A abertura das escolas e os sacrifícios ao deus-mercado

Como que a desde sempre eugênica elite brasileira pretende praticar imolações de vidas humanas em nome do lucro

O retorno das aulas presenciais estão em debate neste inicio de ano, e as autoridades governamentais sem diálogo com o conjunto da comunidade escolar e com decisões arbitrárias, anunciaram esta retomada mesmo que isto signifique o aumento de contágios, internações e mortes. Dentro deste quadro em que vidas estão em risco, acertadamente estão sendo declaradas greves sanitárias por parte da categoria dos professores, como é o caso de São Paulo, já iniciada neste dia 08, onde 35% dos estudantes foram convocados a comparecer, e Rio de Janeiro que se antecipa de um possível retorno, já programado para fevereiro e março nas redes municipal e estadual, respectivamente. Esta luta deve se federalizar e ser assunto nacional, e por em cheque a política genocida destes governantes. E, para tanto, devemos refletir a suposta lógica por detrás desta ação que aparentemente se coloca a favor da educação e do bem estar dos estudantes, mas que em sua essência possui outras motivações.

Estamos vivendo um cenário preocupante no que se refere à pandemia, um aumento avassalador no nível da curva de contágios pela COVID-19 desde dezembro; recordes diários de mortes em alguns estados, e no país como um todo; e uma grande defasagem na testagem massiva da população, o que gera uma subnotificação gigantesca para que realmente saibamos o real número de contágios, entre outros elementos.

Apesar de tudo isto, governadores e prefeitos iniciam planos de retomada das aulas presenciais para fevereiro, sem que se garanta para isso a imunização de profissionais da educação e estudantes pela tão aguardada vacina. Porém, se existe um quadro de aumento de infecções e internações que estão beirando o colapso dos sistemas de saúde em toda parte (lembrando que o maior exemplo, Manaus, foi a primeira capital brasileira a praticar a retomada das aulas presenciais), oque não permitiria esta precipitada e criminosa abertura das escolas em parte alguma neste momento. Então qual a razão dela estar sendo levadas à cabo com tanto afinco?

As medidas na condução da crise sempre foram insuficientes por forte pressão do setor econômico

Os governos estaduais e municipais a princípio aparentavam colocarem-se como contraponto aos desmandos da postura genocida do desgoverno federal bolsonarista. Porém, mesmo com a garantia da deliberação do STF, em que estados e municípios teriam autonomia de decisões para o combate à pandemia, muito cedo passaram a ceder, frente à forte pressão exercida pelo setor econômico, sendo que parte deste setor, desde o início ter se posicionado publicamente contra o isolamento amplo e à quarentena, e não permitiram que houvesse o necessário lockdown para contê-la, a verdadeira medida de contenção a ser tomada. Nesta esteira, a Fiesp, já em 18 de abril de 2020, anunciava um plano de 70 páginas para a retomada das atividades pós-pandemia, quando fazia apenas um mês em que era noticiada a primeira morte por COVID-19 no país e o contágio estava em acelerada expansão, e mesmo que não indicasse data para a retomada, não escondeu suas intenções e ansiedades, intrometendo-se até no funcionamento de atividades públicas, como por exemplo, a educação básica, que mesmo tendo um parcela privada minoritária, em sua esmagadora maioria se constitui no setor público.

Tornou-se óbvio neste documento a motivação da Fiesp em querer abrir creches e escolas no primeiro dia de seu plano de retomada, pois se os pais das crianças voltam a trabalhar, as crianças devem ter onde ficar. Se por um lado estas intenções de aceleração do fim da quarentena por si só demonstram o desprezo dos burgueses pela vida do povo trabalhador, por outrolado, há uma lógica por detrás desta atitude, e como a elite brasileira enxerga o restante da população.

Se naquela ocasião, seja pelas eleições municipais por ou pressão dos pais que se colocavam contra, os governos não puderam pôr em prática o retorno presencial das aulas, desde o fim do ano passado vem se montando uma peça publicitária orquestrada pelos lobbystas do ensino privado, como a ONG “Todos pela educação” e um suposto movimento “escolas abertas”, composto por dondocas da “alta elite” paulistana. Estes representantes da minoria rica vêm povoando as mídias corporativas desde o ano passado, para que seus interesses privados se sobreponham ao debate público, e por isso entra em perfeita coerência do por que governadores e prefeitos, que em primeiro lugar servem aos interesses desta elite, agora cedam a esta pressão mortífera.

“O ser humano é descartável no Brasil”, assim pensam as elites econômicas

O desprezo pela vida e a banalização da morte faz parte da constituição das elites brasileiras por sua herança escravocrata. Assim se constitui o governador de São Paulo, João Doria, descendente de senhores de engenho escravagistas que remonta ao século XVI. Não à toa como prefeito e como governador tinha uma visão higienista para cidade de São Paulo, tentando resolver os problemas de moradores de rua e da cracolândia com o uso da força, retirando cobertores e jogando jatos de água fria onde achava que estes eram inconvenientes para a visão e imagem da cidade, sem, no entanto, resolver o problema, já que obviamente se estes“indesejáveis” são expulsos de um canto, logo vão para outro. Doria faz parte desta elite que possui uma visão higienista e eugênica sobre a sociedade, e em nome dos interesses da burguesia, tem em seu cálculo a possibilidade de sacrifícios, mesmo que estes sejam de vidas humanas.

Isso explica a precipitada e nefasta decisão do retorno das aulas presenciais para este fevereiro. Ao não garantir a vacinação para a comunidade escolar como pressuposto óbvio para a reabertura das escolas (mesmo porque não há previsão para tal), pressupõe-se que nos cálculos dos governantes as muito possíveis contaminações, difusão e mortes pela Covid-19, são toleráveis. Já neste ano com a recuperação presencial de janeiro e o planejamento também presencial, verificou-se dezenas de casos de contaminação.Fica evidente, portanto, que não é possível o retorno das aulas presenciais nestas condições, pelas inevitáveis tragédias que ocorrerão, como exemplos nacionais e internacionais demonstram. Querem por que querem acelerar a aparência de normalidade, para a retomada econômica a todo custo, e a abertura de escolas é imprescindível para este fim. Por isso é necessária uma greve sanitária pela vida neste momento e dialogar e conscientizar a comunidade escolar, pois se até no setor privado o empregador não pode obrigar seu empregado a um trabalho que exponha sua vida em risco, o que se pode dizer de autoridades públicas que pretendem expor a risco de vida milhões de seres humanos? Não há outra classificação de que se trata de um crime de lesa humanidade.

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