Justiça para George Floyd – nenhuma confiança no prefeito Frey ou no FBI do Trump
George Floyd morreu sufocado com o joelho de um policial de Minneapolis no pescoço no dia 25 de maio de 2020. O vídeo do assassinato de Floyd, divulgado pelo Washington Post, mostra claramente que a polícia mentiu sobre a resistência de Floyd à prisão. Assassinado como alguém que “parecia um suspeito”, os eventos em torno da morte de George Floyd expõem a brutalidade desproporcional e mortal da polícia.
A polícia prendeu Floyd agressivamente com base em uma denúncia de que alguém na área tentou usar uma nota falsa de 20 dólares. Além da ideia básica de que o assassinato é uma resposta horrível e injusta à mera acusação de um crime de pobreza, o assassinato de Floyd é uma prévia arrepiante da resposta do estado durante uma crise econômica profunda que resultou em quase 40 milhões de pessoas sem emprego. Floyd foi filmado em vídeo repetidamente dizendo “não consigo respirar”, o que lembra tragicamente Eric Garner, que foi assassinado pela polícia em 2014. Sua morte desencadeou dias de ação em massa durante o auge do movimento “Black Lives Matter”.
Em poucas horas, uma raiva profunda irrompeu em protesto e vários milhares de pessoas marcharam até a Terceira Delegacia. Apoiados e atendidos pela comunidade em geral, com placas de solidariedade penduradas nas portas e varanda das casas ao longo da rota da marcha. O protesto foi recebido com gás lacrimogêneo, cassetete, balas de borracha e bombas de efeito moral.
Para conseguirmos #JusticeforGeorgeFloyd (#JustiçaporGeorgeFloyd), não podemos confiar no mesmo establishment político que nos trouxe até aqui. Devemos deixar claro que estes protestos são a forma mais viável para obter #JusticeforGeorgeFloyd e chamar a atenção para a realidade contínua da brutalidade policial. Devemos expandir a luta para realizar mobilizações mais amplas em dias coordenados de ação em massa que envolvam a juventude, a comunidade negra e a classe trabalhadora em geral. Há o risco de que os protestos contínuos sem uma estrutura sustentada e coordenada possam perder força. Um movimento de massa bem organizado pode começar a enfrentar o racismo estrutural e a desigualdade que envolve a violência policial, assumindo demandas por programas sociais, educação pública e moradia social permanentemente acessível.
Nenhuma confiança no prefeito Frey ou no FBI do Trump
A resposta do Departamento de Polícia de Minneapolis (MPD) a esses protestos contrasta fortemente com a forma como os protestos armados “libertem o estado” (protestos da extrema-direita contra medidas de isolamento social contra a Covid-19) foram tratados semanas antes. A resposta do MPD aumenta o risco dos justiceiros de direita se sentirem encorajados a aterrorizar os manifestantes, como a violência racista dos justiceiros contra a ocupação da quarta delegacia policial em 2015. O líder do sindicato policial do MPD, Bob Kroll, é um ardente apoiador de Trump que introduziu Trump em um comício em 2019, aumentando o risco de que o Trump e as forças de direita possam intervir.
Para enfrentar a repressão violenta do MPD ou a ameaça dos justiceiros de extrema-direita, organizações de massa como os sindicatos precisarão apoiar os protestos e usar seus recursos para organizar comitês de solidariedade para proteger os manifestantes. Em uma importante demonstração do potencial de solidariedade, os sindicatos de enfermeiras e professores de Minnesota e Minneapolis emitiram declarações condenando o assassinato de Floyd. Mais sindicatos deveriam fazer o mesmo.
Sob imensa pressão de um protesto público maciço e reconhecendo que as pessoas não têm confiança no MPD para investigar a si mesmo, o prefeito Jacob Frey rapidamente pressionou o Bureau de Assuntos Criminais de Minnesota e o FBI a liderar a investigação. Os políticos usam essa tática para conter os protestos que exigem o processo judicial imediato dos policiais envolvidos e para tirar dos trilhos movimentos que lutam por mudanças estruturais no policiamento.
Precisamos também deixar claro que a lei estadual e os órgãos federais não são amigos da classe trabalhadora, especialmente imigrantes e comunidades negras. O Bureau de Assuntos Criminais de Minnesota foi a organização que investigou o assassinato de Philando Castille, abrindo caminho para a absolvição do policial. Outros métodos como um grande júri raramente funcionam, e resultam que acusações por homicídios policiais cheguem aos tribunais menos de 2% das vezes.
Não devemos ter nenhuma confiança de que o FBI fará melhor. Operando sob a direção de Donald Trump, que rotineiramente toma o partido de policiais assassinos e forças de extrema direita, o FBI tem uma longa história de aterrorização de comunidades da classe trabalhadora, como seu programa de espionagem para armar ciladas para a juventude muçulmana local, repressão aos ativistas de direitos indígenas, e programas como o COINTELPRO, que tem como alvo violento os movimentos radicais negros.
Embora devamos lutar pela prisão e processo judicial imediatos dos agentes envolvidos no caso, precisamos de uma revisão de cima para baixo do MPD. O assassinato de George Floyd segue-se ao assassinato de Justine Damond em 2017, ao assassinato de Jamar Clark em 2015 e ao assassinato de Terrance Franklin em 2013, juntamente com muitos outros.
Os políticos já estão desviando de qualquer mudança estrutural. Por exemplo, a senadora estadunidense Amy Klobuchar, uma das principais opções de Joe Biden como vice-presidente, está pedindo uma investigação sobre os “indivíduos envolvidos”. Sua declaração negligencia a conhecida realidade de que poucos policiais em serviço são processados por seus crimes, e já aponta para longe das práticas brutais e racistas dentro do MPD em torno deste incidente.
Não temos confiança no prefeito Frey ou no FBI de Trump para conseguir justiça. Seu contínuo fracasso em expulsar policiais racistas e acabar com o preconceito racial arraigado na força policial mostra a necessidade urgente de uma investigação totalmente independente, eleita pela comunidade, com plenos poderes sobre o Departamento de Polícia de Minneapolis, incluindo o poder de intimar, contratar, demitir e rever prioridades orçamentárias. Esses poderes devem ser ampliados para um conselho de controle comunitário permanente e democraticamente eleito.
O sistema inteiro é culpado
A prefeitura tem feito o mínimo possível e somente sob pressão conjunta da comunidade. Apesar de muitos assassinatos policiais notórios, em vez de levar a um impulso para limpar a polícia, eles têm resistido aos apelos da comunidade por justiça. Mesmo a ala “progressista” da prefeitura falha em agir. Em 2018, os vereadores Alondra Cano e Andrea Jenkins, vice-presidente da Câmara Municipal, votaram com Lisa Goodman, Abdi Warsame e Linea Palmisano contra a expansão dos poderes da Câmara Municipal para ter um grau de supervisão sobre o Departamento de Polícia de Minneapolis. Eles se uniram ao Chefe de Polícia Medaria Arradondo, cuja nomeação como primeiro chefe negro foi vista como uma medida progressiva, e ao prefeito Jacob Frey, que “se opôs com firmeza” a qualquer supervisão adicional sobre o MPD.
Enquanto empresas como a Target estão fazendo vendas recordes durante a quarentena do coronavírus e empresas de Wall Street, como o US Bank, estão sediadas aqui, os democratas que dirigem Minneapolis presidem uma das cidades mais desiguais racial e economicamente do país. A prefeitura se opôs ferozmente ao salário mínimo de US$15/hora durante anos, finalmente, aprovando-o sob pressão de um movimento crescente, muitas vezes ecoando comentários da direita sobre trabalhadores, saláriose criadores de empregos.
Durante anos eles tentaram privatizar o que resta da moradia pública, preferindo um programa de incentivo a empreendimentos de luxo tentando gerar ilusões de benefícios para as pessoas da classe trabalhadora. Há um ano, cinco pessoas foram mortas em um incêndio em um prédio alto que poderia ter sido evitado se os códigos de construção da cidade exigissem que o proprietário instalasse um sistema de sprinkler. Sob o capitalismo, o Estado de Direito é usado como pretexto para a opressão dos trabalhadores e das comunidades marginalizadas, para depois desaparecer quando se trata de fraudes empresariais em massa por parte da classe bilionária.
Podemos construir uma alternativa. Contraste a abordagem fraca da Câmara Municipal de Minneapolis com Kshama Sawant, membro da Alternativa Socialista que foi eleita para a Câmara Municipal de Seattle por três vezes. Ela tem sido uma voz tão consistente a favor da classe trabalhadora que empresas como a Amazon gastaram US$ 1,5 milhão para tentar derrotar sua campanha pela reeleição no ano passado, como vingança por seus esforços para construir um movimento que pode ganhar um “Imposto Amazon” sobre grandes empresas e seus bilhões de lucros.
Kshama Sawant também é uma voz consistente contra a brutalidade policial, lutando contra a continuação da militarização da polícia de Seattle e, sozinha, como o único voto “não” na Câmara Municipal contra um projeto policial que reduziu as medidas básicas de responsabilização. Isso enfureceu o establishment do Partido Democrata e a liderança sindical de direita da polícia, que fez campanha ao lado dos grandes negócios para derrotá-la. Imagine o que poderíamos fazer em tempos como este com até mesmo um representante eleito em Minneapolis, que via seu papel como fundamentalmente responsável perante os movimentos de justiça social e não a velha política!
Devemos partir todos para a construção dos protestos que visam conquistar a justiça para George Floyd.
A Alternativa Socialista defende:
- Processar a polícia – prender e acusar imediatamente os quatro agentes envolvidos no assassinato de George Floyd;
- #JusticeforGeorgeFloyd – protestos coordenados em massa e dias de ação que envolvam jovens e pessoas da classe trabalhadora, especialmente pessoas negras, no planejamento e mobilização.
- Nenhuma confiança no prefeito Frey ou no FBI de Trump – lançamento de uma reestruturação do MPD conduzida pela comunidade eleita com poder de decisão, incluindo contratação, demissão, revisão de prioridades orçamentárias e poder de intimação.
- Pobreza é violência estatal – a violência policial é parte integrante do sistema capitalista, que se apoia no racismo estrutural e na desigualdade. Taxar os ricos para investir em empregos sustentáveis, programas sociais, educação pública e moradia social permanentemente acessível.Todo o sistema é culpado – como disse Malcolm X: “Não se pode ter capitalismo sem racismo”. Para ter vitórias e mudanças duradouras, a luta contra o racismo policial e o establishment político empresarial deve ser expandida para uma luta contra o próprio sistema capitalista.