Poder ao povo negro – a juventude e trabalhadores(as). Racistas não passarão!
No dia 16 de março, perdemos Claudia. Mulher negra, trabalhadora, pobre, assassinada brutalmente pela policia e arrastada como um pedaço de carne por mais de 200 metros. O Amarildo foi um dos casos de maior destaque, mais um trabalhador negro, morto pela policia e descartado como entulho pelos mesmos algozes. Douglas, jovem negro da periferia de São Paulo, morto por policiais, que não foram capazes de responder a pergunta: “porque o senhor atirou em mim?”
Infelizmente, não são casos isolados. Trata-se de uma politica de Estado de extermínio da população negra, que criminaliza a pobreza e de modo racista aponta os que devem ser exterminados (as). Importante alguns dados, ainda de 2011, mas que mostram a gravidade da nossa situação, que mesmo 126 anos depois da abolição, ainda não foi capaz de garantir a emancipação real destes sujeitos.
Segundo o IBGE, dos 14 milhões de analfabetos no Brasil, 70% são negros. As mulheres negras chegam a ganhar 70 % a menos que o homem branco. Entre os anos de 2001 a 2011, ocorreram 522 mil homicídios, algo como cinco guerras do Iraque, segundo a UNESCO. As vitimas são jovens moradores de áreas urbanas, e na ampla maioria negros. Em 2011, segundo dados do ministério da justiça, a probabilidade de morrer um jovem negro chegava a ser 127% maior do que um jovem branco entre 15 e 25 anos de idade.
Em todo o Brasil a nossa população carcerária passa dos 500 mil detentos. Vivenciamos o encarceramento em massa, principalmente de mulheres que cresceu mais de 60% nos últimos anos. Por isso que os ladrões de 6 galinhas estão no presidio, enquanto os verdadeiros criminosos de colarinho branco riem a custas da guerra entre os próprios trabalhadores.
O Estado racista e os limites do Lulismo
Essa realidade só explicita a necessidade de discutir a questão racial como um tema estruturalmente de classe. A luta antirracista é a luta contra o capitalismo brasileiro e mundial que foi fundado sobre o regime escravista e racista, assim também a classe trabalhadora brasileira. A luta antirracista é chave na luta de classes brasileira.
Estes dados são reflexos do Estado racista, que mesmo quando forja espaços para garantir avanços, nos direitos sociais do povo negro, capitula a politica escravocrata das elites nacionais. É só olhar o Estatuto da Igualdade Racial, aprovado em 2010 no governo Lula, que apenas reforça o velho mito da democracia racial. Por conta dos acordos e negociações no parlamento burguês o texto do estatuto exclui: a politica de cotas, o direito a titulação das terras quilombolas, o direito a prática e a liberdade religiosa de matriz africana, e não faz menção a politica publica de segurança nacional que genocida o povo negro.
O lulismo em 8 anos não foi capaz de avançar nestas bandeiras de modo significativo, ao ponto de garantir melhores condições de vida para esta parcela da população. Mesmo a politica de cotas casadas, raciais e sociais, ainda se mostram aquém da demanda. Esta politica, sobretudo nas universidades deve ser acompanhada de bolsas assistenciais, de pesquisa e de permanência, dos cotistas . Isso sem falar que a politica de cotas é um meio, e não o fim. A luta pelo fim do vestibular, apartheid social e racial, e por uma educação universal, pública, gratuita e de qualidade, é a única solução possível para este problema.
A esquerda brasileira necessita travar uma luta pelo fim do genocídio da população negra, como eixo central, a capaz de unificar todos os setores, para além das diferenças, e fortalecer a luta coletiva contra o estado racista. É necessário resgatar a identidade negra, como elemento revolucionário!
Guerra ao tráfico e ao crime
Para não resolver a desigualdade social fruto do próprio capitalismo, a burguesia emprega então essa guerra as drogas, inclusive aplicando à essa guerra o combate ao tráfico de “drogas”. Mas porque determinadas drogas são ilícitas e outras lícitas? Porque será que apenas nas periferias os jovens que consomem drogas são perseguidos e assassinados pela PM?
Se estivessem interessados mesmo em discutir e resolver a questão das drogas – enquanto um problema de saúde, e não de segurança pública – a descriminalização e legalização das drogas com controle do Estado seriam o caminho para o debate menos moral e perversamente racista.
E somos nós militantes do movimento negro quem devemos empunhar essa bandeira ao lado de nossos irmãos, irmãs e jovens da periferia que são assassinados e encarcerados diariamente.
E a violência: O debate sobre a desmilitarização… 50 anos da ditadura, nunca mais!
A luta pela desmilitarização deve ser empunhada fortemente pelos movimentos sociais, e hoje o movimento negro tem uma tarefa central ao pautar por ser auto-organização daqueles que mais brutalmente sofrem o peso da repressão policial. Essa bandeira como uma luta transitória para a construção de um controle operário sobre a violência do Estado, construindo uma estrutura de defesa de classe, e no nosso caso, controlada democraticamente na defesa da classe trabalhadora. Sabemos o papel da polícia militar, herdeira do legado da ditadura militar, e estruturalmente ligada à manutenção da burguesia no controle do Estado Burguês.
E a Copa?
Em ano de Copa do Mundo, não é possível nos furtar do debate da violência e da prostituição. Ataques as mulheres, sobretudo as pobres e negras, mais vulneráveis aos aliciamentos e recrutamento para a indústria do sexo. É só olhar Berlim e África do Sul, países sede das copas anteriores, que se transformaram em prostíbulos ao seu aberto com a conivência do Estado. É necessário iniciarmos uma campanha para denunciar esta violência e impedir que nossas mulheres sejam as novas vitimas dos megaeventos.
Contudo, depois de Junho de 2013, os trabalhadores não repousam mais pacificamente em suas casas aceitando tranquilamente a exploração diária que lhes é imposta na sua rotina casa-trabalho, trabalho-casa. Tirar as lições de junho é compreender que as ruas são o nosso palco, o espaço em que deveremos colocar as nossas pautas e garantir nossa soberania. Desde 2013, revoltas contra o assassinato de jovens nas periferias, das repressões aos rolezinhos, revoltas nos metrôs e terminais de ônibus, as novas investidas para implementação de UPP nos morros do Rio de Janeiro tem sido reprimido pelo povo, povo que caracteristicamente tem a cor da pele preta, e não à toa.
Por isso, defendemos:
- Chega de genocídio e encarceramento em massa!
- Pelo fim da criminalização da pobreza!
- Pela valorização da cultura negra!
- Pelo fim da guerra às drogas!
- Pelo fim da polícia militar da ditadura! Desmilitarização já!
- Por um encontro nacional dos movimentos de Junho para armarmos a juventude e os lutadores!
- Por uma campanha do conjunto da esquerda de combate a violência contra a mulher e de denúncia da mercantilização do corpo da mesma, sobretudo a partir da prostituição e tráfico de mulheres!
- Pela política de cotas nas instituições públicas e universidades: pelo fim do vestibular e pela universalização da educação pública, gratuita e de qualidade!
- Pela regularização das terra quilimbolas!
- Pela auto-organização das negras e negros no setorial!