Vereadora socialista em Seattle na luta por salários dignos
Kshama Sawant, recém-empossada vereadora na cidade de Seattle, nos EUA, mostra como uma socialista pode usar um cargo na câmara para defender direitos e conquistas dos trabalhadores e tem repercussão em todo o país.
A posse de Sawant foi acompanhada com muita euforia pelos militantes do movimento “15 now” que assistiam à cerimônia. Por toda a sala podiam ser vistos cartazes do movimento que luta pelo aumento do salário mínimo para 15 dólares por hora. Isso reflete o fato de que muitas pessoas, além de apenas dar um voto à candidata socialista, passaram a participar ativamente da campanha e se identificaram com as bandeiras e lutas propostas. A posse de Kshama não foi apenas a posse de uma parlamentar, mas o resultado de um esforço coletivo e de uma grande luta por direitos, que ainda não terminou.
No discurso de posse, ela criticou o sistema político norte-americano e colocou que tanto o Partido Republicano quanto o Partido Democrata estavam a serviço dos interesses dos grandes capitalistas de Wall Street. Além disso, denunciou que os parlamentares desses dois partidos, apesar de receberem salários exorbitantes, criticam os trabalhadores que reivindicam um salário de apenas 15 dólares por hora.
Sawant colocou claramente que suas opiniões dentro do parlamento seriam as mesmas que expressava nas lutas coletivas até então: “em qualquer debate em que participar, irei levantar as necessidades e aspirações da classe trabalhadora”.
“Se vocês não agirem, nós vamos agir”
O discurso que Sawant fez aos trabalhadores da Boeing antes de ser eleita foi uma primeira mostra de quais prioridades teria seu mandato como vereadora: organizar os trabalhadores para lutar por seus direitos, ainda que fosse preciso enfrentar empresas com grande poder econômico.
Depois de eleita, ela continuou com essa convicção. Em diversos de seus discursos chamou os trabalhadores para se organizar e lutar e mostrou aos demais vereadores que devem escutar e colocar em prática as reivindicações desses. Após propor para a câmara a aprovação do salário mínimo de 15 dólares por hora, terminou sua fala dizendo “Se vocês não agirem, nós vamos agir!”.
O movimento “15 now”
O movimento “15 now” tem ganhado muito apoio e uma pesquisa recente mostrou que 68% da população da cidade apoia o salário mínimo de 15 dólares. A repercussão e aceitação são tantas que muitas pessoas de outras cidades do estado de Washington e ainda de outros estados dos EUA querem se envolver e lutar por essa bandeira estadualmente e nacionalmente.
Michael Moore, cineasta famoso por fazer duras críticas ao poder econômico e aos serviços públicos dos EUA, apoiou o movimento declarando “se Henry Ford podia pagar um salário mínimo de 15 dólares por hora há cem anos, então nós também podemos”.
Sawant é hoje conhecida por grande parte da população estadunidense. Através do enraizamento do movimento “15 now”, mas também de suas declarações contundentes e coerentes contra o sistema político dos EUA, ela tem ganho repercussão nacional e até internacional, conseguindo dar um novo impulso às ideias socialistas e à luta dos trabalhadores.
Obama não representa uma alternativa
Obama fez recentemente o tradicional discurso anual em qual o presidente trata sobre vários assuntos e propõe novas medidas. Sawant, com a projeção nacional que suas ideias têm recebido, respondeu ao discurso do presidente, mostrando como as políticas propostas pelo Partido Democrata não são suficientes para os trabalhadores e denunciando a ligação desse Partido com os interesses dos grandes capitalistas.
Ela colocou como a crescente desigualdade nos EUA não é apenas acaso, mas sim resultado das políticas econômicas do próprio governo de Obama. Denunciou a espionagem virtual que o presidente tem promovido e defendeu a liberdade de ativistas que denunciam o sistema, como Snowden (que hoje é perseguido por trazer a público informações sobre espionagens ilegais feitas pelo governo dos EUA). Sawant também criticou a política de imigração xenofóbica que o presidente vem implantando, assim como a falta de compromisso com as questões ambientais.
Por fim, mostrou que, apesar de Obama dizer que nenhum trabalhador deveria sustentar sua família em situação de pobreza, a política do governo é de estabelecer um salário mínimo de 10,10 dólares por hora daqui a três anos. Isso está muito longe do mínimo que os trabalhadores reivindicam, de 15 dólares já.
Ao final, Sawant, concluindo que a classe trabalhadora não pode confiar suas reivindicações nem aos Democratas e nem aos Republicanos, chamou todos os trabalhadores a se organizar para as lutas por seus direitos.