Coronavírus: lavar as mãos?
A nota ao lado foi produzida pela ASI na China, seção irmã da LSR. Aqui no Brasil, no momento em que escrevemos esse artigo (06 de março de 2020), ainda são poucos os casos confirmados de pessoas contaminadas pelo vírus COVID-19 e os casos suspeitos ainda não chegaram aos mil.
A população vem sendo bombardeada pelo assunto na TV, nos jornais, na internet. Alguns locais de trabalho já orientam quem chegou de viagem da Itália ou outro país em que a situação está mais grave a ficarem em casa. Ao mesmo tempo, constantemente falam que não é preciso se desesperar, que não se pode ser alarmista.
Isso está correto: a prevenção e a responsabilidade da população hoje é basicamente a mesma para evitar a disseminação de doenças contagiantes: higienizar as mãos com frequência e, em caso de sintomas de gripe, proteger as pessoas ao seu redor utilizando-se de máscaras e evitar lugares públicos. Com esses cuidados, não só o coronavírus, mas H1N1 e outras gripes podem ser controladas.
Negligência dos governos com a saúde
Quando se trata dos governos, no entanto, a solução de lavar as mãos para essa e outras epidemias é inadmissível. O índice de mortalidade pelo COVID-19 é muito baixo em comparação com outras doenças. No entanto, ainda se desconhece o comportamento do vírus e é uma preocupação a facilidade de contágio, visível no crescimento exponencial de casos.
Na contramão das medidas do governo Bolsonaro de tirar recursos para pesquisa e educação no Brasil, uma equipe protagonizada por duas mulheres conseguiu rapidamente sequenciar o vírus, o que ajudará a produzir a vacina, bem como ajuda a rápida identificação do vírus.
No entanto, é preciso mais. Nos aeroportos, apenas se orienta que as pessoas que chegam de viagem devem ir ao médico se apresentarem algum sintoma.
É preciso instalar postos para a realização de testes rápidos das pessoas que chegam no país. Isso evitaria circulação do vírus por aqui, tratando apenas de casos de pessoas que foram contaminadas em outros países. Se a situação se tornar endêmica no Brasil, quem sairá mais afetado serão as pessoas mais pobres, mais vulneráveis por não ter acesso ao atendimento e tratamento devido.
O risco de mais uma nova epidemia no país chama a atenção para a forma como o governo tem gerido a saúde pública , mas também nas áreas de saneamento básico, moradia e assistência social, por exemplo. Isso faz com que doenças persistam com caráter endêmico, quando poderiam ser praticamente eliminadas.
Pobreza e desigualdade: as epidemias mais graves
As chamadas doenças negligenciadas, causadas por parasitas ou agentes infecciosos, são uma realidade que atinge 16,2 milhões de brasileiros que se encontram na extrema pobreza. A PEC do Teto dos Gastos aprovada no governo Temer, que limita para os próximos 20 anos os gastos públicos com saúde, educação entre outros, é um escândalo e torna ainda mais grave a possibilidade do COVID-19 se alastrar por aqui.
Os acidentes e doenças do trabalho também são uma epidemia oculta no país. O Brasil é reconhecido como o 4° país no ranking mundial de acidentes de trabalho e ainda assim os dados estão abaixo da situação real. Não apenas isso, o caso dos professores revela como se trata de um problema sistêmico. Em São Paulo, são 62 afastamentos por dia de professores, sobretudo por questões de saúde mental, associadas ao cotidiano adoecedor das escolas hoje. Isso revela uma crise social que atinge aspectos da saúde, emprego, educação entre outros.
Enfrentar os interesses dos ricos
Não podemos deixar de mencionar a situação endêmica que é a violência contra as mulheres. O Brasil possui a quinta maior taxa de feminicídio do mundo. No entanto, os investimentos para políticas de proteção às mulheres sofreram muitos cortes a ponto de, neste ano, o governo federal zerar os repasses na pasta.
A verdade é que, no capitalismo, as mais diversas mazelas que assolam o povo não serão sanadas, pois para isso acontecer é preciso enfrentar os interesses dos ricos. Em 2019, os quatro maiores bancos no Brasil tiveram lucro de R$ 86,4 bilhões. Em meio à “crise” que justificou diversas medidas de austeridade para o povo, os bilionários seguem lucrando no Brasil e não pararam de obter crescimento no rendimento. Fica, assim, evidente que a única forma de barrar o coronavírus e outras epidemias é com trabalhadoras e trabalhadores assumindo controle da situação.
- Garantir um sistema público de saúde que permita o acesso à toda a população, com controle e gestão democráticos envolvendo usuários e profissionais da saúde.
- Revogação da PEC do Teto dos Gastos.
- Não pagamento da dívida pública aos grandes especuladores, junto com taxação dos lucros das grandes empresas e fortunas para garantir investimento massivo na saúde pública e em outras pastas.
- Contra a privatização da saúde, por um sistema com gestão e administração pública de qualidade para servir à população, não ao lucro privado. Pela defesa e melhoria do SUS!
- Investir em pesquisa nas universidades públicas, contra os cortes na educação e nas bolsas.
- Pela estatização da indústria farmacêutica, sobre controle e gestão dos trabalhadores.