É assim que Lula defende os trabalhadores?
Enquanto os patrões recebem dinheiro público, os trabalhadores recebem um pé no traseiro!
Basta! É preciso unir as lutas num grande movimento de massas em defesa do emprego, do salário e dos direitos, contra os governos e os patrões!
A perda de mais de 800 mil postos de trabalho com carteira assinada no Brasil em menos de três meses é a demonstração mais clara de como os capitalistas não perdem tempo quando se trata de jogar sobre as costas dos trabalhadores o peso da crise do seu próprio sistema.
Onde as demissões ainda não ocorreram, eles se valem da chantagem da exigência de redução de salários e direitos dos trabalhadores como suposta condição para manter o emprego. Abarrotaram os bolsos ontem, continuam levando vantagem hoje! E nós, aceitaremos isso calados?
A ficha ainda não caiu para todos
Muitos trabalhadores esperam que a crise dure pouco. Muitos ainda se lembram das promessas de prosperidade de Lula e relutam em aceitar que o futuro será muito pior do que o governo prometia. Mas, essas ilusões não durarão para sempre.
Embora a crise já existisse debaixo da superfície há muito tempo, no Brasil e lá fora também, a mudança no cenário visível foi muito repentina e se deu apenas no final do ano passado. Mas, o fundo do poço ainda está muito longe.
A ficha ainda não caiu completamente para todo mundo. Ainda por cima, o governo joga com dados estatísticos, demonstra otimismo fazendo piada em rede nacional e, quando necessário, finge estar bravo com os empresários e tenta enrolar a todos nós.
A compreensão generalizada sobre a gravidade da crise, a responsabilidade dos governos e a necessidade de uma luta dura, só será alcançada com a experiência concreta de milhões neste novo cenário. Mas, para isso, também será decisiva a ação efetiva da esquerda socialista organizada nos movimentos sociais, sindicatos, movimento estudantil, etc.
Governo se recusa a impedir demissões
O governo tenta passar a idéia de que está ao lado dos trabalhadores diante das demissões massivas na EMBRAER, Vale do Rio Doce, GM, etc.
Porém, ao receber em seu gabinete o presidente da EMBRAER, Lula limitou-se a pedir que ele desse algum benefício a mais aos 4,2 mil demitidos da empresa. Nem mesmo falou sobre reversão das demissões. Nem passou por sua cabeça promover algum tipo de intervenção do governo sobre a empresa. Isso apesar da EMBRAER ser uma empresa que já foi estatal e acabou privatizada a preço de banana e que atua num ramo estratégico para o país. A situação fica ainda mais grave quando vemos que o governo, através do BNDES, tem acento no Conselho Administrativo da empresa e poderia interceder contra as demissões.
A EMBRAER já recebeu dos cofres públicos mais de 8 bilhões de dólares desde que foi privatizada. Ao invés de dar dinheiro para que a empresa mantenha seus lucros e continue demitindo os trabalhadores, o governo deveria reestatizar a empresa.
Uma EMBRAER estatal e controlada por seus próprios trabalhadores vinculados a um plano de produção global dos trabalhadores poderia usar o dinheiro público para aquilo que realmente interessa, para atender à maioria da população e não um punhado de capitalistas.
Lula governa para o grande capital
Algumas medidas adotadas por Lula, visando supostamente amenizar o impacto brutal da crise, só deixam cada vez mais claro que esse governo serve aos de cima enquanto faz jogo de cena para os de baixo.
O aumento de mais dois meses nas parcelas do seguro-desemprego, por exemplo, só vai valer para alguns trabalhadores, aqueles dos setores que o governo considera mais afetados pela crise. Por que não para todos? Como se pode discriminar de forma tão escancarada uma parcela dos trabalhadores? Além disso, por que apenas mais dois meses, se está ficando cada vez mais evidente que a crise será prolongada?
Na agenda de Lula, a prioridade é salvar o grande capital em meio à crise. É por isso que o governo, mesmo com a queda na arrecadação, vai garantir o pagamento da dívida pública com banqueiros e especuladores, além de já ter garantido o repasse de 160 bilhões de reais para bancos em dificuldade.
Ao mesmo tempo, o governo ameaça não reajustar os salários do funcionalismo público como tinha se comprometido em 2008. Para os banqueiros tudo, para os trabalhadores, apertar o cinto e esperar a turbulência passar! É por isso que Lula aceita as demissões em massa.
Incertezas diante de 2009 e 2010
Porém, Lula também tem diante de si um cenário incerto para as eleições gerais de 2010. Serão as primeiras eleições presidenciais desde o fim do regime militar sem que o próprio Lula seja candidato a presidente. Qual a garantia de que poderá transferir apoio a Dilma Rousseff ou a qualquer outro? Além disso, as eleições deverão acontecer em meio a mais importante crise em décadas.
Diante do cenário eleitoral, a retórica sobre estímulo ao mercado interno e o uso de instrumentos como o PAC para que o Estado apóie a recuperação econômica deve manter-se. Mas, as possibilidades reais disso se concretizar são pequenas.
A bolha do crédito para o consumo interno, que permitiu certo crescimento nos últimos anos, está murchando. Houve crescimento da inadimplência tanto das empresas quanto das pessoas físicas. Apesar dos apelos de Lula para que se continue consumindo o máximo possível, muitos já não conseguem mais pagar o financiamento do carro e de outros bens.
Quanto ao PAC, além do fato do programa ter sido concebido a partir de uma lógica privatizante (parcerias público privadas, por exemplo), antiecológica e a serviço do grande capital, o nível dos investimentos planejados está seriamente ameaçado pela crise econômica.
É claro que sem PAC, sem retomada do mercado interno e com crise profunda não há santo capaz de fazer Dilma decolar com facilidade. Nem mesmo a candidatura Serra, hoje à frente nas pesquisas, enfrentará um cenário tranqüilo. Afinal, o que tem o PSDB a oferecer nesse cenário de crise?
Uma alternativa de esquerda
A luta dos trabalhadores contra as demissões começa no chão de fábrica e nos locais de trabalho. É preciso construir um trabalho de base capaz de fincar raízes sólidas para resistir ao furacão da crise e dos ataques.
Porém, se essa luta não assumir uma dimensão mais ampla, tanto no sentido da unificação das diferentes lutas num único movimento nacional, como também no sentido de levantar uma plataforma política global alternativa, os movimentos dificilmente serão vitoriosos.
É preciso desencadear uma escalada de ações unitárias, a cada etapa mais amplas e cada vez mais radicalizadas em suas ações e métodos de luta. Mas, esse movimento precisa se constituir sobre uma base política sólida. É preciso levantar um programa anticapitalista e socialista como alternativa global à crise.
Sobre a Conlutas recai uma grande responsabilidade para a organização dessa luta. O dia nacional de luta de 1º de abril deve ser um pontapé inicial desse movimento.
A formação de uma nova Central sindical e popular reunindo os setores mais combativos dos movimentos sociais deve ser uma meta claramente estabelecida. Assim, o pólo de esquerda combativo do movimento sindical e popular terá mais força para incidir sobre a base de massas que ainda se encontra sob a direção das centrais sindicais governistas.
Mas, diante da necessidade de uma alternativa política socialista de massas para os trabalhadores, o papel do PSOL não pode ser esquecido.
O PSOL nasceu, depois da perda definitiva do PT, exatamente para construir essa alternativa política junto com os movimentos sociais e organizações dos trabalhadores, da juventude e de todos os oprimidos. Mas, em que pese o esforço de uma parte ativa da militância, infelizmente o partido não está se colocando à altura do momento histórico que vivemos.
O PSOL deveria ser a voz forte e clara da alternativa socialista em todo o país em meio às incertezas, à confusão e à dúvida que marcam esses momentos iniciais da crise no Brasil. Mas, a direção majoritária quer transformar o PSOL num mero instrumento de luta institucional, uma alternativa dentro da ordem.
Imaginem o impacto que seria utilizar o apoio a Heloísa Helena, que vai de 14 a 27% nas pesquisas dependendo do cenário dos demais candidatos, para fazer um chamado à luta unitária de todos os trabalhadores e levantar um claro programa socialista.
É preciso lutar para agrupar a esquerda socialista conseqüente e mudar os rumos do partido no II Congresso do PSOL a se realizar em agosto. Essa luta começa já e não se limita aos corredores das sedes do partido. Ela se dá nas ruas, nos locais de trabalho e de estudo, na cidade e no campo.
- Nenhuma demissão! Que cortem os lucros e não os empregos!
- Redução da jornada de trabalho sem redução de salário!
- Estatização com controle dos trabalhadores das empresas que demitirem!
- Não aos cortes nos gastos sociais, educação, saúde e salário do funcionalismo!
- Por um Plano econômico alternativo dos trabalhadores baseado na suspensão do pagamento da dívida pública aos grandes capitalistas e estatização dos bancos e dos principais setores da economia com controle democrático dos trabalhadores.