programa socialista para unir as lutas contra os problemas mais urgentes do mundo.

Os próximos passos para o movimento climático

O poder da classe trabalhadora cresce a partir de seu papel na sociedade. Se o anseio pelo lucro desempenha um papel tão fundamental na mudança climática, então aqueles trabalhadores que criam todo esse lucro e têm o poder a qualquer momento de detê-lo, representam a força chave para vencer a mudança real. Greta Thunberg indicou exatamente que direção o movimento climático precisa tomar quando convocou os grevistas de transporte e os trabalhadores do lixo na Escócia para se juntarem às manifestações da COP26. O movimento de greve estudantil deve ser recebido com solidariedade ativa pelos sindicatos e expandido para greves econômicas em nossos locais de trabalho, coordenadas nacional e internacionalmente. Podemos forçar concessões substanciais, atingindo os patrões onde dói – seus lucros – e ao mesmo tempo mostrar que a classe trabalhadora pode mudar a sociedade fundamentalmente se estiver organizada e consciente de seu poder.

Os sindicalistas devem desempenhar um papel importante na construção para isso através da formação de comitês climáticos nos locais de trabalho e sindicatos. Esses comitês seriam usados para organizar esforços que ligassem a luta por um futuro mais seguro e limpo aos interesses das pessoas trabalhadoras. Isto deveria incluir o aumento do financiamento para empregos sindicalizados voltados para a transição ambiental através da tributação dos ricos e da requalificação dos trabalhadores do setor de combustíveis fósseis para a indústria de energias renováveis, sem perda de salarial.

O capitalismo está matando o planeta: lute pelo socialismo internacional!

A crise climática é a maior ameaça que a humanidade já enfrentou e que, para responder à altura, exigirá uma reestruturação completa de nossa sociedade segundo as linhas socialistas. As emissões de carbono, o desmatamento e o esgotamento dos recursos naturais são fundamentais para a continuidade da produção capitalista. Os trabalhadores precisam se organizar e construir partidos políticos independentes a fim de tomar as medidas necessárias para pôr fim a este sistema poluente e levar adiante as batalhas através de estruturas democráticas de massas.

Para alcançar a mudança revolucionária que nosso planeta precisa, precisamos construir uma organização revolucionária de massas de trabalhadores e jovens dedicados à luta pelo socialismo internacional. Estamos orgulhosos de estar construindo uma organização internacional enérgica e dinâmica comprometida com esta luta, ativa em mais de 30 países em todos os continentes e em crescimento. Enquanto cantamos desde Kelvingrove Park até Glasgow Green em todos os cantos do mundo – “Nosso movimento é irresistível – um mundo socialista é possível”!

Faça parte da luta contra a mudança climática, a opressão e o capitalismo – junte-se à ASI hoje mesmo!

Shane, um novo membro comenta:

“A COP26 foi uma ocasião como nenhuma outra que eu já vivenciei. Já que entrei na ASI durante a Covid, foi a minha primeira oportunidade de experimentar uma mobilização internacional. Nos dias e semanas que antecederam, fiquei um pouco nervoso e às vezes eu até me perguntava se deveria ir, preocupado se minha presença teria algum impacto real.

Mas ao final do fim de semana, minha voz tinha me abandonado após horas gritando palavras de ordem e conversas interessantes com outros membros. Uma coisa é fazer o que fazemos, teorizar e discutir em detalhes situações de unidade de classe e luta de classe. É outra coisa estar no meio da luta, sentir-se tão unido com as pessoas que estão ao seu redor e fazer parte de algo que parece muito maior do que você. No cotidiano, ver o que parece tão pouco progresso às vezes pode ser desanimador, mas estar lá me ajudou a entender que estas são as situações de onde vem a verdadeira mudança, ao perceber o poder que todos nós temos juntos em permanecer unidos por um objetivo comum.

Para mim, participar da COP foi um antídoto para o desespero, algo tão revigorante que acho difícil de descrever. Saindo dela, sinto-me mais focado, otimista para o futuro e compreendo melhor a mudança que é possível e de onde virá essa mudança.

Você pode gostar...