EUA: Revolta em Baltimore após a morte de Freddie Gray

Em 26 de abril de 2015, o primeiro presidente negro dos EUA, Barack Hussein Obama, subia ao púlpito no jantar anual da Associação dos Correspondentes da Casa Branca para se envolver em brincadeiras frívolas com colegas políticos, repórteres da mídia corporativa e comediantes. A apenas 64 quilômetros de distância da Casa Branca, a juventude de Baltimore, no estado de Maryland, explodia de raiva e em massa contra a morte de Freddie Gray por lesões sofridas enquanto sob custódia policial. Sua espinha foi 80% destruída e suas cordas vocais foram esmagadas. Ele entrou em coma e morreu uma semana depois daquelas lesões.

As palavras do falecido Dr. W.E.B. Du Bois ainda soam verdadeiras para os trabalhadores negros e jovens: “um sistema não pode falhar àqueles que nunca buscou proteger”.

A morte de Freddie Gray e os protestos de milhares de jovens de Baltimore, cheios de justa raiva nos últimos dias, mostram a manutenção da pertinência do movimento #BlackLivesMatter, que forçou que o tema dos assassinatos cometidos pela polícia passassem a ser discutidos à luz do dia. A Guarda Nacional foi colocada em estado de alerta dada a agitação que se espalha e um toque de recolher foi imposto.

Mais protestos foram chamados em Nova York e em todo o país para o 29 de abril e também para diversas datas em maio. Este pode ser o início do ressurgimento do movimento em escala nacional. Os atos do 1o. de maio em todo o país se tornaram demandas por justiça para as vítimas de violência policial.


Depois de meses de enrolação nos principais meios de comunicação e dos principais políticos democratas, não há ainda nenhum plano sério para resolver o policiamento brutal das comunidades negras e pobres e da falta de um futuro digno para os jovens negros em todos os EUA. A morte de Freddie Gray, junto com tantas outras mulheres e outros homens em Baltimore, mostra a verdadeira face da pobreza, drogas, negligência oficial, a vigilância da aplicação da lei, a desindustrialização e do racismo endêmico.

Apesar de ter um prefeito negro, os moradores desta cidade em sua grande maioria são pretos e são as vítimas de uma agenda corporativa que coloca os interesses dos bairros ricos de Baltimore acima das necessidades de comunidades como Gilmor, onde Freddie Gray viveu e morreu. O exemplo é uma quadra de basquete em ruínas em meio às casas de Gilmor, que a prefeitura se recusou a reformar por quinze anos, apesar da comunidade ter conseguido levantar o dinheiro.

Os policiais são vistos como uma força de ocupação que está lá para supervisionar, conter e controlar a classe trabalhadora e a juventude negra. Essas discriminações na aplicação da lei em Baltimore têm um histórico longo e notório. Houveram apelos para a supervisão federal na polícia local que remontam à década de 1980. Um recente artigo do New York Times explica que mais pessoas foram mortas em Baltimore pela polícia do que na maioria das outras cidades semelhantes em tamanho.

“Agentes da polícia de Baltimore mataram 127 pessoas entre 1992 e 2012, com um pequeno aumento acentuado em 2007 e 2008 de homicídios justificáveis ​​pela polícia de acordo com pesquisa voluntária do FBI. A polícia de Las Vegas, que cobre a área metropolitana com uma força de tamanho semelhante, matou 100 pessoas durante o mesmo período.”

“No ano passado, o jornal The Baltimore Sun relatou que os contribuintes tinham pago 5,7 milhões dólares desde 2011 em julgamentos ou acordos em 102 processos judiciais alegando má conduta policial. Dwight Pettit, um advogado especializado em má conduta policial e representa a família de Tyrone West em um caso de homicídio culposo contra a cidade, disse que tinha ’20 processos abertos agora” e foi inundado com pedidos de representação.” (Reportagem do NY Times)

“O Policiamento Tolerância Zero foi introduzido e promovido por Martin O’Malley, Prefeito de Baltimore de 1999 a 2007. O’Malley, um democrata, posteriormente, tornou-se governador de Maryland e agora está na corrida para presidência. O Policiamento Tolerância Zero é uma doutrina que acaba levando a prisões em massa de pessoas por pequenas infrações para “dissuadí-los” de cometer mais crimes. Isso levou a uma geração inteira sendo arrastada para o sistema de injustiça criminal, destruindo famílias e arrastando um grande número de pessoas inocentes para o “crime” de ser pobre.”



Baltimore é Ferguson em maior escala

Os detalhes de ferimentos de Freddie Gray e sua posterior morte não são tragicamente inéditos em Baltimore, enquanto a polícia continuar a levar os suspeitos em “nickel rides” – sequestros para interrogatórios extraoficiais e torturas em vans da polícia antes de trazê-los para a delegacia. A morte de Gray vem junto com o assassinato de Walter Scott na Carolina do Sul e do fracasso para condenar o policial que o matou, Rekia Boyd, em Chicago.

A elite dominante dos EUA está em um dilema sobre o que fazer sobre a constante atenção que está sendo atraída para casos de casos de violência policial. Alguns na elite dos EUA querem trazer reformas, mas dentro de margens muito estreitas. O relatório Ferguson do ex-procurador-geral Eric Holder, da Divisão de Direitos Civis do departamento de Justiça, após a morte de Michael Brown, descreveu os níveis de racismo, jogando a culpa nas costas de autoridades municipais contra os pobres e na corrupção desenfreada. Por outro lado, a nova e primeira mulher negra procuradora-geral, Loretta Lynch, tem sido descrita pelo grupo Black Agenda Report como a “Condoleezza Rice, com uma licenciatura em Direito”. Ela vai continuar o relacionamento historicamente aconchegante entre as autoridades policiais, promotores e o Departamento de Justiça. As possíveis reformas previstas no relatório Ferguson poderiam ser um ponto de partida para organizar reformas mais sérias para resolver a crise de violência policial e terror patrocinado pelo Estado. Mas atingir até mesmo reformas de base vai exigir um movimento social coordenado, militante, intransigente, consistente e nacional pela classe trabalhadora e dos pobres sob a bandeira do #BlackLivesMatter.

“Go to give us what we want
Gotta give us what we need
Our freedom of speech is freedom or death
We got to figth the powers that be”

“Tem que dar o que nós queremos
Tenho que dar o que nós precisamos
A nossa liberdade de expressão é a liberdade ou morte
Temos de lutar contra os poderes”
– Public Enemy

A indignação em Baltimore fala da necessidade urgente de construir um movimento nacional coeso. O #BlackLivesMatter está em uma encruzilhada. Após a onda de protestos no final do ano passado, não há uma direção clara ou liderança, apesar de ligações locais importantes em algumas áreas entre o #BlackLivesMatter, a luta pelo salário mínimo de 15 dólares/hora e ativistas sindicais que refletiram no dia nacional de greves no 15 de Abril e nos protestos contra o assassinato de Tony Robinson, em Madison, Wisconsin. Os desenvolvimentos em Baltimore são uma nova oportunidade de dar sentido à luta a nível nacional.



No sentido mais amplo, o que é necessário para forjar a unidade em torno de um programa para acabar com a violência policial e a pobreza? Isto significa desafiar o status quo político corporativo, que tem conspirado para manter o racismo institucional intacto através da guerra contra as drogas e encarceramento em massa. Mas por trás dos políticos há o próprio sistema capitalista, que nos EUA sempre usou o racismo para manter as pessoas divididas, e que nunca vai concordar com os passos decisivos necessários para quebrar a discriminação racial. Isso só pode ser conseguido através da luta da classe trabalhadora multirracial para um futuro socialista igualitário.

O movimento de massas deve ser enraizado no que precisamos e o que queremos, para sermos plenamente respeitados como seres humanos. Devemos aproveitar o tempo agora! Temos um mundo a ganhar – um mundo socialista!

O CIT e a Socialist Alternative querem:

  • Indiciar os policiais cujas ações levaram à morte de Freddie Gray. O comissário de polícia Batts deve renunciar agora! Retirar as acusações contra manifestantes detidos!
  • Fim das políticas do tal “Policiamento Tolerância Zero”.
  • Criar conselho de civis eleitos com plenos poderes da polícia. Candidatos anti-racistas independentes e integrantes de organizações comunitárias e dos sindicatos para esse conselhos.
  • Acabar com as políticas que levaram ao encarceramento em massa da juventude negra.
  • Fim da militarização da polícia! Que parem os bilhões sendo gastos em armas para a polícia. Por investimentos em escolas, creches, saúde e outros serviços comunitários!
  • Pela justiça econômica! Por um salário mínimo de US$15 por hora, pleno emprego e um investimento maciço em educação pública e transporte, financiado por impostos sobre os super-ricos e sobre as corporações.

Vamos à luta!

  • Construir protestos em massa contra o racismo e a pobreza! Organizações comunitárias, sindicatos e os socialistas unidos para construir dias de ação coordenados ao lado do #BlackLivesMatter em defesa da justiça racial e econômica.
  • Todos aos atos em apoio aos manifestantes e moradores de Baltimore para intensificar a pressão! O sistema inteiro é culpado!

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