A Suécia é um modelo a ser seguido?

Muitos “socialistas” seguem defendendo o “modelo nórdico” ou o “modelo escandinavo” para o desenvolvimento da sociedade e da economia. Mas a Suécia hoje não é um modelo a ser seguido pelos trabalhadores que procuram justiça e melhores condições.

“Nunca antes as diferenças de classe na Suécia foram tão grandes”, segundo o maior jornal diário Aftonbladet, em sua edição de 9 de março deste ano. Um décimo da população “possui metade de todo o dinheiro” em uma população de nove milhões. Ao longo da última década, 100 mil empregos foram perdidos na área de saúde, enquanto que 500 mil indivíduos tornaram-se milionários. É verdade, houve uma vez um “modelo sueco”, mas isso foi nos anos 1950/60.

A indústria sueca – siderurgia, mineração, madeireira e estaleiros – saiu ilesa da Segunda Guerra Mundial e fez grandes lucros com a reconstrução da Europa. O Estado cooperou com e apoiou grandes empresas, como Ericsson, Volvo, Saab, etc. Em troca de não haver greves, os trabalhadores ganharam melhores condições de vida, melhoria nos serviço público e, provavelmente, as melhores aposentadorias dos trabalhadores do mundo. Na base de greves e lutas operárias no início de 1970, as condições de segurança e de direitos trabalhistas foram melhoradas. A escassez de mão de obra e a luta das mulheres também levou a um enorme influxo das trabalhadoras do sexo feminino ao mercado de trabalho e a criação de estruturas para o cuidado de crianças.

Essas políticas sociais democráticas deram um pequeno “vislumbre do socialismo”, mas nunca desafiaram o poder dos capitalistas ou mudaram fundamentalmente o aparelho do Estado. Eventualmente, a pressão dos capitalistas globais e suecos forçaram a social democracia, apoiada pelos líderes sindicais, a desmantelar suas próprias reformas. No início de 1990, três anos de profunda recessão evidenciaram que o “modelo” era como um guarda-chuva furado, que só funcionava quando o sol brilhava . Pequenos cortes no setor público tornaram-se gigantescos.

Na década de 1990, o primeiro-ministro social-democrata Göran Persson ostentava um “recorde mundial em cortes”, 130 bilhões de coroas suecas (R$44 bilhões de reais) em cortes em poucos anos. Saúde e todos os serviços públicos estavam sob ataque, ao mesmo tempo em que eram implementadas novas regras que pioraram a vida dos desempregados, dos doentes e aposentados. Uma “reforma da previdência”, que nem governos italianos ou franceses ousaram fazer, foi implementada.

Mesmo quando não havia mais o argumento da crise , as políticas neoliberais, inspiradas na União Europeia, continuaram. O transporte público, o setor de energia, serviço de correios e de telecomunicações foram abertos para as empresas privadas. O resultado foi demissões massivas e taxas mais caras para o consumidor. Federações patronais elogiaram o governo “corajoso” e Göran Persson foi, durante muito tempo, o primeiro-ministro favorito deles. Em uma comparação mundial de “liberdade econômica ” (leia-se: “liberdade capitalista”), a Suécia passou de 40° lugar em 1970 para 22° hoje. A participação do setor público no PIB caiu de 70% para 50%.

Em 2006, um novo governo de direita foi eleito e, imediatamente, aumentaram os ataques aos trabalhadores e conduziram mais privatizações. As taxas para o seguro-desemprego aumentaram em 20-40 euros por mês, ao mesmo tempo em que o subsídio de desemprego foi reduzido. Um dos resultados foi que muitos trabalhadores deixaram os sindicatos, a fim de economizar dinheiro – os sindicatos são os responsáveis pela cobrança das contribuições para o seguro desemprego). Até 140 mil membros deixaram os sindicatos de setembro a janeiro desse ano. O governo pretende criar um mercado de salários baixos, forçando os jovens desempregados a aceitar empregos por 800 euros por mês e isso em uma situação em que os lucros das empresas são maiores do que nunca.

O novo governo também quer privatizar o máximo possível. Já antes das últimas eleições, muitas escolas e hospitais de pequeno porte foram privatizados – financiados pelo setor público, mas geridos por empresas privadas com fins lucrativos. Agora, o ritmo das privatizações está sendo intensificado. No próximo ano, um terço de todos os alunos em Estocolmo, de 7 a 16 anos, pode acabar indo para escolas privadas.

Esta contrarrevolução contra o “modelo” de reforma não foi sem oposição. Trabalhadores, estudantes e mulheres têm lutado para defender as reformas progressivas. O principal obstáculo para a organização de luta, no entanto, é a liderança sindical. Eles têm fortes ligações com o partido social-democrata e não acreditam na luta dos trabalhadores, mas têm esperança em novas negociações com os empregadores – mesmo sobre a limitação do direito de greve – a fim de retornar à “normalidade”.

Mas o tempo do “modelo sueco” se foi e sua fraqueza é exposta. O que é necessário agora é a construção da luta, sindicatos democráticos e um novo partido de trabalhadores de massas decididamente do lado das famílias da classe trabalhadora.

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