Por uma saída de esquerda para a crise

Algumas cabeças já começam a rolar. Roberto Jefferson, o ex-deputado do PTB autor das primeiras denúncias do mensalão, o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti, além do presidente do PL Valdemar Costa Neto e o tal do Bispo Rodrigues, o gangster até então abençoado pela Igreja Universal.

Pela dimensão e gravidade da crise, isso é quase nada. Os acima citados não tinham mesmo como se safar e qualquer tentativa de acordão das cúpulas necessariamente teria que passar por seu sacrifício.

Para piorar, com a exceção de Roberto Jefferson, cassado por seus pares, os demais poderão disputar novamente as eleições de 2006 já que renunciaram ao mandato para escapar da cassação.

No mesmo momento em que estas tristes figuras caíam, vários parlamentares do PT, incluindo Zé Dirceu, conseguiam na Justiça adiar o início de seu processo no Conselho de Ética da Câmara.

Isso sem falar que gente graúda como o senador Eduardo Azeredo, presidente do PSDB e receptador de recursos não contabilizados provenientes do esquema Marcos Valério para sua campanha ao governo de Minas Gerais em 2002, sequer foram indicados para processo no Conselho de Ética.

O cheiro de pizza é insuportável! A disputa entre o PT e o PSDB/PFL nas CPIs resume-se a ver quem consegue preservar seus corruptos e atacar os dos outros. É obvio que a direita acaba levando vantagem. Os esquemas do PT são mais recentes e o governo está profundamente debilitado.

Ambos os lados, porém, querem chegar a um ponto de equilíbrio. Pode ser um pouco mais pra cá ou mais pra lá, mas nenhum deles pretende questionar as instituições podres do regime político brasileiro e muito menos a lógica do sistema e modelo econômico que fomenta e torna inevitável a corrupção.

Apesar das disputas envolvendo o PT de um lado e PSDB e PFL de outro, ambos estão comprometidos com uma saída conservadora para a crise. Nosso papel é lutar contra ambos e acumular forças para uma saída operária, popular e de esquerda.

Construir as lutas com unidade, democracia e sem vacilações

A única forma de impedir que tudo acabe em pizza é fomentando a mobilização popular.

No último período vimos movimentos importantes da classe trabalhadora e da juventude como a greve das universidades federais, a lutas das universidades estaduais paulistas, a importantíssima greve dos trabalhadores dos correios, mobilização de bancários, sem falar de lutas mais localizadas, mas com enorme potencial explosivo, como a luta pelo direito ao transporte em Salvador.

Junto com esses movimentos reivindicatórios tivemos a manifestação contra o governo de 17 de agosto em Brasília que superou e muito o Ato governista do dia anterior. Atos regionais como os de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro também tiveram sua importância.
Esses movimentos mostram o caminho a ser seguido, mas ainda há muito a percorrer. Existe muita indignação com o que ocorre, mas existe também muita confusão sobre o que fazer.

É preciso ligar as lutas específicas de cada setor com a crise política nacional. É preciso tomar iniciativas unitárias e inclusivas de convocação das lutas, evitando o divisionismo ao mesmo tempo em que não se deve vacilar na denúncia do governo e da oposição de direita.

A Assembléia Popular e da Esquerda deve ser um espaço para preparar essa luta. Junto com ela outras iniciativas que vão na mesma direção precisam ser apoiadas, como é o caso das atividades propostas pela Conlutas (Coordenação Nacional das Lutas).

Uma saída de esquerda para a crise

Está claro que esse Congresso não tem como cortar na própria carne ou julgar com legitimidade o governo federal. É preciso passar para as mãos do povo a decisão sobre se o governo e o Congresso tem legitimidade para terminar seus mandatos.

Por isso, defendemos um plebiscito organizado de forma democrática para que o povo decida pela revogação do mandato dos atuais parlamentares e do próprio presidente da República.

Devemos nos mobilizar também pela anulação imediata de todas as contra-reformas e medidas contrárias aos trabalhadores implementadas por meios ilícitos.

Esse é claramente o caso da reforma da previdência aprovada em 2003 e que retirou direitos dos trabalhadores beneficiando apenas uns poucos especuladores e magnatas.

O mesmo vale para as privatizações realizadas no governo FHC, como no caso das empresas de telecomunicações onde isso é mais do que evidente.

Ao mesmo tempo é preciso começar a construir uma alternativa política de esquerda. Os trabalhadores não podem ficar reféns do falso debate entre os neoliberais de estrelinha e os de tucano na lapela.

Essa alternativa política passa pelo fortalecimento e construção do PSOL com base num programa socialista como alternativa para a crise.

Mas, também é fundamental estabelecer instrumentos de luta unificada de amplos setores da esquerda, dos trabalhadores, da juventude e dos movimentos sociais.

Uma Frente social e política da esquerda e dos trabalhadores deve ser forjada para a luta política direta, para as mobilizações da classe, mas também para aproveitar qualquer espaço de luta institucional que surja, como as próximas eleições. 

* Fora todos os corruptos e corruptores! Tomar as ruas e impedir o acordão!

* Abaixo a política econômica e as reformas neoliberais do governo Lula!

* Plebiscito popular que aprove a revogação dos mandatos e antecipe as eleições!

* Anulação das reformas neoliberais e privatizações realizadas pelos governos e Congresso corruptos!

* Unir na luta a esquerda combativa e independente de patrões e governos!

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