Fora PM e Suely da USP
Desde o começo do ano a Universidade de São Paulo tem passado por um processo de acirramento das lutas reivindicatórias dos funcionários e dos estudantes.
Muitos dos acordos estabelecidos pela greve de 2007 simplesmente não foram cumpridos. A não perseguição aos grevistas, a construção de um novo bloco no CRUSP (moradia estudantil) e a garantia das condições para a ocorrência do V Congresso da USP são apenas alguns exemplos das exigências colocadas pela greve que não foram encaminhadas.
A maior universidade do país segue fielmente o projeto político neoliberal do governo Serra, que deliberadamente fecha as portas da universidade pública para os estudantes pobres e não garante permanência adequada para os poucos que conseguem burlar o filtro social do vestibular.
A situação dos funcionários não é diferente. Além do salário rebaixado e as más condições de trabalho, em dezembro do ano passado, o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) Claudionor Brandão foi demitido em plena gestão da direção do sindicato, configurando uma clara perseguição política.
No início desde ano os trabalhadores alavancaram um amplo processo de mobilização levando para todas as unidades as pautas reivindicatórias salariais e de exigência da readmissão do companheiro Brandão.
Após quase três meses de mobilizações e adesões de várias unidades às reivindicações levantadas, os funcionários iniciaram uma greve no dia 5 de maio.
Estimulados por esse processo, os estudantes intensificaram as discussões sobre suas próprias pautas de reivindicações, como a questão das verbas para educação e o novo projeto de ensino a distância de Serra, a UNIVESP (Universidade Virtual do Estado de São Paulo). Sob o pretexto de democratizar o acesso ao ensino superior, a UNIVESP faz com que a juventude pobre e trabalhadora receba um ensino de baixa qualidade, pela TV, enquanto a elite continua ocupando as salas de aula, laboratórios, etc.
A postura da reitora Suely Vilela e do CRUESP (Conselho de reitores das universidades estaduais paulistas) foi de rejeitar o diálogo. A demonstração mais clara disso foi o chamado por parte da reitora para que a Polícia Militar entrasse no campus do Butantã para impedir piquetes de funcionários na reitoria.
Mas, o tiro saiu pela culatra. A indignação diante da presença da PM dentro da universidade estimulou estudantes e professores a decidir por uma greve unificada de toda a comunidade universitária exigindo a retirada da polícia do campus.
O ponto alto do enfrentamento no dia 9 de junho. Nos momentos finais de uma manifestação pacífica de estudantes, professores e funcionários, a PM transformou a cidade universitária num campo de guerra.
Depois de avançar pelas avenidas principais do campus, expulsando do caminho à base de bombas de gás, tiros com bala de borracha e cassetetes, tudo aquilo que dá vida à universidade, ou seja, estudantes, professores, funcionários, o prédio da História e Geografia foi sitiado e bombardeado pela PM.
A repressão provocou uma resposta mais firme por parte da comunidade universitária. O movimento também passou a envolver de forma mais clara as demais universidades estaduais paulistas.
Se em um primeiro momento víamos grande parte dos estudantes apenas contrários à presença da polícia, agora observamos um aumento qualitativo no nível de discussão. Hoje se debate sobre qual é o real significativo da repressão ao movimento sindical, sobre a violência institucionalizada na universidade e na sociedade e de como estes dois fatores se articulam com o projeto educacional para conformar um modelo de sociedade excludente e repressor.
Quando escrevíamos este artigo, a greve na USP continuava em todos os setores, apesar da reitora ter sido obrigada a anunciar a retirada parcial da PM do campus.
As lutas travadas no interior da universidade, muitas vezes, foram tratadas como fatores descolados da luta de classes que se estabelece na sociedade em que vivemos. Já não podemos permitir que isso aconteça. A Universidade é mantida como dinheiro público, dinheiro do trabalhador, deve, portanto, dar uma resposta a eles e não servir a interesses de quem os explora.
Unifiquemos as causas dos trabalhadores e estudantes dentro e fora da universidade. Por uma universidade de qualidade para todos.
Fora PM da USP para sempre. Fora Reitora Suely Vilela. Por uma universidade democrática em suas estruturas e abrangências.