Combater as três pragas: Bolsonaro, a pandemia e a desigualdade social e racial!
Por todos os meios necessários – nas ruas, nas redes, nos locais de trabalho e moradia
O Brasil caminha aceleradamente em direção ao abismo. Somos vítimas de três pragas que afetam terrivelmente a vida dos trabalhadores e do povo brasileiro – a pandemia do novo coronavírus, a escalada autoritária e genocida do governo Bolsonaro e o dramático aprofundamento da crise econômica e social e das desigualdades que marcam o país, incluindo o racismo estrutural.
Para conter a catástrofe que já começa a nos envolver é preciso que puxemos o freio de emergência imediatamente. Isso significa antes de tudo, derrubar esse governo que escolheu provocar a morte de dezenas (podem ser centenas) de milhares em nome de seu projeto autoritário e à serviço dos grandes capitalistas.
Esse projeto genocida foi colocado a nu com a divulgação do vídeo da asquerosa reunião ministerial de 22 de abril. Eles apostam no caos e querem aproveitar a comoção e o choque causados pela pandemia para acelerar seus planos golpistas e sua política a serviço dos super-ricos.
Querem armar seus apoiadores de extrema-direita, intervir na polícia federal para beneficiar a família e amigos, “passar a boiada” modificando a legislação de proteção ambiental, quebrar conscientemente os pequenos negócios, retirar direitos dos trabalhadores do setor público em plena pandemia e por aí vai.
Mas, a melhor síntese da essência desse governo está na declaração da superintendente da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados), Solange Vieira. Segundo o Estadão (28/05), em reunião no ministério da saúde em meados de março ela disse, nada mais nada menos, que: “é bom que as mortes se concentrem entre os idosos. Isso vai melhorar nosso desempenho econômico, pois reduzirá nosso déficit previdenciário”.
É evidente que a queda de Bolsonaro é uma condição para o enfrentamento da pandemia. Cada dia a mais com Bolsonaro na presidência significa mais milhares de vidas perdidas e sofrimento para milhões de brasileiros.
Lutar para derrubar esse governo por todos os meios que sejam necessários é a tarefa central do movimento dos trabalhadores e de todos o povo brasileiro!
A praga do vírus
O Brasil já é o epicentro da pandemia do novo coronavírus no mundo e a curva de contaminação e mortes continua ascendente. Já temos em média uma morte a cada minuto por Covid-19 no país. O número oficial de mortes já ultrapassou a marca de 35 mil vidas perdidas e continuará crescendo nas próximas semanas.
O cenário é ainda mais terrível se levarmos em conta a enorme subnotificação. Um exemplo disso é o fato de que o número de mortes por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no país, registradas durante a pandemia, aumentou 20 vezes em relação ao ano passado (de 349 para 6994 mortes). É evidente que esse aumento de 1904% está relacionado à Covid-19.
Projeções sérias apontam que até agosto o número de mortos por Covid-19 pode chegar a 125 mil pessoas. Apesar disso, o ministério da saúde não joga nenhum papel de planejamento sério do combate à pandemia. Está entregue a militares que não tem nenhum compromisso ou conhecimento sobre a saúde pública e cuja principal habilidade é censurar dados e jogar as mazelas para debaixo do tapete.
Muitos dos governadores e prefeitos que se chocaram com a política irresponsável e genocida de Bolsonaro em relação à pandemia, agora capitulam vergonhosamente diante das pressões do poder econômico e iniciam uma reabertura da economia e flexibilização da quarentena em pleno pico da disseminação da doença. O resultado será trágico e eles também devem ser responsabilizados.
A praga da desigualdade
Em meio à pandemia, o Brasil está caminhando a passos largos para aquela que deve se tornar a pior crise econômica e social de sua história. Há previsões realistas que apontam uma queda que pode até ultrapassar os 10% do PIB.
Se levarmos em conta o primeiro trimestre apenas (que reflete apenas parcialmente os efeitos da pandemia e das medias de isolamento social), segundo o IBGE, houve uma perda de 4,9 milhões de postos de trabalho (uma queda de 5,2% na população ocupada em relação ao trimestre anterior). Sabemos que hoje a situação é muito pior e de difícil recuperação.
A pandemia foi um fator central na crise, mas não é sua causa fundamental. O Brasil nunca se recuperou plenamente da crise que vem desde 2015 principalmente. As políticas neoliberais do final do governo Dilma, de Temer e de Bolsonaro/Guedes só agravaram a situação, apesar de terem garantido lucros estratosféricos aos banqueiros e especuladores.
A crise econômica e as políticas do governo só agravam a já terrível desigualdade social estrutural no país. Essa desigualdade se reflete nos dados da própria pandemia e pioram o cenário da saúde pública. No Brasil, os grupos de risco para a doença são basicamente os pobres, especialmente a sua maioria composta por negros e negras.
São aqueles que não podem se prevenir como deveriam, que não tem moradia digna, saneamento básico, acesso à água limpa. Que não tem acesso à saúde pública e que sofrem com doenças pré-existentes relacionadas à pobreza. Aqueles que são obrigados a sair de casa todos os dias para obter o ganha pão de alguma forma, correndo todo tipo de riscos no transporte público, nas ruas, nos locais de trabalho etc.
Quem está morrendo no Brasil são principalmente os trabalhadores, incluindo aqueles dos serviços considerados essenciais, os pobres, periféricos e favelados e a população negra que é majoritária nesses setores. Estudos apontam que a Covid-19 mata 55% dos negros internados enquanto entre os brancos esse índice é de 38%.
Em apenas um mês, durante a pandemia, os 20 distritos mais pobres da cidade de São Paulo viram um crescimento de 228% das mortes por Covid-19, um número muito superior ao que aconteceu nos bairros ricos.
A pandemia e o isolamento social não serviram para conter o massacre da juventude negra nas periferias das grandes cidades, pelo contrário. No mês de abril, no estado do Rio de Janeiro, ocorreram 177 mortes em decorrência de intervenções da polícia e agentes públicos, 43% a mais do que no mesmo mês no ano passado. O cenário em outras regiões do país é semelhante.
Trata-se de uma política consciente de extermínio, pela fome, pelo vírus, pela repressão assassina e criminosa da polícia. Uma política de extermínio que afeta especialmente o povo negro.
A praga da extrema-direita bolsonarista
Se já temos uma morte por minuto como resultado da pandemia, temos também um presidente que conspira a cada segundo contra nossos direitos democráticos.
O novo cenário decorrente da pandemia e da crise econômica, obrigou Bolsonaro a antecipar e acelerar seus planos golpistas e autoritários originais. Ele sabe que as chances de reeleição são muito menores agora e que o golpe de força planejado para 2022 terá que ser feito já, enquanto ainda lhe resta alguma margem de manobra em meio ao caos político, social e sanitário.
A agressividade demonstrada pelo governo e suas hordas bolsonaristas no último período não representa propriamente uma demonstração de força. No fundo é o contrário. Bolsonaro fez a aposta no caos, espera que o caos crie condições para uma ofensiva autoritária real e trabalha conscientemente para isso.
Nesse momento, o governo está acuado e contra a parede. Sua postura aprofundou as divisões no seio da grande burguesia e das classes médias que antes o apoiavam sem maiores restrições. Ele perde popularidade numa escala significativa.
Ao mesmo tempo, sua radicalidade serve para coesionar sua base social mais comprometida com seu projeto de extrema-direita. Isso vale para setores da pequena-burguesia radicalizada pela direita e para setores populares submetidos à ação nefasta da parte mais reacionária de Igrejas evangélicas em muitas regiões.
Junto com essa minoria social bolsonarista estão parcelas significativas da base das forças armadas, das polícias militares e civis, das empresas privadas de segurança (um contingente de muitos milhares armados) e dos grupos paramilitares criminosos como é o caso das “milícias” do Rio de Janeiro e grupos semelhantes em outros estados. Essa base pode ser potencializada por grupos de cunho fascista já organizados ou organizando-se.
A posição da cúpula das Forças Armadas tem se mostrado a mais nefasta possível. Mesmo que tenham buscado conter a mão de Bolsonaro aqui ou ali, os generais no governo (e fora dele) têm sido cúmplices de toda essa política e podem vir a sustentar (direta ou indiretamente) aventuras e a escalada autoritária.
Apesar disso, é importante entender que a retórica agressiva de Bolsonaro serve fundamentalmente para dissuadir setores da própria burguesia e da direita mais tradicional, no Congresso, no Judiciário, nos governos estaduais, em relação a qualquer iniciativa que leve à perda de seu mandato. O recado que Bolsonaro quer dar é: se vierem com processo de impeachment ou cassação da chapa haverá muito mais conflito e tensão e vocês tem muito a perder.
Mas, essa postura que, no fundo, é defensiva, pode se transformar em ofensiva e resultar em uma aventura golpista mesmo no curto prazo se não encontrar oposição efetiva do outro lado.
A oposição burguesa e de direita ao governo (Globo, Folha, PSDB, DEM etc.) é sensível às ameaças de Bolsonaro. São essencialmente covardes e incapazes de travar essa luta contra o bolsonarismo até o fim. Estiveram juntos com Bolsonaro até ontem na implementação das contrarreformas neoliberais e no combate à esquerda e ao movimento dos trabalhadores. Temem uma radicalização.
A única possibilidade de que assumam uma postura mais firme contra Bolsonaro é diante de uma poderosa força social mobilizada de baixo para cima. O temor de que Bolsonaro provoque uma convulsão social e lutas de massas como o que aconteceu no Chile desde o final do ano passado pode levá-los a entregar os anéis na tentativa de preservar os dedos.
Ocupar as ruas com força e responsabilidade
Por isso, o centro da política da esquerda e dos movimentos da classe trabalhadora e do povo oprimido é a construção da luta de massas contra o governo e não os acordos e concessões com a direita tradicional que hoje se coloca na oposição ao bolsonarismo.
Ao invés de convidar Rodrigo Maia, FHC ou João Doria para o ato de 1º de maio, o papel das centrais sindicais, dos partidos e organizações com alguma base na classe trabalhadora é mobilizar suas próprias forças de forma independente. Somente com base nisso se poderá fazer ações pontuais junto com setores da oposição burguesa a Bolsonaro e superar sua letargia e covardia.
Para que a classe trabalhadora assuma o protagonismo da luta contra Bolsonaro e imponha nessa luta a demanda central de queda do governo, de “Fora Bolsonaro” (coisa que a oposição burguesa ainda não coloca de forma explícita), é preciso que nos preparemos para grandes mobilizações de massas e disputemos as ruas, com cuidado e prudência, desde já.
Está evidente que construir mobilizações de rua em pleno pico da pandemia não é fácil e não deixa de conter grandes riscos. Porém, essa já não é mais uma escolha, esse processo já está se dando.
O que estamos vendo desde o domingo, dia 31/05, é que as iniciativas de tomar as ruas acontecem e acontecerão cada vez mais independentemente inclusive da postura adotada pelas organizações majoritárias da classe trabalhadora e do povo oprimido.
O grande exemplo vem dos EUA, onde um grande movimento de massas explodiu nas ruas apesar da pandemia em torno do assassinato racista do homem negro George Floyd por um policial branco em Minneapolis. Como um rastilho de pólvora, essas manifestações de ruas ocuparam todo o país e se estenderam para várias partes do mundo. Temos visto mobilizações de massas em muitos países europeus e outras partes do mundo.
No Brasil, onde a opressão ao povo negro é tão ou mais grave do que nos EUA, o exemplo que veio do Norte levou milhares às ruas imediatamente. Mesmo em áreas tragicamente afetadas pela pandemia, como Manaus, Rio e São Paulo, as mobilizações aconteceram. A tendência é que se ampliem e se fortaleçam.
A tarefa central dos movimentos da classe trabalhadora e dos setores oprimidos do nosso povo é se somar a essas mobilizações e buscar oferecer a elas uma estratégia consequente de luta, um programa coerente construído de baixo para cima e que leve em consideração as lições das lutas passadas.
Deve buscar construir também mecanismos unitários e democráticos de organização da luta, que será longa, difícil, mas que pode ser plenamente vitoriosa. A construção de uma frente de luta dos trabalhadores, uma frente única de classe para combater Bolsonaro, a pandemia e a desigualdade social, é uma tarefa fundamental.
Essa frente de luta dos trabalhadores deve se dar através da articulação das organizações já existentes, mas deve também se organizar pela base democraticamente, com comitês de luta nos bairros, locais de trabalho e estudo, que podem reunir-se da forma como for possível, até mesmo virtualmente, até que se possa gradativamente voltar à ocupar os espaços físicos.
No interior dessa frente única de classe, a unidade na luta não deve impedir que a esquerda socialista (PSOL e outros setores) se articule como tal e apresente um projeto anticapitalista e socialista em contraposição às políticas de conciliação de classes de muitos setores das direções do movimento sindical, popular e da própria esquerda.
As manifestações de 7 de junho representarão um passo adiante significativo nessa luta. Ocupar as ruas com responsabilidade, com cuidados de saúde e segurança, é parte vital do combate a Bolsonaro. E derrubar esse governo é parte fundamenta da luta contra a pandemia.
É fundamental que demonstremos superioridade nas ruas em relação às manifestações de cunho protofascista da extrema-direita bolsonarista. É decisivo também que os trabalhadores e oprimidos marquem sua posição independente de classe nessa luta e não permaneçam a reboque da oposição burguesa a Bolsonaro. Essa é a única chance de vitória que temos e a única possibilidade de que a derruba de Bolsonaro abra uma nova etapa que leve à derrota do conjunto das políticas neoliberais.
É muito importante que tomemos todos os cuidados sanitários necessários, que preservemos todos os setores mais vulneráveis diante da pandemia e que também tomemos todas as precauções contra agentes provocadores da polícia ou da extrema-direita nas manifestações. O combate às pragas da pandemia, do bolsonarismo e da desigualdade só pode se dar de forma conjunta. A retomada progressiva das ruas é parte fundamental dessa luta e está apenas começando. Somos parte desse processo e como tal levantaremos nossas bandeiras: Fora Bolsonaro, Mourão e sua agenda autoritária e neoliberal! Por uma alternativa dos trabalhadores e do povo pobre para salvar vidas, sair da crise e reconstruir o país sobre bases anticapitalistas e socialistas!