Segunda edição da Universidade Marxista Virtual mostra o avanço da ASI

1,5 mil participantes de 39 países em um fim de semana repleto de discussões políticas

Entre os dias 28 a 30 de janeiro reunimos mais de 1,5 mil membros e simpatizantes da Alternativa Socialista Internacional (ASI) para a realização da 2ª edição da Universidade Marxista Virtual (UMV). Ainda que diante de uma pandemia, com situações de maior isolamento, continuamos a preparar e organizar a luta da classe trabalhadora contra o capitalismo. 

Estamos num momento em que o capitalismo escancara ainda mais a quem serve, enquanto os bilionários enriqueceram 31% durante a pandemia, a crise econômica, sanitária, de educação, meio ambiente e ainda mais as políticas de austeridade executadas pelos governos aplicam sobre a classe trabalhadora que enfrenta todas essas dificuldades. Essa contradição leva mais e mais pessoas a se colocarem em luta contra o sistema. Por isso, a oportunidade de trocarmos experiência com camaradas de 39 países, aprendendo com a história para ampliar ainda mais o nosso movimento foi extremamente potente. 

A marca da conjuntura é a instabilidade e a polarização. A pandemia e a piora da qualidade de vida podem mudar a consciência da nossa classe. Em 2020, e já no início desse ano, vimos que as lutas não pararam, marcadas por explosões na maior parte dos casos como consequência da falta de organização e de direção nos movimentos. É o caso de eventos na América Latina, Belarus e, sem dúvida, Estados Unidos, que em plena pandemia vivenciou as maiores manifestações de massa do país. Discutimos essas experiências com camaradas que interviram e formularam palavras de ordem e demandas nesses eventos. Escutamos sobre a realidade de todos os continentes, analisando as particularidades e expressões diferentes, mas, sobretudo, elementos em comuns que permitem refletir possibilidades de intervir e de construir uma alternativa socialista.  

Ao todo, foram 72 comissões diferentes. A diversidade de temas marca uma nova fase da internacional, com disposição de encarar discussões sobre economia, eventos históricos, a conjuntura em diferentes países, e temas que tem se apresentado como desafiadores para a esquerda e para a classe trabalhadora. Em “A visão marxista do Estado e o papel da polícia”, camaradas dos EUA aprofundaram a discussão sobre o “Black Lives Matter”, trazendo algumas de nossas demandas formuladas, tais como: demissão imediata de todos os policiais que cometeram ataques violentos ou racistas; fim da militarização da polícia; controle democrático da polícia por conselhos civis eleitos; corte massivo de financiamento na polícia, reorientando investimentos em escolas e moradias populares.  

As diversas intervenções nesse debate demonstraram a violência incidente na divisão social de classes e a ideologia dominante do Estado. Camaradas do Brasil interviram relatando uma fala frequente de Bolsonaro e sua base, de que “bandido bom é bandido morto” e como isso acelera e permite que esse genocídio e encarceramento em massa sejam realizados com menos estranheza ainda por parte da população. Também falaram sobre os programas de tv sensacionalistas e policiais, e como eles afetam a perspectiva social acerca de violência e da polícia no Brasil; e, sobre o genocídio do povo das favelas pela PM.  

Durante o evento, ocorreram também vários espaços reservados para discutir a questão das mulheres e de suas lutas, pautando o potencial de construção de um movimento feminista socialista, principalmente pra recrutar mulheres mais jovens e pessoas trans, e também sobre a importância de construir a perspectiva feminista e socialista dentro do nosso partido. Houve uma sessão específica para tratar da experiência de construção do ROSA como um esforço da nossa internacional. Esse debate traz mais fôlego para encarar a necessidade de atuar nessa frente de luta, quando coloca quais são os desafios que precisamos enfrentar como a questão do espontaneísmo x centralismo democrático, pois em todo o mundo existem muitos movimentos espontâneos, o que não temos é um partido que consiga organizar a classe trabalhadora.  

Houve, também, um grupo destinado especificamente para uma das tarefas mais importantes para nossa organização neste ano, a campanha de solidariedade ao mandato de Kshama Sawant, que enfrenta uma tentativa da direita de revogar seu mandato. O mandato de uma vereadora socialista na cidade de Seattle tem grande importância para ampliar nossas lutas, através desse mandato conquistamos vitórias importantes como a taxação da Amazon, apoio ao movimento Black Lives Matter, e essa ameaça da burguesia demonstra como vão tentar impedir qualquer tipo de representação política ou organização vitoriosa da classe trabalhadora, que prejudica os interesses e contestam a hegemonia dos capitalistas. Desse modo, a solidariedade internacional, não só da nossa organização, mas de toda uma rede de setores da classe é um grande exemplo do que significa ser uma internacional de verdade. 

No último dia realizou-se uma empolgante plenária de construção da ASI, que entre os debates lançou uma campanha financeira e em poucas horas arrecadou €32,000 (em torno de R$207.000). Questões simples e práticas para a compreensão e a atuação na formação política – nossa e de outros trabalhadores também foram apresentadas na plenária. Como disse uma camarada, “Não estamos procurando o novo Trotsky ou o novo Lenin – somos um partido! Uma onda grande é capaz de levantar os barcos”. E nessa onda é necessário reconhecer as individualidades, mas também estamos dispostos a seguir o mesmo caminho, nos preparar para intervir e para que qualquer um de nós possa ser um agente no momento que se fizer necessário. E esse momento não é, exclusivamente, aqueles planejados, como greves e manifestações: a vida é política e, portanto, em um momento de descontração podem surgir situações que podemos intervir; justamente por isso temos que nos preparar e antecipar, estudar e conhecer a nossa realidade. 

Em mais de uma sessão foi falado sobre a importância de nos aproximarmos da juventude e do quanto ela mantém viva a organização. Camaradas da Grécia e da Irlanda trouxeram exemplos sobre o giro para a juventude, através das bandeiras do racismo, antifascismo e meio ambiente. Também o brilhante começo de intervenção no México com orientação para a juventude. Vivenciar esses últimos anos de crises e convulsões mais acentuadas do capitalismo trouxe à juventude uma consciência mais avançada e com ações mais radicalizadas, anticapitalista e antirracista. Temos a tarefa fundamental de convencer essa camada pelo programa socialista. 

O fato de realizar um evento com tantos assuntos, tanto do ponto de vista técnico como político, exige uma internacional bastante viva e dinâmica. Foram centenas de militantes envolvidos em tarefas de mesa, abertura e fechamento, tradução. Para todos os participantes foi uma lição viva de como unir teoria e prática. Vários conceitos formulados por Marx, Lênin, Trotsky, Rosa e tantos outros foram vivamente utilizados para compreender a realidade e, mais importante, sacar conclusões de como transformá-la.  

Participar da UMV é poder sentir de perto a potência que nossa organização tem, o comprometimento dos nossos militantes, a importância de aprender com os erros e acertos da nossa história e ter certa flexibilidade para as especificidades de atuação em cada momento histórico, a necessidade de pensar e aproximar a juventude com sua potência revolucionária e, para além de respostas, trazer novas perguntas e possibilidades pro presente e pro futuro da nossa luta, tudo isso com certeza renova nossas forças e esperanças para 2021. 

Você pode gostar...