Oito anos desde os ataques do 11/09 e a invasão do Afeganistão

Há oito anos, em 11 de setembro de 2001, aviões foram sequestrados e lançados contra o World Trade Center, em Nova Iorque e contra o Pentágono e ainda outro avião não chegou ao seu alvo, caindo na Pensilvânia. Milhares de inocentes perderam suas vidas nesses horrendos e indiscriminados ataques. A enorme repulsa pública resultante foi explorada pela administração Bush para lançar uma invasão e ocupação do Afeganistão três meses depois, sobretudo para remover o Talibã do poder e destruir a Al Qaeda, mas também para suprir os interesses do imperialismo americano e das grandes corporações na Ásia Central e mais tarde no Oriente Médio.

De fato, a chamada “guerra ao terror” foi o pretexto para a sangrenta invasão do Iraque em 2003, resultando em mais milhares de mortes e ampla destruição. Ao invés de trazer paz, estabilidade e o fim do terrorismo, como prometido há oito anos atrás,  EUA, Grã-Bretanha e outras potências imperialistas e nações da OTAN estão atolados numa infindável e cada vez mais impopular guerra no Afeganistão, enquanto ainda vigiam os sangrentos destroços do Iraque.

Vidas de muitos civis afegãos e iraquianos são perdidas diariamente, assim como aquelas das tropas ocidentais. Estas brutais ocupações e os vários ataques aos direitos humanos e democráticos pelos EUA e outras nações, assim como a pobreza e opressão encaradas pelos povos do Oriente Médio e Ásia Central, estão apenas preparando o terreno para futuros ataques terroristas.

Oito anos após a invasão americana do Afeganistão e a ocupação continua a se arrastar sem fim à vista. Crescem as baixas americanas com julho e agosto tendo sido os meses mais letais desde o início da guerra.

As recentes eleições afegãs, que deveriam legitimar o governo apoiado pelos EUA e suas instituições “democráticas”, expuseram pelo contrário ampla corrupção. Acusações de fraudes maciças nas votações, ameaças de violência e baixa participação minaram o que restava da pouca credibilidade do governo Karzai. Uma renovada ofensiva no Sul do Afeganistão levou ao aumento da violência, à medida que as tropas dos EUA e OTAN tentam forçar o Talibã a sair de sua fortaleza na província de Helmand.

Esta nova ofensiva é parte de uma nova ênfase no uso de tropas terrestres, após ultraje massivo pelas mortes de milhares de civis em bombardeios aéreos indiscriminados. Esta nova estratégia vai requerer substancialmente mais soldados, além dos 21.000 já aprovados na gestão Obama. Há no momento 63.000 soldados americanos no Afeganistão, quase o dobro que no começo do ano (reforçados por mais de 40.000 soldados estrangeiros e 74.000 mercenários dos EUA).

Anthony Cordesman, conselheiro do General McChrystal, comandante das forças no Afeganistão, recomenda que um acréscimo de até 45.000 soldados americanos sejam enviados, o que levaria o total para mais de 100.000 soldados (Times (GB), 10/08/09).

Vale o sacrifício?

Estes acontecimentos levaram a um dramático declínio no apoio à guerra no Afeganistão. 54% dos americanos agora se opõem à guerra (CNN, 06/08/09). Apenas 25% acham que mais tropas deveriam ser enviadas.

Ainda assim, o vice presidente Joe Biden diz que a guerra “vale o esforço e o sacrifício que estamos fazendo” (BBC Notícias, 23/07/09). Isso foge totalmente à realidade. Após oito anos, bilhões de dólares foram desperdiçados no Afeganistão, milhares de soldados americanos morreram ou ficaram incapacitados, e a troco de quê?

Malalai Joya, uma defensora dos direitos das mulheres de 30 anos – retirada de sua posição no parlamento afegão por fundamentalistas religiosos de ultra-direita e senhores da guerra – descreve o Afeganistão após os oito anos de ocupação: “O governo americano substituiu o regime fundamentalista do Talibã por outro regime fundamentalista de senhores da guerra… Enquanto um parlamento fantoche dos EUA foi criado em Cabul, o poder real está com estes fundamentalistas que controlam tudo fora da capital”. Para mulheres, “a situação agora é tão catastrófica quanto era sob o Talibã.” (Independent (GB), 28/07/09)

A guerra tem sido um pesadelo sem fim para as pessoas comuns do Afeganistão. A pobreza continua endêmica, com 53% da população vivendo com menos de $1 por dia e 77% sem acesso à água limpa. A alfabetização feminina, de 13%, quase não aumentou sobre o que era sob o regime reacionário do Talibã. Afegãs também encaram terror diário das tropas terrestres da OTAN e VANTs (veículos aéreos não tripulados), além de terem suas vidas controladas por corruptos senhores da guerra e o Talibã.

Apesar disso, de acordo com Biden, a guerra deve continuar porque o Afeganistão é “um lugar, que se não for corrigido, vai continuar a causar destruição nos EUA e Europa.” Mas a brutal ocupação americana, aliada à massacrante pobreza e opressão dos povos da Ásia Central e Oriente Médio vão apenas semear futuros ataques terroristas.

“Corrigir” o Afeganistão vai ser uma campanha longa, custosa e fútil. O general Sir David Richards, chefe das tropas britânicas no Afeganistão acredita que levarão outros 40 anos de ocupação antes que haja estabilidade (Telegraph (GB), 8/8/09).

Como o colunista do NY Times Thomas Friedman colocou, “A América acabou de adotar o Afeganistão como nosso novo bebê”.

Com um governo fantoche dos americanos desacreditado, governando através de senhores da guerra e traficantes de drogas culpados de todos os tipos de crimes de guerra, “estabilidade” não significa mais que um governo forte o suficiente para reprimir a insatisfação e defender os interesses do imperialismo americano na região. Isso vale mesmo o sacrifício?

Reconstruir o movimento anti-guerra

Tudo isso claramente mostra a necessidade de reconstruir um movimento anti-guerra forte nos EUA e globalmente. Isso é de uma importância decisiva em parar a carnificina no Afeganistão e evitando que milhares e milhares de tropas sejam enviadas para matar e morrer numa guerra injusta.

O terreno está dado para o movimento. Milhões votaram em Obama e nos parlamentares democratas esperando que eles iriam acabar com os desastres no Iraque e Afeganistão. Mas agora que estão no poder, os democratas frustraram essas esperanças ao perseguir uma agenda imperialista na política externa que é fundamentalmente a mesma de Bush, apesar de algumas diferenças táticas.

A “mãe da paz” Cindy Sheehan, cujo filho Casey foi morto no Iraque, montou vigília em frente à casa de férias de Obama em Martha’s Vineyard, assim como ela fez no rancho de Bush no Texas. Há protestos sendo organizados país afora para os dias 7 e 17 de outubro.

Ao passo que a administração Obama se prepara para pedir ainda mais tropas para o Afeganistão, a maioria que se opõem à guerra deve ser mobilizada contra um aumento das tropas e a retirada imediata de todas as tropas estrangeiras.

“Democracia e liberação”

Políticos americanos nunca se cansam de dizer em levar democracia e liberação aos povos do Oriente Médio e Ásia Central. Mesmo assim, no vizinho Quirguistão, sede de uma base aérea crítica para os EUA na guerra contra o Afeganistão, o NY Times denuncia: “Muitos políticos da oposição e jornalistas independentes têm sido presos, processados, atacados e até mesmo mortos durante o último ano, enquanto o presidente Kurmanbek Bakiyev, consolidava seu poder antes das eleições. Os EUA se mantiveram silenciosos frente a essa onda de violência, aparentemente receoso de prejudicar os planos de expansão de sua base aérea. De fato, a administração Obama tem tentado acalmar o presidente de Quirguistão após ele ter dito que fecharia a base Manas” (23/07/09).

Isso é o que valia as esperanças de que a administração Obama significaria uma política externa americana mais amena.

Tradução: Eduardo ‘Jesus’ 

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